A escola de 74 usava bata verde claro e as turmas nunca eram mistas. O ensino dividia os géneros, era uma espécie de Apartheid do Antigo Regime, que contrastou com a Liberdade de 75. A heterogeneidade, a diversidade e a inclusão fizeram-se então sentir. Eram as RGAA (Reuniões Gerais de Assembleia de Alunos) a qualquer hora ou dia. Sem aviso prévio. Interrompiam-se aulas para irmos até ao polivalente ouvir os colegas do secundário, os mais afoitos e revolucionários. O Liceu de Gaia nunca mais viveu dias calados ou submissos.
O quinto ano (atual nono) representou um turbilhão de experiências que nunca pensei viver. Permanecia-se
nas salas durante os intervalos; queimavam-se os enunciados dos ‘acabadinhos de
fazer’ testes de Física e Química. Quando a fumaça começava a sair da sala, lá
surgia a intervenção da funcionária a obrigar os praticantes do delito a varrer
as cinzas e a apagar a fogueira. O ‘piorio dos rapazes’ do Liceu encontrou abrigo
na minha turma e em breve, todas, à sua maneira, mais discreta ou mais revolucionária, seguiam os líderes.
Foram tempos inquietantes,
desconcertantes e hilariantes.
(docente de Inglês)
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