De um lado da cidade, um evento que celebrou a diferença e a integração dos imigrantes. Do outro, nacionalistas fizeram saudações nazis, exaltaram o ditador Salazar e acenderam tochas em protesto contra “não-portugueses”. Apesar de tudo, não houve violência.
O ensolarado sábado de inverno foi palco de duas manifestações distintas,
ontem, em Lisboa. Quem passou no Largo do Intendente, ao final da tarde, viu um
espetáculo de música, culinária diversa e cartazes com frases “Imigrantes,
bem-vindos”. Na rua ao lado, dezenas de indianos, paquistaneses e estrangeiros
de vários países assistiam timidamente à festa, filmavam e tiravam fotos.
Outros, seguiam o dia normal de trabalho, com restaurantes cheios de clientes e
especiarias no ar - ainda que alguns tenham decidido fechar as portas do
comércio, por medo. Quase todos se recusam a falar com a imprensa e apenas
observam mais ao longe, sem participar ativamente da celebração.
No palco montado, o ativista António Tonga, um dos organizadores do evento, diz que este é para “proteger as pessoas que vivem e trabalham na rua ao lado”, referindo-se à Rua do Benformoso. Acrescenta que os imigrantes “têm direito à sua existência e são pessoas como nós”.
Do outro lado do Largo do Intendente, onde existem várias esplanadas, turistas veem com graça a manifestação cultural, como mais um dia normal na cidade que abriga historicamente diferentes nacionalidades.
A manifestação reuniu centenas de pessoas de todas as idades, que repetiam a frase “Não passarão”. A polícia estava por perto, mas não foi registado qualquer incidente e o arraial seguiu noite adentro.
A menos de um quilómetro dali, o cenário era outro. O grupo nacionalista 1143, ano da fundação de Portugal, ocupou o Largo de Camões com uma manifestação contra a “Islamização da Europa”. As palavras de ordem eram “Portugal aos portugueses”, o hino nacional e exaltação ao ditador Salazar, além de palavrões e diversas saudações nazis. Jornalistas foram chamados de terroristas e aqueles que se manifestaram contra foram chamados de “fascistas” e “comunistas”.
O grupo também criticou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, por ter proibido a manifestação no Martim Moniz e por “ser casado com uma marroquina”.
Liderados pelo militante neonazi Mário Machado, com um extenso cadastro por crimes de ódio, os participantes usavam T-shirts e anéis do movimento 1143, que pretende “reconquistar Portugal”.
O líder classificou imigrantes de fora da Europa como “escumalha” e, em entrevista à comunicação social, culpou - sem justificar com quaisquer dados - os estrangeiros pela falta de atendimento na rede pública de Saúde e vagas nas creches, além de classificar como “atrasados mentais” todos os que apoiam a imigração, citando partidos de esquerda.Tochas acesas, como em Charlottesville
Esta última manifestação foi organizada através de grupos nas redes sociais e financiada por doações de simpatizantes. O dinheiro foi usado, por exemplo, para a compra de tochas de fogo, acesas no início do protesto. A cena lembrou a marcha de supremacistas brancos em Charlottesville, nos Estados Unidos, em 2017.
Alguns dos participantes usavam panos no rosto para esconder a identidade enquanto gritavam insultos aos imigrantes. A maior parte era de adultos do género masculino, vindos de diversas regiões do país. Mulheres e crianças também lá estavam.
O protesto contou com forte proteção policial, que criou uma “caixa de proteção”, como costuma fazer com as claques de futebol. De acordo com fonte oficial da Polícia de Segurança Pública (PSP), cerca de 200 pessoas participaram do protesto xenófobo - ainda que jornalistas no local contabilizassem muito menos: “Uma centena” para a Lusa; “cerca de 50” para a CNN Portugal.
Enquanto os nacionalistas desceram pelas ruas da Baixa-Chiado com tochas acesas, sempre aos gritos de palavras de ordem e mais saudações nazistas, os turistas nas ruas olhavam assustados, ou a gravar a cena com os smartphones. Alguns esconderam-se dentro de lojas e outros até choraram.
