Sabia que tinha
de existir algures, esquecido num fundo recôndito de uma gaveta. Vasculhei,
procurei entre papéis amarelecidos e encontrei a prova de que precisava - o meu
cartão de estudante do ano letivo 1973/74, ano em que passei a frequentar o 1.º
ano do liceu no António Nobre. Nesse ano, deixei de poder deslocar-me a pé para
ir para a escola como fazia até então. Ia
de trólei e tinha um passe com datas que o pica furava com uma espécie de
alicate.
Sentia-me
crescida e a viver uma nova e importante fase da vida! Tinha conseguido entrar
no liceu da moda, inaugurado no ano letivo anterior. O meu primeiro ano no
Nobre foi passado numa secção que funcionava numa escola primária próxima; o
liceu era à época muito procurado e teve várias secções ao longo dos anos.
Na escola, o
dia 25 de abril foi breve. Não tivemos aulas, foi-nos simplesmente dito que
voltássemos para casa. Sem percebermos bem o que acontecia, todos sentíamos uma
expectativa no ar, uma perceção de que algo de sério e marcante se passava.
Já em casa, senti
inquietação e apreensão na minha família! Colados ao ecrã da televisão, ouvimos
o comunicado do MFA que aconselhava as pessoas a ficarem em casa com a maior
tranquilidade, até que se restabelecesse a normalidade. Mas... as pessoas não
ficaram em casa, vieram para a rua sentir a revolução!
Tudo o que veio
a seguir, sobretudo para uma adolescente, veio em avalancha! Fez estrondo,
mudou tudo! No liceu, muito começou a acontecer: foi saneado o reitor,
questionaram-se as regras, os alunos exigiam ter voz, o ambiente era de
rebeldia e, por vezes, de confronto e tensão!
Cada dia era um acontecimento, uma ameaça de bomba que provocava a
evacuação do liceu, a explosão da sala da associação de estudantes, conflitos
acesos entre apoiantes de diferentes fações.
Manuela Barbosa
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