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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

desafio: "onde estava no 25 de abril (de 1974)?" (7)

Foi há 50 anos!

Sabia que tinha de existir algures, esquecido num fundo recôndito de uma gaveta. Vasculhei, procurei entre papéis amarelecidos e encontrei a prova de que precisava - o meu cartão de estudante do ano letivo 1973/74, ano em que passei a frequentar o 1.º ano do liceu no António Nobre. Nesse ano, deixei de poder deslocar-me a pé para ir para a escola como fazia até então.  Ia de trólei e tinha um passe com datas que o pica furava com uma espécie de alicate.

Sentia-me crescida e a viver uma nova e importante fase da vida! Tinha conseguido entrar no liceu da moda, inaugurado no ano letivo anterior. O meu primeiro ano no Nobre foi passado numa secção que funcionava numa escola primária próxima; o liceu era à época muito procurado e teve várias secções ao longo dos anos.

Na escola, o dia 25 de abril foi breve. Não tivemos aulas, foi-nos simplesmente dito que voltássemos para casa. Sem percebermos bem o que acontecia, todos sentíamos uma expectativa no ar, uma perceção de que algo de sério e marcante se passava.

Já em casa, senti inquietação e apreensão na minha família! Colados ao ecrã da televisão, ouvimos o comunicado do MFA que aconselhava as pessoas a ficarem em casa com a maior tranquilidade, até que se restabelecesse a normalidade. Mas... as pessoas não ficaram em casa, vieram para a rua sentir a revolução!

Tudo o que veio a seguir, sobretudo para uma adolescente, veio em avalancha! Fez estrondo, mudou tudo! No liceu, muito começou a acontecer: foi saneado o reitor, questionaram-se as regras, os alunos exigiam ter voz, o ambiente era de rebeldia e, por vezes, de confronto e tensão!  Cada dia era um acontecimento, uma ameaça de bomba que provocava a evacuação do liceu, a explosão da sala da associação de estudantes, conflitos acesos entre apoiantes de diferentes fações.

Foram tempos inesquecíveis, difíceis de explicar para quem os não viveu, de crescimento e, sobretudo, de descoberta do que significava viver em LIBERDADE!

Curiosidades: No meu primeiro ano do liceu, só as meninas usavam bata, só as meninas tinham as disciplinas de Lavores Femininos e Canto Coral.  Nos horários, estas disciplinas eram no final da tarde para que os rapazes pudessem ir embora mais cedo. Lembro-me de, na altura, achar tudo isto uma grande injustiça. A mudança impunha-se! Assim, cedo as batas deixaram de esconder as nossas orgulhosas minissaias e as disciplinas só para meninas passaram à história! 

Manuela Barbosa

(docente de Inglês e subdiretora do agrupamento)

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