Mais um trabalho subordinado ao tema do desafio: "Avó/avô, como era viver antes do 25 de abril de 1974?", desta feita da autoria da aluna Bárbara Garcia, do 9.º K.
Uma Viagem no Tempo
O Estado Novo e o 25 de Abril
Neste trabalho vou
entrevistar pessoas da minha família sobre o Estado Novo e o que aconteceu no
25 de Abril. As pessoas que participam neste trabalho são:
○ 74 anos;
● Sílvia C. Carvalho Pereira
○ 76 anos;
○ 27 anos em 25 de Abril de 1974;
● Herminia Carvalho Pereira
○ 28 anos em 25 de Abril de 1974;
● Cecilia Aroso Machado
António
Carvalho Pereira
Como era viver antes do 25 de Abril
“A principal era a falta de liberdade. Para
os rapazes havia uma outra muito forte:
a guerra. Eu não senti na pele, mas havia também muita fome e muito
analfabetismo, alguns dos meus colegas do primeiro ciclo foram trabalhar quando
acabaram o quarto ano.”
“Eu
não tive dificuldade em ter emprego. Como os jovens com estudos eram poucos,
para os que os tinham não havia dificuldades. Eu ainda estava na tropa e já
estava a dar aulas ao segundo ciclo e depois ainda estava a dar aulas e já
estava a trabalhar numa Multinacional Farmacêutica.”
“Uma polícia política assustadora e temida
por todos, mas ainda mais assustadores eram os “bufos”, pessoas que
efetivamente não fazendo parte da PIDE a troco de algum dinheiro denunciavam
qualquer pessoa, a maioria eram verdadeiros “escroques” .
Na vida social: “Poder partilhar as ideias aberta e livremente à mesa do café, o respirar a liberdade, o poder participar conjuntamente com a minha esposa na vida política e nas manifestações em defesa da democracia contra as ditaduras de esquerda e direita.”
Profissionalmente: “Fui promovido e passei a ser um dos responsáveis da empresa na
região Norte. Fui também eleito delegado sindical, o que originou uma
participação na vida sindical da empresa e no sindicato. Ah! E tive um
substancial aumento de vencimento.”
Na vida privada: “A sensação sentida ao ver nascer uma filha em liberdade é uma sensação inexplicável.”
Cecilia Aroso
Machado
Como era viver antes do 25 de Abril
O que era o Estado Novo?
“Era uma ditadura. Tínhamos um regime de um homem chamado Salazar, homem esse que tinha os cofres do Estado cheios de dinheiro e ouro, mas o povo vivia muito mal, com medo, sem poder comunicar e com muitas restrições.”
Qual era a perspetiva perante o regime?
“O povo não
era feliz, nem existiam oportunidades, devido
ao regime, mas não passava na cabeça da maioria dos comuns a ideia de uma
revolução,. O povo era muito subserviente, daí
preferirem a emigração para outros países do mundo.”
“Todos os
costumes e hábitos eram baseados nas festas da terrinha, festas dos santos,
igreja e familiares, umas idas à praia nas férias grandes, eu já tinha amigas e
íamos a umas festinhas de garagem aniversários, etc.”
Como se vestiam?
“Sempre usei
roupas modernas, mini-saias e calças à boca de sino e outras muito próprias
desse tempo. Para mim era fácil, pois a minha irmã era modelista e fazíamos a
nossa própria roupa.”
Sílvia
C. Carvalho Pereira
Como era viver antes do 25 de Abril
Como era viver durante o Estado Novo?
“Antes do 25 de Abril, embora
com o peso da ameaça constante imposta pelas autoridades, diga-se, medo da PIDE, na verdade não tinha grandes
dificuldades porque nunca fui politicamente ativa e portanto estava de certo
modo adaptada às normas vigentes, mesmo sem concordar com elas.
A PIDE era realmente a ameaça mais séria, a arma poderosa do regime
autoritário que dominava as nossas vidas.
Não devo esquecer os anos de estudante, sobretudo no Liceu, onde as regras eram realmente muito rigorosas, sendo por exemplo, rigorosamente proibido ir para as aulas sem meias! Na Faculdade, foi a fase das lutas estudantis, greves e colegas presos.”
Como ocupava
os seus tempos livres?
“Os tempos livres, para mim, eram passados em família,
via televisão (algumas séries e transmissões de teatro em direto, juntavam toda
a família e por vezes também os vizinhos). Ia com frequência ao cinema e os
passeios de domingo eram sagrados, a maior parte das vezes com piqueniques que
juntavam família e amigos.
A praia era obrigatória no mês de agosto, fizesse sol ou chuva, e tinha, pelo menos para mim, um caráter mais terapêutico do que lúdico, pois nunca gostei de praia.”
Como era trabalhar nesse tempo?
“Do ponto de vista do
trabalho, posso considerar-me de certo modo privilegiada, pois como médica
tinha trabalho garantido, se o desejasse para toda a vida, e com a
possibilidade de ter também atividade privada.”
Hermínia Pereira
Como era viver antes do 25 de Abril
Como eram os estudos e as carreiras profissionais nessa altura?
“Eu tinha
trabalho, e felizmente nunca passei dificuldades, mas nós vivíamos bem com muito
menos coisas do que vocês têm agora.
Na altura, a grande maioria das pessoas só
tinham a primária (o equivalente ao 4º ano de hoje). As escolas eram diferentes
para rapazes e raparigas, só havia ensino misto na faculdade. A grande maioria
das crianças começava a trabalhar aos
10-11 anos para ajudar os pais, praticamente não havia creches e nós íamos para
casa de uma ama até aos 6 anos ou ficávamos em casa com as mães ou as avós.
Todos os rapazes tinham que ir para a tropa e a partir do final da década de 70
tinham que ir para a guerra do ultramar. Muitos fugiram do país para não irem
para a guerra e só voltaram depois do 25 de Abril.”
Como era a vida política nessa altura?
“Todos nós tínhamos medo da PIDE que era a
polícia do estado e por qualquer coisa prendiam uma pessoa. Antes do 25 de
Abril muito pouca gente votava (não valia a pena, só havia um partido, que
ganhava sempre...). A maioria das mulheres não votavam, porque só votavam os
chefes de família, que eram os homens). Uma mulher casada não podia sair do
país sem autorização do marido e outras coisas do género…”
Guerra do Ultramar
“Eu estive na guerra, mas não estive numa zona de combates. Em
Angola havia três movimentos de libertação ( a que o governo português chamava
terroristas): o MPLA de inspiração comunista e que é o partido que sempre
esteve no poder desde a independência, a UNITA de inspiração maoista e a FNLA,
que era mais conservadora.Na zona onde nós estávamos, que era no norte, na
província do Uíge, o movimento que lá dominava era a FNLA e se calhar era por
isso que a vida era mais calma.Os militares faziam sobretudo ações de apoio aos
civis, havia um hospital pequenino onde o tio Quim e eu dávamos consultas à
população. Eu via as mulheres, as crianças e fazia os partos e o tio Quim
via os homens. Também fiz um parto de um bébe filho de um militar. Os feridos
que apareciam eram sobretudo de acidentes de viação ou de caça. Os feridos de
guerra eram de algumas " minas" que são um tipo de bomba que eles
enterravam nas picadas (estradas de terra), que rebentavam quando os carros ou
as pessoas as pisavam.”
25 DE ABRIL
COMO SOUBE, ONDE ESTAVA E O QUE FEZ?
António
Carvalho Pereira
“No 25 de abril eu estava em Lisboa num curso
de formação profissional. Eu ia ter um teste pelo que na véspera eu reuni com
alguns colegas no meu quarto de hotel para estudarmos. Recordo-me de a
determinada altura ouvimos e cantarolamos o “Grândola Vila Morena”. De manhã
quando acordei, dado que a minha esposa estava grávida da nossa filha, eu
tentei telefonar-lhe para saber se estava bem, liguei para a receção do hotel a
pedir a chamada telefónica, foi aí que eu soube que não havia ligações
telefônicas pois havia uma revolução. Indo à janela do quarto vi os carros
militares na rua. Tentei vir o mais rápido possível para o Porto e corri para a
estação para apanhar o comboio. Todos iam cheios, alguns passageiros tinham
pequenos rádios portáteis (transístores) e quando o comboio parava ouvíamos as
notícias da revolução”
Sílvia C. Carvalho Pereira
“Em 25 de Abril de 74, soube
da revolução pelas notícias na rádio e depois na TV que fui acompanhando ao
longo dia. Senti um misto de alegria e esperança num futuro diferente,
misturado com medo do que pudesse acontecer, qual a evolução dos
acontecimentos, se podia haver reversão da situação e quais as consequências.
Nesse dia (ou no seguinte, já não me lembro ao certo), tive um jantar de
despedida dos internos do SU com o chefe de equipa e tivemos algum receio de
não ser possível a sua realização, mas tudo correu bem).Após o 25 de Abril,
todos puderam festejar o 1º de Maio e penso que terá sido o melhor de sempre,
mas de seguida a esquerda extremista tomou conta da situação e estivemos em
risco de cair noutro tipo de ditadura.”
Herminia Pereira
“No dia 25 de Abril de 1974, estava a trabalhar e tinha tido o meu
primeiro filho há um mês e meio e estava a trabalhar há cerca de duas
semanas.Nessa altura só tínhamos um mês de licença de parto e não cinco como agora.
Era uma 5ª feira e eu ouvi no
rádio do carro o locutor a ler uns comunicados a aconselhar as pessoas a não
saírem à rua, porque podia haver distúrbios. Quando cheguei ao hospital onde
trabalhava é que soube que tinha havido uma revolução em Lisboa, organizada por
militares que tinha destituído o governo, mas estava tudo calmo. À tarde fui
trabalhar para o Centro de Saúde, e lembro-me perfeitamente que um colega mais
velho, urologista que estava felicíssimo e me deu um abraço apertado…”
Cecília Arroso Machado
“Estava em casa de manhã e ouvi pela rádio
que nessa madrugada os capitães de Abril derrubaram o governo de Marcelo
Caetano e que tinham preparado na rádio uma hora que através de uma senha
atacaram o governo essa senha era uma canção "Grândola Vila Morena"
do Zeca Afonso. Isto aconteceu em Lisboa, mas no Porto o povo vem para a rua
gritar de contente, que a guerra acabou que éramos livres e suscitou uma
euforia no povo que na minha terra viemos em grupos para a cidade do Porto
gritar liberdade, passamos nos quartéis onde estavam os militares e
atiramos-lhes cravos,
e dizendo que já não iam para o
ultramar, a guerra acabou… era uma sensação de alegria, foram momentos de
grande satisfação.”
Conclusão
Com este trabalho, consegui perceber as várias dificuldades de viver na altura do Estado Novo, como por exemplo, as várias restrições que tinham, o cuidado do que se dizia para não serem levados pela PIDE e também a euforia que o povo português teve no dia 25 de Abril devido ao fim do Estado Novo e a felicidade de ser livre, podendo se expressar e dizer as suas opiniões.
A meu ver, acho que nunca nos devemos esquecer dos tempos difíceis que estas pessoas viveram e nunca nos esquecermos deste dia que é bastante importante para a História de Portugal.
FIM
(O CRESCER alterou um pouco a formatação do trabalho original por uma questão prática de edição. Muito agradece a colaboração da professora Sara Botelho e parabeniza a aluna Bárbara Garcia e a sua família.)
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