A
quatro meses de festejarmos 50 anos sobre a conquita da liberdade – Glória aos
Capitães de Abril! – ocorre-me lembrar, aos que andam esquecidos, que estes
militares, terminada a sua acção, entregaram, generosa e honradamente
os nossos destinos nas mãos de uma classe política que se esqueceu ou não
soube facultar conhecimento, civismo, cidadania, em suma, à sociedade que
aceitou governar.
Volto
a afirmar que, entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com
esta abertura à liberdade e à democracia, está a educação. E, aqui, a escola
falhou completamente. Se não mudarmos grande número dos paradigmas que têm sido
os nossos, não merecemos os cravos que os militares de Abril nos ofereceram.
A
iliteracia cultural e científica, mesmo aos níveis mais básicos, de uma grande
parcela da nossa população é a prova provada desse falhanço. Parcela
importante, a quem a Escola deu diplomas, mas não deu a educação, a formação e
a preparação essenciais a uma cidadania plena. Educação, formação e preparação,
três grandes défices que o Dr. António Costa, em começos do seu mandato, em
2015, como Primeiro-Ministro, disse serem sua grande preocupação.
Disse,
mas nada fez para o concretizar, no essencial.
É
verdade que se avançou, como nunca, no parque escolar. É verdade que o ensino
escolar gratuito e obrigatório atingiu o 12.º ano (antes era o 4.º), mas, com as
sempre honrosas excepções, os nossos jovens saem da escola marcados por uma
iliteracia científica e cultural confrangedora.
Pergunto
muitas vezes que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso
povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que
convide a pensar, a reflectir sobre si mesmo e sobre o que o rodeia. Um mundo,
tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa
sociedade está cheia, onde, de há muito, impera a corrupção, o vírus do futebol
profissional e a promiscuidade entre a política, o poder económico e a justiça.
Uma
parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma
comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao
grande capital.
Ocorre-me
dizer que levamos quase cinco décadas, em que o “gosto pelo saber” foi
institucionalmente substituído pela preocupação com o “sucesso escolar”,
visando as estatísticas. Claro que há muitos bons Professores que contrariam
esta política, mas a generalidade do sistema que governa este importantíssimo
sector da vida nacional, mais do que ensinar, promove a amestragem dos alunos a
acertarem nas questões que lhes são colocadas nos exames finais. Neste quadro
decepcionante todos perdemos. Perdem os professores, amarrados que estão a
directrizes que não controlam, perdem os alunos e, em consequência, perdemos
todos e perde Portugal.
Postas
esta considerações prévias, voltemos à luta dos Professores.
Devo
começar por dizer que tive pena do Ministro da Educação e do seu apagado
Secretário de Estado, ao vê-los vaiados por multidões de manifestantes.
Acompanho o seu desconforto no papel de escudo do seu próprio governo face à
pressão reivindicativa de professores, pais e alunos. É por demais evidente que
o Dr. João Costa ia para a mesa das negociações com os representantes dos
professores, bem ciente das “linhas vermelhas” que não podia ultrapassar ou,
melhor dizendo, que o ministro da Finanças lhe impunha. Mas o que me vem à
ideia, é que ele as aceitou, porque, caso contrário, teria “batido com a
porta”. Vemo-lo agora colado ao novo secretário geral do PS, cujas ideias, face
a este sector da sociedade, desconhecemos.
A
esperança é sempre a última a morrer. O edifício da Educação precisa de ser
demolido de raiz para, em seu lugar, esperemos que surja um outro, levado a
cabo NUMA PROFÍCUA COLABORAÇÃO ENTRE GOVERNOS E OPOSIÇÕES, para durar três ou
mais legislaturas e que envolva gente verdadeiramente capaz de o concretizar,
visando com especial atenção:
–
a escolha criteriosa dos titulares da respectiva pasta;
–
a completa revolução na respectiva máquina ministerial;
–
as dotações orçamentais adequadas;
–
a formação e a avaliação (a sério) dos professores;
–
os programas e os manuais de ensino;
–
a libertação de todas as tarefas que não sejam as de ensinar e outras, postas
em evidência nas suas reivindicações.
–
a necessária dignificação dos professores, num conjunto de acções, envolvendo
salários compatíveis com a sua relevância na sociedade.
A terminar, saúdo os professores (sem esquecer os educadores) das nossas escolas e reafirmo que os considero os pilares da sociedade e, uma vez mais, dizer a governantes e governados que é necessário e urgente restituir-lhes a atenção, o respeito e a dignidade a que têm jus." António Galopim de Carvalho ⧭
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