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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

desafio: "onde estava no 25 de abril (de 1974)?" (8)


Onde estava eu no dia 25 de abril de 1974? A trabalhar nos Serviços Administrativos do Hospital de Santo António, no Porto. Era o meu primeiro ano de trabalho. Tinha sido admitida em junho de 1973, uma semana antes de completar dezoito anos. Ao mesmo tempo, continuava os meus estudos em regime pós-laboral, preparando-me para entrar na Faculdade de Letras. Pelos corredores do hospital, tinha ouvido rumores do que se passara no Chile, em setembro de 1973, e da publicação do famoso livro de Spínola "Portugal e o Futuro". Tudo "à boca pequena". Toda a gente sabia que de política não se podia falar, muito menos na minha casa, onde o tema era absolutamente tabu.                                                                                    

Na manhã do dia 25 de abril, como habitualmente, fui de autocarro para o trabalho e não me apercebi de nada de especial. Foi já no hospital que um médico me falou de "uma revolução em Lisboa", algo que tinha a ver com militares. Percebi que toda a gente se interrogava e que a grande dúvida era se o "golpe" era de esquerda ou de direita. Comentava-se, com espanto, as músicas até então proibidas, que nessa noite tinham passado na rádio. Ao longo do dia foram chegando informações a conta-gotas. Não havia telemóveis…Com apenas  dois canais, a televisão (RTP)  não transmitia, como agora, sucessivos serviços informativos. Era necessário esperar pelas oito da noite, pelo bendito "Telejornal". 

No fim do dia, foi-me recomendado que regressasse a casa com muito cuidado, pois não se sabia como tudo iria acabar. Lembro-me bem do início do Telejornal dessa noite. Fialho Gouveia, o locutor de serviço, leu um comunicado do Movimento das Forças Armadas esclarecendo que eram mesmo os militares que tinham nas mãos o destino do nosso país e que a ditadura salazarista tinha chegado ao fim.                                                                                                      

Seguiram-se tempos de grande euforia. Ao mesmo tempo, a novidade atraía-nos e a incerteza preocupava-nos. Entre 25 de abril e 1 de maio de 1974, convenci-me de que me estava reservado um futuro diferente daquele que aos meus pais coubera em sorte. Não me enganei! No dia 1 de maio, em plena Avenida dos Aliados, perante uma imensa manifestação de apoio à Revolução, percebi que a palavra LIBERDADE passara a existir para além do dicionário. 50 anos depois, estou grata aos militares de Abril e continuo a ir aos Aliados, agora acompanhada pelos meus netos, repetir: 25 de Abril, sempre!

Margarida Rebelo
(professora de Português e de Francês, atualmente aposentada)

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