O CRESCER quer saber o que os alunos sabem ou pensam sobre o 25 de abril de 1974 ou até se conhecem alguma história relacionada com esse período. Para tal, apela a que os seus professores partilhem connosco textos por eles produzidos.
Há cerca de 91 anos atrás, Portugal entrou num dos
períodos mais obscuros e difíceis da sua história. Durante os 41 anos que se
seguiram, o povo português foi obrigado a viver sob a sombra pesada de um
regime autoritário e opressivo, sob o olhar atento da censura, sob o impiedoso
jugo da PIDE…
Quando eu era mais nova, a minha bisavó costumava
contar-me histórias fascinantes acerca das suas experiências de vida, de tudo
aquilo que ela presenciou ao longo dos anos. No entanto, quando se tratava de
falar desses dolorosos 41 anos, sempre notei alguma hesitação e receio antigos
que ainda ecoavam na sua memória. A minha bisavó, Rosa Loureiro, nascida em
1930, embora fosse uma mulher do povo, era bastante perspicaz e empreendedora, e
surpreendentemente até sabia ler e escrever. Como a sua situação financeira não
era muito favorável, ela começou a trabalhar muito cedo para poder, juntamente
com o marido, que era o barbeiro oficial da polícia, ajudar a sustentar a sua
filha.
Em 1965, pelas mãos do Destino, a D. Rosa foi
trabalhar como “mulher de limpeza” nos escritórios da delegação da PIDE no
Porto. Apesar de não ter acesso direto às celas ou às salas de interrogatório, por
ser uma mulher, a sua presença era frequentemente ignorada ou até mesmo negligenciada,
razão pela qual, ao longo dos anos, acabou por ver, ler e ouvir segredos e diversas
informações confidenciais. De facto, descobriu nos arquivos extensas listas de
obras literárias censuradas, especialmente da autoria de mulheres escritoras, aspeto
que entendeu ser uma forma de impedir a diversidade literária no país e simultaneamente
de menosprezar a condição feminina. Através de algumas conversas, tomou até conhecimento
das atrocidades que eram cometidas contra a vida humana naquele lugar … a forma
como a tortura, aliada ao tempo, quebrava física e psicologicamente os
prisioneiros.
Num dia de chuva intensa, ao aperceber-se que o seu
primo, que tinha ligações ao partido comunista, tinha sido preso pela PIDE, a D.
Rosa temeu as possíveis repercussões para si e para a sua família,
principalmente porque a PIDE prendia primeiro e investigava depois. Assim, para
evitar associações perigosas, procurou rapidamente uma maneira credível de
deixar o seu emprego, tendo decidido iniciar o seu próprio negócio, uma
papelaria. Para a minha bisavó, os anos que se seguiram tornaram-se num período
de constante apreensão e pavor até que, finalmente, no dia 25 de abril de 1974,
romperam as notícias da revolução. Os portugueses, armados não com armas, mas
com cravos vermelhos, não desistiram e lutaram corajosamente até atingirem a
sua merecida liberdade.
cortesia de Lizete Pinheiro, docente de Português
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