O Porto vai celebrar os 50 anos do 25 de Abril com um programa intitulado "Revolução, já!", cruzando a programação cultural municipal com a efeméride, com enfoque na poesia, imagem e pensamento, chegando também a estabelecimentos prisionais da cidade.
"Interessa-nos
Abril na medida em que falemos do tempo presente. Interessa-nos o arquivo, a
memória, o passado, na medida em que possamos atuar, pensar, usar da palavra
poética no aqui e no agora, no Porto quotidiano de hoje, no Porto contemporâneo",
argumentou Jorge Sobrado, um dos comissários do programa comemorativo
"Revolução, já!", que foi hoje apresentado.
O também diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, que
comissariou o programa juntamente com o professor José Augusto Bragança de
Miranda, falava durante a apresentação no Palácio dos Viscondes de Balsemão, na
Praça Carlos Alberto, numa sessão que também contou com a presença do
presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.
"O nome que elegemos, 'Revolução, Já!', pode parecer uma
retórica 'catchy' [que fica no ouvido], publicitária, provocatória, mas
consideramos que hoje nos faz falta esta retórica. O discurso público e o
discurso político estão hoje empobrecidos, esvaziados de uma categoria que
passou a ser quase escandalosa: a categoria do sonho e da poesia",
justificou Jorge Sobrado.
Como tal, o programa comemorativo trará às ruas do Porto 50
poemas originais sobre a revolução, de 50 autores, entre os quais Adolfo
Luxúria Canibal, Andreia C. Faria, Daniel Jonas, Hélia Correia, Mário Cláudio
ou Regina Guimarães.
A marca autoral das obras será retirada dos segmentos expostos
em 440 'mupis' da cidade durante 21 dias, "de modo a promover uma
apropriação coletiva", passando a ser "um lugar comum da cidade"
e fazendo-os "manchar, contaminar o espaço público, esbarrando com
cidadãos distraídos, transeuntes ou cidadãos curiosos", explanou Jorge
Sobrado.
O programa inclui ainda o regresso do Fórum do Futuro, desta vez
com um formato com 10 conferências, entre março e dezembro, com 10 pensadores
contemporâneos, entre os quais Markus Gabriel, Dario Gentili, Catherine
Malabou, António Guerreiro ou Maria Filomena Molder.
O comissário frisou que o cinema terá lugar próprio com o
ciclo Outras Revoluções, curado por Edmundo Cordeiro, e que contará com obras
de Phillipe Garrel, Manoel de Oliveira, Jonas Mekas, Michelangelo Antonioni,
Glauber Rocha ou Pedro Costa, entre outros.
Já em marcha está o Projeto Liberdade, que junto de três
estabelecimentos prisionais no Porto (Ala prisional do Hospital Magalhães
Lemos, Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária e Centro Educativo Santo
António) trabalha com reclusos em oficinas de Literatura e Escrita, Fotografia
e Vídeo e Cerâmica e Pintura.
Na programação marcam ainda presença a chamada Exposição
Participação, na Casa do Infante, "a partir da revelação de 'periódicos da
Revolução'" e filmes de época vindos da biblioteca e arquivo municipais,
ou ciclos já estabelecidos na cidade, como os Cursos Breves ou Um Objeto e os
Seus Discursos (sobre a estátua do General Sem Medo [Humberto Delgado, em 06 de
abril, e sobre a antiga sede da PIDE, em 20 de abril).
A programação do "Revolução Já!" inclui ainda a
exposição Destruir o Silêncio..., sobre a música como forma de protesto com
KISMIF [projeto sobre subculturas, o ciclo Cinema de Revolução, pelo Cineclube
do Porto, e ainda o programa musical Ao ritmo da Revolução, com música
portuguesa, francesa e russa.
Haverá ainda outros programas municipais, como o da noite de 24 para 25 de abril, com um espetáculo de 'videomapping' a cargo de Alfredo Cunha, Rodrigo Leão e Vhils, o ciclo Se o Cinema é uma Arma, do Batalha Centro de Cinema, atividades do Departamento de Arte Contemporânea (Escuta Ativa, Abril Febril e Cultura em Expansão) e ainda a projetos de história oral no Museu do Carro Elétrico, de memórias de trabalhadores da STCP na revolução. Fonte: Sapo
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