Segundo Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências), formam-se 1500 novos professores por ano. Mas, diz, seria necessário duplicar esse número para poder dar resposta às necessidades identificadas para os próximo anos. E, claro, valorizar a profissão.
Até ao ano letivo de 2030/2031, Portugal necessitará de mais 34 mil
professores. Mas formam-se apenas 1500 por ano, o que significa que, em 10
anos, só se terão formado 15 mil novos docentes, um número muito aquém das
necessidades. As contas são de Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e
Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa, que deixa claro o "défice
gigantesco que temos de resolver em oito anos". "Seria
necessário, pelo menos, duplicar as vagas que temos em cursos de docência ou
teremos uma hecatombe na educação. Se falamos que, neste momento, há
cerca de 60 mil alunos sem professor, em 2030/31 este número será astronómico.
O sistema educativo estará inoperacional por falta de professores",
sublinha.
O responsável diz não encontrar "razão nenhuma para que a tutela não
possa duplicar as vagas no ensino superior público e privado para fazer face a
esse problema". Para Rui Fonseca, sem duplicação de vagas e melhorias
substanciais na carreira docente "iremos hipotecar as gerações
futuras". "Em poucos anos, ficaremos como a França ou a
Espanha, em que metade dos docentes não têm habilitações para dar aulas e onde
já se recrutam professores estrangeiros, sabendo que a língua tem uma
importância fulcral na área da educação", alerta.
O diretor do ISEC alerta ainda que a duplicação de vagas, por si só, não
resolverá o problema. "Essa medida não surtirá efeito se não houver uma
valorização da carreira docente. A melhor solução é investir na formação, é
abrir mais vagas e, ao mesmo tempo, valorizar a carreira docente, quer do ponto
de vista salarial quer da imagem social do professor. Não interessa abrir
vagas se, depois, não tornarmos a carreira atrativa", sustenta. Rui
Fonseca pede ainda "outras medidas complementares", como "a
criação de bolsas para professores deslocados e bolsas para financiar mestrados
de via ensino para os licenciados que querem formar-se na docência, mas não têm
condições para pagar mais um ciclo de estudos - o que permitiria, a curto
prazo, ter parte do problema resolvido".
"Existem vários instrumentos dos quais o Estado pode fazer-se valer
para encontrar uma solução de fundo. Não podemos resolver o problema ao sabor
dos ciclos eleitorais ou das ideologias. Já se fizeram demasiadas experiências
na Educação e está na altura de perceber o problema e pensar as soluções para
muitos anos", afirma. O diretor do ISEC salienta a necessidade de
"soluções concertadas para evitar o colapso do sistema educativo, "à
semelhança do que está a acontecer na área da saúde com
"É preciso vontade política"
Segundo Rui Fonseca, sem "vontade política" para resolver a
questão da escassez de professores, o problema vai
"arrastar-se"" até à "falência total do sistema".
"Com a duplicação de vagas e a valorização da carreira docente, não
chegaríamos aos 34 mil professores de que o sistema vai precisar daqui a 10
anos, mas estaríamos nos 28 mil. Para chegar a esse número, é preciso
vontade política e um orçamento de Estado que invista a sério na Educação. Os
sucessivos governos têm empurrado com a barriga o problema que já bateu à porta
há muito tempo", conclui.
Segundo o diretor do ISEC, entre
todas as medidas que são necessárias na área da Educação, é preciso também
"mudar a imagem degradada da profissão docente". "Houve, ao
longo dos anos, uma desvalorização não só pela via salarial, mas também por
outros enquadramentos. O professor aparece muitas vezes nas notícias em imagens
negativas e o público acaba por ter só contacto com acontecimentos
problemáticos. São menores as notícias a exaltar a profissão de professor e isto
afasta os jovens da vontade de ingressar na carreira", conta.
Maternidades que fecham por falta de profissionais".
Novo despacho das habilitações
para a docência "é um risco"
O mais recente despacho das habilitações para a docência, que permite que pessoas dotadas com licenciaturas com um determinado número de créditos feitos no Ensino Superior possam dar aulas, é também alvo de críticas por parte de Rui Fonseca. "É, mais uma vez, empurrar para o futuro o problema e criar um risco muito grande. Estes professores podem ter conhecimento científico, mas não têm conhecimento pedagógico. Não sabem, por exemplo, como gerir uma sala de aula. Estas alterações vêm, apenas, agudizar um problema em vez de o resolver", afirma. Rui Fonseca acredita que professores sem preparação pedagógica podem "ficar perdidos" e serão "os estudantes os maiores prejudicados". @ DN
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