Durante a madrugada, não tive
qualquer noção do que estava a acontecer. Foi apenas na manhã de 25 de abril
que comecei a sentir que algo impactante estava em curso. No entanto, devido à
falta de informação, o sentimento era um misto de esperança e de apreensão.
Com vinte anos de idade e a
residir no centro do Porto, testemunhei os acontecimentos desse dia de mudança.
Ao passar pelo Jardim de S. Lázaro, ouvi os tiros provenientes da esquadra da
P.S.P. local. Alguns desses projéteis ficaram marcados na parede da Biblioteca
Municipal do Porto durante bastante tempo.
Ao regressar a casa, os primeiros
comunicados do Movimento das Forças Armadas (M.F.A.) começaram a surgir na
rádio, revelando a tomada de consciência da intenção do movimento e das
implicações da mudança em curso. Foi uma explosão de emoções: a esperança da
restauração da liberdade, a implantação de uma democracia, eleições livres, o
fim da P.I.D.E., o fim da guerra colonial, o fim da repressão, o fim da
censura, o fim da perseguição política, e muito mais.
Lembro-me vividamente das imagens
transmitidas pela televisão do Largo do Carmo, em Lisboa, onde o Capitão
Salgueiro Maia exigiu a rendição do fascista Marcelo Caetano. Esses momentos
foram um símbolo da viragem histórica que estava a ocorrer em Portugal.
Naquela altura, já havia
terminado o antigo 7.º ano do Liceu [atual 11.° ano] e solicitado o adiamento
do serviço militar obrigatório, pois tinha a intenção de ingressar no Instituto
Nacional de Educação Física. Com a iminência da minha chamada para a Guerra
Colonial, ponderava a possibilidade de deixar Portugal. Assim, a alegria pela
mudança iminente foi ainda maior.
O 25 de abril de 1974 foi um
marco na minha vida e na história do país, representando não apenas o fim de um
regime opressivo, mas também o início de uma nova era de liberdade e de
esperança.
Humberto Nogueira (professor de Educação Física, atualmente aposentado)
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