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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

desafio: "onde estava no 25 de abril (de 1974)?" (5)


Disseram-nos para irmos para casa, não havia mais aulas, tinha rebentado uma Revolução. Lembro o receio dos meus pais, as notícias da TV, o Presidente deposto, a esquerda revolucionária a fazer-se ouvir. Na altura, aos 14 anos, a frequentar o 4.º ano (o atual oitavo) tudo era muito confuso, muito novo e amedrontador. Eram as imagens dos soldados e dos cravos.

A escola de 74 usava bata verde claro e as turmas nunca eram mistas. O ensino dividia os géneros, era uma espécie de Apartheid do Antigo Regime, que contrastou com a Liberdade de 75. A heterogeneidade, a diversidade e a inclusão fizeram-se então sentir. Eram as RGAA (Reuniões Gerais de Assembleia de Alunos) a qualquer hora ou dia. Sem aviso prévio. Interrompiam-se aulas para irmos até ao polivalente ouvir os colegas do secundário, os mais afoitos e revolucionários. O Liceu de Gaia nunca mais viveu dias calados ou submissos.


O quinto ano (atual nono) representou um turbilhão de experiências que nunca pensei viver. Permanecia-se nas salas durante os intervalos; queimavam-se os enunciados dos ‘acabadinhos de fazer’ testes de Física e Química. Quando a fumaça começava a sair da sala, lá surgia a intervenção da funcionária a obrigar os praticantes do delito a varrer as cinzas e a apagar a fogueira. O ‘piorio dos rapazes’ do Liceu encontrou abrigo na minha turma e em breve, todas, à sua maneira, mais discreta ou mais revolucionária, seguiam os líderes.

Foram tempos inquietantes, desconcertantes e hilariantes.

Aurélia Domingos
(docente de Inglês)

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