Mais um trabalho subordinado ao tema do desafio: "Avó/avô, como era viver antes do 25 de abril de 1974?". Desta feita o autor é o Miguel Alves, do 9.º K .Para este trabalho contou com a preciosa colaboração dos seus avós.
O 25 DE ABRIL DE 1974
Comecei por ir até à Vila de Paredes de Coura, onde os meus avós maternos, Isabel e Orlando, têm uma casa e lá pude encontrar alguns utensílios que eram usados na época do Estado Novo, que pertenciam ao meu bisavô Luís.
Figura 1- machado utilizado para cortar lenha |
Figura 2 - Foice de cabo |
Figura 3 - Foice manual para corte de erva |
Figura 4 - Charrua |
Ainda em Paredes de Coura, entrevistei os meus avós maternos.
Apesar de muito novos, a minha avó com 14 anos na altura e o meu avô com 17 anos, contaram que naquela época muitas famílias não tinham comida, que geralmente eram famílias numerosas com muitos filhos (o caso do meu avô) e, por isso, era difícil alimentar todos. Disse que não havia televisão, nem haviam frigoríficos. Os rapazes por vezes roubavam frutas das quintas para se alimentarem.
A partir das 20:00 da noite era proibido andar na rua e se o fizessem eram castigados ou presos pela PIDE. O ensino era muito rigoroso, os professores batiam nos alunos com réguas e canas nas orelhas.
As escolas
eram divididas, existiam
escolas só para raparigas e outras só para rapazes.
A minha avó
andou num liceu que só era frequentado por raparigas e nas imediações não
podiam andar rapazes ou a polícia intervinha de imediato.
O meu avô
disse-me que em todas as salas de aula existia um quadro com o retrato de
Salazar e que antes das aulas os alunos cantavam
o hino nacional.
Muitas das vezes, os adolescentes eram obrigados pelos
pais a deixar a escola
para irem trabalhar
e ajudarem com as contas em casa. O meu avô com 12 anos foi trabalhar para uma fábrica.
As mulheres, não trabalhavam, eram donas de casa
e tomavam conta dos filhos.
Os meus avós lembram-se que muitos portugueses emigraram para França
e, para isso ser possível,
tinham de atravessar a fronteira pelas montanhas.
O meu bisavô, grande defensor da liberdade, pai da minha avó, naquela
altura já trabalhava como taxista e como a minha bisavó era natural
de uma aldeia transmontana que fazia fronteira com Espanha, ajudou
muitos portugueses a fazer
a travessia para o país
vizinho.
A minha avó referiu,
saudosa, que quem teria muitas histórias para me contar seria ele…
As vestes da época eram muito simples, uma vez que não havia
dinheiro.
A mãe da minha
avó como era costureira mandava-a a ela e à minha tia para a escola com muitas
camisolas, pois as salas de aulas eram
muito frias.
O Avô e os amigos
naquele tempo brincavam na rua com caricas
e piões.
Já em família, no caso
dos meus avós, não havia muitos tempos livres, pois trabalhava-se muito.
Disse que ele e
os 7 irmãos, como não tinham televisão em casa, iam para a mercearia de um
amigo do pai deles ver filmes aos
domingos numa televisão que tinham nos arrumos da mercearia. Os filmes eram
mudos e o meu avô adorava o filme “Bonanza”.
Os meus avós sentiram que após a revolução começou a haver muita mais liberdade para saírem
de casa sem terem problemas com a
PIDE, e sem serem revistados pela mesma, pois na altura era proibido, por exemplo,
andar com isqueiros a não ser que tivessem uma licença para o fazer.
No dia da
revolução a minha avó estava em casa e recebeu uma chamada da minha bisavó, mãe
da minha avó, a dizer para não sair
de casa. Mas ela, como era muito curiosa e corajosa, saiu de casa e foi para a
praça do Marquês. Para a minha avó foi
uma sensação de alegria.
No caso do meu
avô, ele estava a trabalhar e o patrão foi buscá-lo a ele e aos colegas e
contou-lhes o que se estava a
passar. O meu avô veio a saber depois que o patrão dele fazia parte dos
“bufos”, que eram quem contava à PIDE as coisas que ouviam as pessoas dizer
sobre o governo e sobre Salazar.
Os meus avós
só se lembram de ouvir
no rádio a música “Grândola Vila Morena”.
Para eles as conquistas mais importantes da revolução foram a liberdade de expressão e o fim da PIDE.
A Guerra Colonial
Para este tópico contei com a ajuda dos meus avós paternos.
O meu avô paterno foi para a guerra em Angola e disse-me que lá muita gente morreu, e tudo por causa do facto de Salazar dizer que aquelas terras eram portuguesas. Ainda jovem não percebeu muito bem porque tinha de ir.
Com a revolução em 25 de Abril de 1974 em Portugal, os soldados
portugueses como também o meu avô, imediatamente voltaram para Portugal.
Figura 5 - Avô em Angola |
Figura 6 - Diploma escolar do avô |
Figura 7 - Avó paterna com os irmãos |
A minha avó diz que não se lembra muito do dia da revolução, lembra-se que a mãe dela ficava em casa com ela e os irmãos e que a determinada altura, pensa que foi após o 25 de Abril, começou a trabalhar. .A minha avó, no entanto e após essa mudanças teve de ir trabalhar também, pois o pai dela infelizmente faleceu pouco depois. A avó mostrou-me várias fotos, tanto dela na época, como do meu avô na guerra colonial portuguesa.
Conclusão
A minha avó disse uma frase que eu achei interessante: “A vida, depois de haver liberdade, é prazerosa”. Neste trabalho, pude concluir que os meus avós tiveram uma infância muito difícil e que passaram por muita coisa na vida. Gostei muito de saber mais sobre a vida antes e depois da revolução.
FIM
(O CRESCER alterou um pouco a formatação do trabalho original, por uma questão prática de edição. Muito agradece a colaboração da professora Sara Botelho e parabeniza o aluno Miguel Alves e os seus avós.)
1 comentário:
Parabéns pelo trabalho! Portugal era muito diferente!
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