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quarta-feira, 20 de março de 2024

escola sede: o olhar dos alunos sobre o 25 de abril de 1974

O CRESCER quer saber o que os alunos sabem ou pensam sobre o 25 de abril de 1974 ou até se conhecem alguma história relacionada com esse período. Para tal, apela a que os seus professores partilhem connosco textos por eles produzidos. 

Aqui segue o primeiro. 

Há cerca de 91 anos atrás, Portugal entrou num dos períodos mais obscuros e difíceis da sua história. Durante os 41 anos que se seguiram, o povo português foi obrigado a viver sob a sombra pesada de um regime autoritário e opressivo, sob o olhar atento da censura, sob o impiedoso jugo da PIDE…

Quando eu era mais nova, a minha bisavó costumava contar-me histórias fascinantes acerca das suas experiências de vida, de tudo aquilo que ela presenciou ao longo dos anos. No entanto, quando se tratava de falar desses dolorosos 41 anos, sempre notei alguma hesitação e receio antigos que ainda ecoavam na sua memória. A minha bisavó, Rosa Loureiro, nascida em 1930, embora fosse uma mulher do povo, era bastante perspicaz e empreendedora, e surpreendentemente até sabia ler e escrever. Como a sua situação financeira não era muito favorável, ela começou a trabalhar muito cedo para poder, juntamente com o marido, que era o barbeiro oficial da polícia, ajudar a sustentar a sua filha.

Em 1965, pelas mãos do Destino, a D. Rosa foi trabalhar como “mulher de limpeza” nos escritórios da delegação da PIDE no Porto. Apesar de não ter acesso direto às celas ou às salas de interrogatório, por ser uma mulher, a sua presença era frequentemente ignorada ou até mesmo negligenciada, razão pela qual, ao longo dos anos, acabou por ver, ler e ouvir segredos e diversas informações confidenciais. De facto, descobriu nos arquivos extensas listas de obras literárias censuradas, especialmente da autoria de mulheres escritoras, aspeto que entendeu ser uma forma de impedir a diversidade literária no país e simultaneamente de menosprezar a condição feminina. Através de algumas conversas, tomou até conhecimento das atrocidades que eram cometidas contra a vida humana naquele lugar … a forma como a tortura, aliada ao tempo, quebrava física e psicologicamente os prisioneiros.

Num dia de chuva intensa, ao aperceber-se que o seu primo, que tinha ligações ao partido comunista, tinha sido preso pela PIDE, a D. Rosa temeu as possíveis repercussões para si e para a sua família, principalmente porque a PIDE prendia primeiro e investigava depois. Assim, para evitar associações perigosas, procurou rapidamente uma maneira credível de deixar o seu emprego, tendo decidido iniciar o seu próprio negócio, uma papelaria. Para a minha bisavó, os anos que se seguiram tornaram-se num período de constante apreensão e pavor até que, finalmente, no dia 25 de abril de 1974, romperam as notícias da revolução. Os portugueses, armados não com armas, mas com cravos vermelhos, não desistiram e lutaram corajosamente até atingirem a sua merecida liberdade.

Contudo, tendo em conta a situação atual do nosso país, cada vez mais me questiono: Será que já se cumpriram todos os objetivos e princípios estabelecidos pela revolução do 25 de abril … todos os valores pelos quais tantos lutaram e sofreram?                                                                                                                                                                                                                          Anita Bessa, 12º. B
                                                                                                                                                                          cortesia de Lizete Pinheiro, docente de Português

 

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