Na altura, andava no turno da tarde e os amigos mais velhos, que vieram para casa, passaram a palavra de que não podíamos ir para a escola. Estava a haver uma revolução e os militares saíram para a rua, adivinhando-se confrontos armados com as forças do governo.
Com a Escola Prática de Transmissões localizada próximo de Arca D’Água (Praça 9 de Abril, Paranhos, Porto), lembro-me de ficar aflito e chegar mesmo a choramingar com medo e preocupação, pois, a minha mãe estava a trabalhar no hospital de S. João e os meus avós paternos viviam junto do popular jardim.
Assim, tanto o local de trabalho da minha mãe como a casa dos avós estavam, na minha cabeça, em risco.
Bem, na altura apenas sabia que havia um quartel muito próximo e os militares estavam a revoltar-se e podia haver mortes! Para um miúdo de 8 anos que ouvia falar frequentemente na guerra do ultramar, o boato era por si aflitivo.
Não saber se a minha mãe e os meus avós estavam bem foi preocupante! Não tínhamos telefone e, para mim, era muito longe! Assim, enquanto criança, a quem quebraram a rotina da ida para a escola, fui apanhado de surpresa e sem acesso a informação clara.
Quanto à revolução, na altura, pouco ou nada me disseram, a nebulosa era imensa. O que se sabia vinha, por um lado, pelos vizinhos que iam chegando a casa e, por outro, pela rádio, pois em minha casa a televisão veio mais tarde e na vizinhança também não existia nenhuma.
A chegada da minha mãe foi recebida como o porto de abrigo e, gradualmente, fui sabendo o que se passava. Mas não foi na escola, nesta existia silêncio!
Assim, para mim o 25 de Abril foi: "os militares estão revoltados, saíram dos quartéis e existia um confronto com as forças do poder, logo, na minha cabeça, mortes."
José Carlos Costa (professor de Geografia)
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