Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

educação: "É preciso duplicar vagas na formação ou teremos uma hecatombe"

Segundo Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências), formam-se 1500 novos professores por ano. Mas, diz, seria necessário duplicar esse número para poder dar resposta às necessidades identificadas para os próximo anos. E, claro, valorizar a profissão.

Até ao ano letivo de 2030/2031, Portugal necessitará de mais 34 mil professores. Mas formam-se apenas 1500 por ano, o que significa que, em 10 anos, só se terão formado 15 mil novos docentes, um número muito aquém das necessidades. As contas são de Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa, que deixa claro o "défice gigantesco que temos de resolver em oito anos". "Seria necessário, pelo menos, duplicar as vagas que temos em cursos de docência ou teremos uma hecatombe na educação. Se falamos que, neste momento, há cerca de 60 mil alunos sem professor, em 2030/31 este número será astronómico. O sistema educativo estará inoperacional por falta de professores", sublinha.

O responsável diz não encontrar "razão nenhuma para que a tutela não possa duplicar as vagas no ensino superior público e privado para fazer face a esse problema". Para Rui Fonseca, sem duplicação de vagas e melhorias substanciais na carreira docente "iremos hipotecar as gerações futuras". "Em poucos anos, ficaremos como a França ou a Espanha, em que metade dos docentes não têm habilitações para dar aulas e onde já se recrutam professores estrangeiros, sabendo que a língua tem uma importância fulcral na área da educação", alerta.

O diretor do ISEC alerta ainda que a duplicação de vagas, por si só, não resolverá o problema. "Essa medida não surtirá efeito se não houver uma valorização da carreira docente. A melhor solução é investir na formação, é abrir mais vagas e, ao mesmo tempo, valorizar a carreira docente, quer do ponto de vista salarial quer da imagem social do professor. Não interessa abrir vagas se, depois, não tornarmos a carreira atrativa", sustenta. Rui Fonseca pede ainda "outras medidas complementares", como "a criação de bolsas para professores deslocados e bolsas para financiar mestrados de via ensino para os licenciados que querem formar-se na docência, mas não têm condições para pagar mais um ciclo de estudos - o que permitiria, a curto prazo, ter parte do problema resolvido".

"Existem vários instrumentos dos quais o Estado pode fazer-se valer para encontrar uma solução de fundo. Não podemos resolver o problema ao sabor dos ciclos eleitorais ou das ideologias. Já se fizeram demasiadas experiências na Educação e está na altura de perceber o problema e pensar as soluções para muitos anos", afirma. O diretor do ISEC salienta a necessidade de "soluções concertadas para evitar o colapso do sistema educativo, "à semelhança do que está a acontecer na área da saúde com 

"É preciso vontade política"

Segundo Rui Fonseca, sem "vontade política" para resolver a questão da escassez de professores, o problema vai "arrastar-se"" até à "falência total do sistema". "Com a duplicação de vagas e a valorização da carreira docente, não chegaríamos aos 34 mil professores de que o sistema vai precisar daqui a 10 anos, mas estaríamos nos 28 mil. Para chegar a esse número, é preciso vontade política e um orçamento de Estado que invista a sério na Educação. Os sucessivos governos têm empurrado com a barriga o problema que já bateu à porta há muito tempo", conclui.

Segundo o diretor do ISEC, entre todas as medidas que são necessárias na área da Educação, é preciso também "mudar a imagem degradada da profissão docente". "Houve, ao longo dos anos, uma desvalorização não só pela via salarial, mas também por outros enquadramentos. O professor aparece muitas vezes nas notícias em imagens negativas e o público acaba por ter só contacto com acontecimentos problemáticos. São menores as notícias a exaltar a profissão de professor e isto afasta os jovens da vontade de ingressar na carreira", conta. Maternidades que fecham por falta de profissionais".

Novo despacho das habilitações para a docência "é um risco"

O mais recente despacho das habilitações para a docência, que permite que pessoas dotadas com licenciaturas com um determinado número de créditos feitos no Ensino Superior possam dar aulas, é também alvo de críticas por parte de Rui Fonseca. "É, mais uma vez, empurrar para o futuro o problema e criar um risco muito grande. Estes professores podem ter conhecimento científico, mas não têm conhecimento pedagógico. Não sabem, por exemplo, como gerir uma sala de aula. Estas alterações vêm, apenas, agudizar um problema em vez de o resolver", afirma. Rui Fonseca acredita que professores sem preparação pedagógica podem "ficar perdidos" e serão "os estudantes os maiores prejudicados". @ DN

Sem comentários: