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sexta-feira, 12 de março de 2021

texto de autor: quando a pandemia acabar, voltamos a ser os mesmos?

A pandemia, o estado de emergência e respetivos confinamentos já duram há demasiado tempo para não provocar mudanças significativas e duradouras nas pessoas.

Bruno Ribeiro @ SOL
Estamos todos fartos, cansados e stressados de estar em casa, de trabalhar bloqueados por uma FFP2, de sair à rua como se estivéssemos na clandestinidade. Estamos fartos de estar longe da família e dos amigos, de não celebrarmos os aniversários e não brindarmos aos noivos, de não nos despedirmos dos que partem e de não darmos as boas vindas aos que chegam. Estamos mesmo fartos do vírus, do relatório diário de infetados e recuperados. Mas quando debelarmos a ameaça do vírus, o que mais cedo ou mais tarde vai acontecer, dificilmente voltaremos ao normal, ou seja, à realidade que conhecíamos antes de março de 2020. 
A pandemia, o estado de emergência e respetivos confinamentos já duram há demasiado tempo para não provocar mudanças significativas e duradouras nas pessoas. Dois ou três meses são tempo suficiente para consolidar uma mudança de hábitos. É relativamente seguro afirmar que a pandemia desenvolveu novos hábitos de consumo, o crescimento exponencial da utilização de soluções digitais é um caminho irreversível. Durante os períodos de confinamento evoluímos as nossas competências digitais, descobrimos novas formas de nos relacionarmos e de consumir. Estima-se um crescimento da penetração de internet e do número de compradores online de seis pontos percentuais. Quem já comprava online, aumentou a frequência de consumo três a cinco vezes.
Durante o confinamento aprendemos a viver com menos e a valorizar mais as necessidades da base da pirâmide. Coisas absolutamente garantidas, como o fácil acesso à alimentação ou a um serviço de saúde, deixou de ser assim tão fácil. O almoço de domingo e o jogo de futebol com os amigos, programas que eram praticamente rotinas, passam a ser atividades muito valorizadas. E apesar do dia continuar a ter vinte e quatro horas, a noção de tempo é completamente diferente quando estamos quase sempre com as mesmas pessoas. Até percebemos melhor que temos livros, filmes ou brinquedos em demasia ao termos tempo para usufruirmos deles e não conseguirmos ler, ver ou brincar com todos.
O principal fenómeno a ditar o comportamento do novo consumidor será o equilíbrio entre medo e confiança. Os otimistas concordam que assim que pudermos vamos querer fazer tudo o que não fizemos, atacando a um o ritmo frenético os centros comerciais, marcando férias o mais longe possível e enchendo salas de espetáculos. Os menos otimistas advogam que nunca mais vamos fazer o que fazíamos como o fazíamos, o medo e a insegurança vieram para ficar e continuaremos de máscara durante muito tempo. Talvez até nunca deixaremos de andar sem uma, nem que seja no bolso, para uma qualquer ameaça. 
A covid-19 deixará marcas indeléveis e muitas das coisas que trouxe, certamente, estão para ficar. @ Sapo

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