Governo separou datas do desconfinamento do 3.º ciclo e ensino secundário, mas muitos docentes dão aulas a ambos os níveis de ensino. Solução é fazer ensino remoto a partir das escolas, mas os directores temem que a rede de Internet não seja suficiente.
Daniel Rocha |
Professora há quase 30 anos, Teresa Soares lecciona Português ao 8.º e 10.º anos no agrupamento de escolas Dr. João de Araújo Correia, em Peso da Régua. O seu horário numa terça-feira, por exemplo, começa às 8h50, com os alunos do ensino secundário, uma aula que continuará a ser dada remotamente até meados do próximo mês. Para as 10h45, está marcada a lição com os estudantes do 3.º ciclo, que volta a ser presencial depois da Páscoa.
O intervalo de dez minutos entre as duas aulas “não dá tempo para chegar de casa à escola”, garante. A única solução será cumprir o horário lectivo como se fosse dar todas as aulas presencialmente, sabendo, porém, que os alunos do ensino secundário vão continuar à distância. “É mais uma novidade a que vamos ter que nos adaptar”, comenta Teresa Soares.
Atendendo à forma como está organizada a carreira docente, o 3.º ciclo do ensino básico e o ensino secundário correspondem ao mesmo grupo. O relatório Educação em Números 2020, publicado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, revela que há 76.735 professores do 3.º ciclo e ensino secundário. Pelas estatísticas não é possível perceber quantos dão efectivamente aulas a ambos os níveis de ensino simultaneamente. O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima, estima que sejam umas dezenas de milhar: “É seguramente um número apreciável”.
As duas semanas entre 5 de Abril, quando forem retomadas as aulas presenciais do 3.º ciclo, e 19 de Abril, momento em que voltam às escolas os estudantes do ensino secundário, vão “ser muito complicadas para estes professores”, acredita o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, antecipando “dificuldades ao nível de organização” para os professores e os agrupamentos. É às escolas que compete encontrar o espaço para que estes professores possam dar aulas, por exemplo.
“Estando os docentes a assegurar estes dois regimes em simultâneo durante esse período, têm evidentemente a possibilidade de acompanhar os alunos ainda em regime não presencial a partir da escola. Será uma opção em função do horário de cada um”, diz ao PÚBLICO o Ministério da Educação. Na generalidade dos agrupamentos de escolas contactados essa é precisamente a hipótese mais viável em cima da mesa: manter os horários integralmente. Ou seja, os professores vão dar as aulas remotas ao ensino secundário a partir das salas onde teriam as aulas presenciais. Essa solução resolve a questão logística, mas não responde a todos os problemas, em especial aos tecnológicos. @ PÚBLICO
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