O momento mais tenso ocorreu quando se cruzaram com militantes antifascistas. Estes gritavam “25 de Abril sempre” e “Não passarão”, ao que os nacionalistas responderam: “Já passámos.”
A manifestação terminou frente à Câmara Municipal de Lisboa, onde foi colocada a faixa com a frase “Portugal aos portugueses”. À mesma hora, no Largo do Intendente, a festa continuava e o sábado dos imigrantes que escolheram Lisboa para viver também. Fonte: DN
No palco montado, o ativista António Tonga, um dos organizadores do evento, diz que este é para “proteger as pessoas que vivem e trabalham na rua ao lado”, referindo-se à Rua do Benformoso. Acrescenta que os imigrantes “têm direito à sua existência e são pessoas como nós”.
Do outro lado do Largo do Intendente, onde existem várias esplanadas, turistas veem com graça a manifestação cultural, como mais um dia normal na cidade que abriga historicamente diferentes nacionalidades.
A manifestação reuniu centenas de pessoas de todas as idades, que repetiam a frase “Não passarão”. A polícia estava por perto, mas não foi registado qualquer incidente e o arraial seguiu noite adentro.
A menos de um quilómetro dali, o cenário era outro. O grupo nacionalista 1143, ano da fundação de Portugal, ocupou o Largo de Camões com uma manifestação contra a “Islamização da Europa”. As palavras de ordem eram “Portugal aos portugueses”, o hino nacional e exaltação ao ditador Salazar, além de palavrões e diversas saudações nazis. Jornalistas foram chamados de terroristas e aqueles que se manifestaram contra foram chamados de “fascistas” e “comunistas”.
O grupo também criticou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, por ter proibido a manifestação no Martim Moniz e por “ser casado com uma marroquina”.
Liderados pelo militante neonazi Mário Machado, com um extenso cadastro por crimes de ódio, os participantes usavam T-shirts e anéis do movimento 1143, que pretende “reconquistar Portugal”.
O líder classificou imigrantes de fora da Europa como “escumalha” e, em entrevista à comunicação social, culpou - sem justificar com quaisquer dados - os estrangeiros pela falta de atendimento na rede pública de Saúde e vagas nas creches, além de classificar como “atrasados mentais” todos os que apoiam a imigração, citando partidos de esquerda.Tochas acesas, como em Charlottesville
Esta última manifestação foi organizada através de grupos nas redes sociais e financiada por doações de simpatizantes. O dinheiro foi usado, por exemplo, para a compra de tochas de fogo, acesas no início do protesto. A cena lembrou a marcha de supremacistas brancos em Charlottesville, nos Estados Unidos, em 2017.
Alguns dos participantes usavam panos no rosto para esconder a identidade enquanto gritavam insultos aos imigrantes. A maior parte era de adultos do género masculino, vindos de diversas regiões do país. Mulheres e crianças também lá estavam.
O protesto contou com forte proteção policial, que criou uma “caixa de proteção”, como costuma fazer com as claques de futebol. De acordo com fonte oficial da Polícia de Segurança Pública (PSP), cerca de 200 pessoas participaram do protesto xenófobo - ainda que jornalistas no local contabilizassem muito menos: “Uma centena” para a Lusa; “cerca de 50” para a CNN Portugal.
Enquanto os nacionalistas desceram pelas ruas da Baixa-Chiado com tochas acesas, sempre aos gritos de palavras de ordem e mais saudações nazistas, os turistas nas ruas olhavam assustados, ou a gravar a cena com os smartphones. Alguns esconderam-se dentro de lojas e outros até choraram.
O momento mais tenso ocorreu quando se cruzaram com militantes antifascistas. Estes gritavam “25 de Abril sempre” e “Não passarão”, ao que os nacionalistas responderam: “Já passámos.”
A manifestação terminou frente à Câmara Municipal de Lisboa, onde foi colocada a faixa com a frase “Portugal aos portugueses”. À mesma hora, no Largo do Intendente, a festa continuava e o sábado dos imigrantes que escolheram Lisboa para viver também. Fonte: DN
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