Camilo Castelo Branco é um dos autores estudados pelos alunos do 11.º ano nas aulas de Português. Sabemos que a vida de Camilo foi difícil e que pôs termo à vida, suicidando-se com o tiro de uma pistola.
Em resposta a um desafio formulado pela professora de Português Luísa Ferreira, alguns alunos escreveram uma hipotética carta de despedida de Camilo Castelo Branco. Algumas dessas cartas, o CRESCER publica aqui.
Cara mulher,
Venho aclarar este meu desfecho brusco.
Sabeis bem da minha condição de pessoa incapacitada. Conheceis bem as dores que sofro e os dias que passo neste cadáver atrofiado.
Reconheço que nem sempre vos tratei como deveria e que acabei por vos impor a minha dor, e, por isso, peço desculpa. Esta minha vida foi percorrida por um indivíduo que somente visou o seu próprio prazer. Embora o meu desprezo pelos costumes deste terrível e perdido mundo seja notório, vejo-me agora um exemplo exato da sua arrogância.
Esta minha odiável cegueira fez-me ficar atado a esta cadeira durante intermináveis milénios, a repensar em todo o meu papel neste mundo e o que vejo agora, tão claramente, é esta dor interminável que provoquei a todos os que se cruzaram no meu caminho. Não existe pena maior do que a do conhecimento de que nunca terei forma de vos recompensar.
Ao longo da minha vida entreguei-me às paixões, aos amores e deixei-me levar pelas comoções e pelos impulsos. Fiz por viver a sentimentalidade da vida em todas as minhas ações. Mas esta carcaça jamais poderá gerar algo a não ser lágrimas. O mundo atual e os seus habitantes não valorizam o romance e o furor dos sentimentos como antigamente e a minha carne perdeu o privilégio de lograr do mesmo. Não tenho mais forma de sustentar esta tortura.
Obrigado por tudo,
Camilo Castelo Branco João Pinto, 11ºD
cortesia de Luísa Ferreira, docente de Português
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