“Cada átomo do seu
corpo vem de uma estrela que explodiu. E os átomos da sua mão esquerda
provavelmente vêm de uma estrela diferente daqueles da sua mão direita. É a
coisa mais poética que conheço sobre o universo: todos nós somos pós de
estrela.”
A citação do físico e cosmólogo Lawrence Krauss está em destaque no site da ‘StardustME’, empresa da Nova Zelândia que oferece funerais espaciais para qualquer pessoa que queira regressar à poeira estelar após a sua morte. A empresa tornou-se, em 2023, uma das que permite o envio de uma pequena cápsula com uma quantidade simbólica de cinzas para o espaço, a bordo dos foguetes particulares.
Convém referir Elon Musk, dono da Tesla, da
rede social ‘X’ e da SpaceX, indiretamente envolvido no negócio dos chamados
funerais espaciais, uma vez que as principais empresas do setor estão a lançar
– ou a planear lançar – as cinzas em naves movidas pelo foguete Falcon da
SpaceX.
Quanto custa enviar os restos mortais de um
ente querido, seja uma pessoa ou um animal de estimação, para o espaço? Entre
aproximadamente 2 e 13 mil dólares, dependendo da empresa e do serviço
contratado, já que a oferta vai desde a possibilidade de pequenas cápsulas com
um grama de cinza orbitarem o nosso planeta por alguns anos até reentrar na
atmosfera, queimando por uma segunda vez, ou que sejam depositados na Lua,
dentro de uma nave que se torna numa espécie de mausoléu.
Os funerais espaciais não são algo novo.
Datam de 1992, quando foi realizado o primeiro no Columbia, da NASA, que levou
ao espaço um cilindro de aço inoxidável com uma pequena quantidade das cinzas
do criador de ‘Star Trek’, Gene Roddenberry. Cinco anos depois, os restos
mortais de 24 pessoas – incluindo o psicólogo Timothy Leary e, novamente,
Roddenberry – descolaram a bordo do Pegasus para celebrar o primeiro funeral
espacial privado, organizado pela empresa privada ‘Celestis’ – fundada em 1994
em Houston, é a empresa pioneira em memoriais espaciais e atualmente oferece
diversos tipos de funerais a partir de perto de 3 mil dólares.
No momento, a primeira e única pessoa cujos
restos mortais repousam na Lua é o astrofísico e geólogo americano Eugene
Shoemaker, falecido num acidente de trânsito em 1997. Uma doença impediu-o de
se tornar astronauta quando foi recrutada a tripulação das missões Apollo. Com
o sonho de viajar para a Lua, só o cumpriu após a sua morte – para homenagear
sua figura, a NASA decidiu levar algumas de suas cinzas na sonda espacial
‘Lunar Prospector’, numa missão que descolou em 1998.
Desde então, esta empresa texana enviou
restos mortais humanos (cinzas ou ADN) de 2.500 pessoas, referiu o presidente
da empresa, Colby Youngblood, citado pelo jornal espanhol ‘El Mundo’ – foram
também transportados os restos mortais de uma dúzia de animais de estimação.
Há duas décadas, os funerais espaciais têm
sido uma opção definitivamente minoritária, e geralmente bastante desconhecida
da população. Mas, nos últimos anos, esses funerais que eram considerados uma
excentricidade estão a crescer junto com o aumento das missões espaciais
privadas.
Segundo Colby Youngblood, a procura pelos
serviços da sua empresa ‘Celestis’ tem crescido desde 2019, em média, 63% ao
ano. Atores como Tom Hanks, Patrick Stewart e Jonathan Frakes já manifestaram o
desejo de que parte das suas cinzas fossem para o espaço, garantiu a empresa.
Na mais recente missão, o foguetão ‘Vulcan’, que cumpria o seu voo inaugural, tinha a bordo a missão Enterprise, cujo destino é o espaço profundo – uma homenagem a ‘Star Trek’, e não só porque o seu nome era igual. Entre as cinzas dos 264 representados em ‘Flight of Enterprise’ estão novamente as de seu criador, Rodenberry, e as de sua mulher, Majel, além de vários atores da saga – Nichelle Nichols (que interpretou Uhura), Jackson DeForest Kelley (Bones McCoy) e Jimmy Doohan (Scotty). Fonte: Sapo
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