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sexta-feira, 15 de março de 2024

saúde: infeção pela Covid-19 deixa marcas profundas no cérebro

A confusão mental tem sido, desde os primeiros dias da pandemia da Covid-19, um problema de saúde de difícil solução para os cientistas – este é um termo coloquial para descrever um estado de lentidão mental ou falta de clareza e nebulosidade que torna difícil a concentração, lembrar-se das coisas ou pensar com clareza. Diminuição do QI é significativa, aponta especialista,

Quatro anos volvidos da pandemia, há provas abundantes de que a infeção pelo SARS-CoV-2 pode afetar o cérebro de várias formas, indicou Ziyad Al-Aly, especialista da Universidade Washington, em St. Louis, nos Estados Unidos. No entanto, apesar de um grande e crescente conjunto de dados, ainda está por se perceber as vias específicas pelas quais o vírus o faz, sendo que os tratamentos curativos são inexistentes.

Dois novos estudos, publicados no ‘New England Journal of Medicine’, trouxeram outra luz sobre o impacto profundo da Covid-19 na saúde cognitiva. Saiba alguns dos estudos mais importantes até ao momento que aferiram como a Covid-19 afetou a saúde do cérebro:

– grandes análises epidemiológicas mostraram que as pessoas infetadas corriam um risco aumentado de déficits cognitivos, como problemas de memória;
– estudos de imagem realizados em pessoas antes e depois das infeções pela Covid-19 mostraram redução do volume cerebral e alteração da estrutura cerebral após a infeção;
– um estudo com pessoas com a Covid-19 leve e moderada mostrou inflamação prolongada significativa do cérebro e alterações proporcionais a sete anos de envelhecimento cerebral;
– a Covid-19 grave que requer hospitalização ou cuidados intensivos pode resultar em défices cognitivos e outros danos cerebrais equivalentes a 20 anos de envelhecimento;
– experiências de laboratório em organoides cerebrais humanos e de ratos projetados para emular mudanças no cérebro humano mostraram que a infeção pela SARS-CoV-2 desencadeia a fusão de células cerebrais, o que efetivamente provoca um ‘curto-circuito’ na atividade elétrica cerebral e compromete a função;
– estudos de autópsia de pessoas que tiveram a Covid-19 grave, mas morreram meses depois por outras causas, mostraram que o vírus ainda estava presente no tecido cerebral, o que indica que o SARS-CoV-2 não é apenas um vírus respiratório, mas também pode entrar no cérebro de alguns indivíduos;
– mesmo quando o vírus é ligeiro e está confinado exclusivamente aos pulmões, estudos mostram que pode provocar inflamação no cérebro e prejudicar a capacidade de regeneração das células cerebrais;
– a Covid-19 também pode perturbar a barreira hematoencefálica, o escudo que protege o sistema nervoso, tornando-a “permeável”;
– uma grande análise preliminar que reuniu dados de 11 estudos abrangendo quase 1 milhão de pessoas com a Covid-19 e mais de 6 milhões de indivíduos não infetados mostrou que aumentou o risco de desenvolvimento de demência de início recente em pessoas com mais de 60 anos.

Mais recentemente, um novo estudo publicado no ‘New England Journal of Medicine’ avaliou capacidades cognitivas como memória, planeamento e raciocínio espacial em quase 113 mil pessoas que já tinham sido infetadas. Os investigadores descobriram que aqueles que foram infetados apresentavam déficits significativos de memória e desempenho de tarefas executivas.

Este declínio foi evidente entre os infetados na fase inicial da pandemia e entre os infetados quando as variantes Delta e Ómicron eram dominantes. Estas descobertas mostram que o risco de declínio cognitivo não diminuiu à medida que o vírus pandémico evoluiu da estirpe ancestral.

No mesmo estudo, aqueles que tiveram a Covid-19 leve e resolvido apresentaram declínio cognitivo equivalente a uma perda de QI de três pontos. Em comparação, aqueles com sintomas persistentes não resolvidos, como pessoas com falta de ar persistente ou fadiga, tiveram uma perda de 6 pontos no QI. Aqueles que foram internados na unidade de terapia intensiva tiveram uma perda de 9 pontos no QI. A reinfeção com o vírus contribuiu para uma perda adicional de 2 pontos no QI, em comparação com a ausência de reinfeção.

Normalmente, o QI médio é de cerca de 100. Um QI acima de 130 indica um indivíduo altamente dotado, enquanto um QI abaixo de 70 geralmente indica um nível de deficiência intelectual que pode exigir apoio social significativo.

Para colocar em perspetiva as conclusões do estudo do ‘New England Journal of Medicine’, o especialista, num artigo no portal ‘The Conversation’, estimou que uma redução de 3 pontos no QI aumentaria o número de adultos norte-americanos com um QI inferior a 70 de 4,7 milhões para 7,5 milhões – um aumento de 2,8. milhões de adultos com um nível de comprometimento cognitivo que requer apoio social significativo.
Dados da União Europeia mostraram que, em 2022, 15% das pessoas relataram problemas de memória e concentração.

Olhando para o futuro, será fundamental identificar quem está em maior risco. É também necessária uma melhor compreensão de como estas tendências podem afetar o sucesso educativo das crianças e dos jovens adultos e a produtividade económica dos adultos em idade ativa. E também não está claro até que ponto estas mudanças irão influenciar a epidemiologia da demência e da doença de Alzheimer.

O crescente conjunto de pesquisas confirmou agora que o SARS-CoV-2 deve ser considerado um vírus com um impacto significativo no cérebro. As implicações são de longo alcance, mas levantar a névoa sobre as verdadeiras causas por trás destas deficiências cognitivas, incluindo a confusão mental, exigirá anos, senão décadas, de esforços concertados por parte de investigadores em todo o mundo. Fonte: Sapo

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