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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

ciência: investigação global de vírus também fala português

Partilham descobertas, reagentes e até DNA “partido em milhões de pedacinhos” para ‘caçar’ vírus a tempo de proteger a população. É um trabalho em rede para acelerar soluções. São portugueses e foram os primeiros a sequenciar o vírus da ‘monkeypox’.


“Se o meu laboratório identifica uma metodologia qualquer que pensamos que possa ser útil a outros laboratórios a nível mundial para detetar, caracterizar ou para sequenciar o genoma de algum microrganismo, nós partilhamos imediatamente, em canais de divulgação científica. É um trabalho em rede”, explicou à Lusa o investigador João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
É assim que se divulgam descobertas em bases de dados públicas internacionais e “ficam de acesso livre” para serem submetidas ao “escrutínio de toda a comunidade científica”. Até o Twitter serve para pedir comentários. A partilha, em vez da competição, foi “das poucas coisas boas que a pandemia” trouxe.
Porque o importante é identificar o mais depressa possível o agente – seja ele vírus, bactéria ou outro microrganismo –, perceber o seu comportamento e ajudar as autoridades de saúde pública a protegerem as populações, a ajustar vacinas, por exemplo.
Portugal participa em diversos projetos europeus com consórcios com França, Reino Unido, Espanha, Itália, Luxemburgo, Suécia e Dinamarca. O trabalho é dinâmico e em equipa: “Um país desenvolve determinada metodologia, outro país outra, juntamos tudo, fazemos reuniões periódicas e divulgamos isto cientificamente.”
Segundo contou à Lusa, Portugal contribui “não só na parte laboratorial, associada à nossa capacidade de sequenciação, mas também na parte de desenvolvimento de ‘software’ para permitir uma melhor análise das genómicas que são obtidas com esses equipamentos”.
O responsável do Núcleo de Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas do INSA conta que, nos últimos dois anos, Portugal, envolveu-se em meia dúzia de projetos europeus, todos eles na área “do desenvolvimento e otimização de metodologias para o combate a estes microrganismos - sobretudo vírus - que estão a emergir e com grande capacidade de disseminação”.
O espírito de partilha também se manifestou este ano, com o surto de ‘monkeypox’. “Conseguimos trabalhar de uma forma muito robusta e rápida, divulgando à comunidade cientifica não só que este [vírus] tinha o potencial para ser menos agressivo – pois normalmente está associado aos países africanos da bacia do Congo e este estava mais associado aos países da África Ocidental –, mas também que, afinal, tinha muito mais mutações do que aquilo que a comunidade científica poderia esperar”, conta João Paulo Gomes.
Resultado: Portugal foi o primeiro país a identificar a sequência genética do vírus e a partilhá-la. @ Sapo

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