Tal como aqui informamos, a partir de hoje, o CRESCER publicará diariamente um dos onze textos do 10ºA, publicados no jornal PÚBLICO.
Eu e a Petita
O relógio marca as seis da manhã. Mais um dia, mais
uma noite sem dormir. Os gritos estão a ficar cada vez piores fazendo com que
eu não durma há pelo menos cinco dias. Desde que a praga das ratazanas apareceu
que é assim. Quer dizer, de certa forma, sempre foi assim. A minha vida sempre
foi um pesadelo.desenho de Juliana Rocha, aluna de 11º ano, Ermesinde
A Terra, o planeta onde vivo, está a morrer e aqueles
que puderam já desertaram. Pelo que ouço dizer, colonizaram um planeta chamado Marte, há 22 anos e connosco deixaram a
destruição e o caos. Saíram com promessas de voltar para consertar os erros das gerações que os antecederam, mas, como o pai
dizia “longe da vista longe do coração”.
O pai nunca gostou deles, dizia que eram egoístas e
que não tentaram salvar a Terra enquanto ainda podiam, mas ele nasceu em 2068,
numa Terra já em extrema falência de recursos naturais, e, no fundo, ele sabia
que o ponto sem retorno já tinha sido atingido, décadas antes do seu
nascimento. A sua raiva era tanta que inconscientemente teve de culpar quem viu
deixá-lo na podridão.
O pai nunca experienciou a Terra como um lugar
saudável, só conheceu a imagem de um mundo com animais resplandecentes, plantas
vibrantes, areais extensos e céu luminoso através dos relatos e fotografias da
sua avó que, sendo bióloga, assistiu ao desenrolar do degredo na linha da
frente. “O ser humano tinha tudo e escolheu perder tudo”, contava-lhe. E
contou-me ele a mim.
Catarina Silva, 10º A
(post atualizado)
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