A pandemia global da Covid-19 afetou quase todo o mundo de formas que ainda estão a ser totalmente compreendidas. Mas segundo os cientistas, um dos efeitos mais visíveis é que as pessoas ficaram mais mal-humoradas, a ponto de se tornarem mais neuróticas e menos agradáveis.
O estudo, que incidiu sobre 7.109 pessoas com idades entre os 18 e 90 anos, a mudança foi mais percetível em adultos mais jovens – entre os idosos incluídos na pesquisa, não houve mudanças estatisticamente significativas.
As pesquisas anteriores sugeriram que eventos coletivamente stressantes mas localizados, como um desastre natural, não mudam a maioria dos traços de personalidade mas o novo estudo apontou que as pressões ambientais globais podem realmente fazer a diferença.
“Houve uma mudança de personalidade limitada no início da pandemia mas mudanças marcantes a partir de 2021”, garantiram os autores do estudo. “É importante notar que a personalidade dos jovens adultos mudou mais, com aumentos acentuados no neuroticismo e declínios na amabilidade e consciência.”
“Ou seja, os adultos mais jovens tornaram-se mais temperamentais e mais propensos ao stress, menos cooperativos e confiantes e menos contidos e responsáveis”, descreveram os autores, que usaram o modelo de traços de personalidade dos cinco grandes – abertura para a experiência, Conscienciosidade, extroversão, neuroticismo ou instabilidade emocional e amabilidade – para avaliar os participantes do estudo, com a extroversão como um dos traço com maior queda em geral.
Considerando as quarentenas que varreram o mundo, limitando a frequência com que era possível sair e interagir com outras pessoas, talvez não seja surpreendente a menor extroversão. A abertura é outra característica que agora parece ser menos prevalente após a pandemia da Covid-19.
Os investigadores relataram que, como um todo, as mudanças de personalidade normalmente levariam vários anos para ocorrer. “As mudanças foram cerca de um décimo de um desvio padrão, o que equivale a cerca de uma década de mudança normativa de personalidade”, escreveram os especialistas, num artigo publicado na revista científica ‘PLOS One’.
Curiosamente, os declínios na extroversão, abertura, amabilidade e consciência ocorreram durante 2021 e 2022, mas não foram significativos em 2020, o que sugere que o stress se tornou diferente à medida que a pandemia progrediu. A próxima questão é quão permanentes terão sido essas mudanças: se vão durar muitos anos ou se as nossas personalidades podem voltar ao seu estado anterior, o que terá importantes efeitos indiretos para a nossa saúde mental e física.
“Ainda não sabemos se essas mudanças são temporárias ou duradouras, mas se persistirem podem ter implicações a longo prazo”, explicou a cientista comportamental Angelina Sutin, da Florida State University, dos Estados Unidos. “O neuroticismo e a consciência predizem a saúde mental e física, bem como os relacionamentos e os resultados educacionais e ocupacionais, e as mudanças observadas nesses traços podem aumentar o risco de piores resultados.” @ Sapo
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