O aumento da multiculturalidade nas turmas, a falta de professores, nomeadamente profissionalizados, e o pouco investimento nas escolas poderão ajudar a explicar a regressão generalizada da performance dos alunos portugueses na avaliação PISA 2022. O JE acompanha o debate da sociedade portuguesa sobre o tema.
A quebra abrupta e
generalizada do desempenho dos nossos alunos em Português, Matemática e
Ciências na última avaliação do programa internacional PISA continua a
preocupar a sociedade. A FNE –
Federação Nacional da Educação, presidida por Pedro Barreiros, e a Associação
Para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET), liderada por
João Dias da Silva, assinalaram, na semana passada, o Dia Internacional da Educação 2024, com o
debate: “A Educação de que precisamos – Refletir o PISA 2022 e as políticas de
educação e formação para o futuro”.
O que
provocou a queda no desempenho dos alunos portugueses? Pode ser invertida?
Como? Os professores têm (algumas) respostas.
“Os alunos de hoje não são os alunos do passado. Hoje em dia
temos turmas muito heterogéneas com alunos de diversos países e
obviamente que em termos de resultados esta situação vai ter, naturalmente,
fortes implicações, o que leva também a que a formação dos professores e outros
profissionais tenha que ser diferente”, afirmou Josefa Lopes,
vice-Secretária-geral da Federação Nacional da Educação (FNE).
A professora alertou
igualmente para a falta de professores qualificados e de outros profissionais
dentro da escola. “Hoje em dia
temos muitos professores em escolas diversas do país onde quase um terço dos
professores não têm profissionalização. Não são docentes profissionalizados.
Obviamente que isto tem que fazer diferença nos resultados dos alunos”.
Há 50 anos quando Portugal abriu as portas à educação das suas
crianças, isso era compreensível, salientou Josefa Lopes, mas hoje em dia, isso
“não devia acontecer, caso tivessem sido tomadas as medidas necessárias para
atrair jovens para a profissão”.
A vice-Secretária-geral da FNE referiu também que neste PISA
2022, uma grande fatia de diretores das escolas apontou a falta de professores
não só em Portugal, mas em muitos países, salientou que os países onde as
performances dos alunos mais desceram foram aqueles onde as escolas estiveram
encerradas mais tempo durante a pandemia e chamou a atenção para a falha na
recuperação das aprendizagens no pós-pandemia.
Joaquim Santos,
secretário executivo da FNE, esclareceu que o PISA não avalia conhecimentos,
avalia competências, isto é, a forma com os alunos, na prática, utilizam no seu
dia-a-dia os conhecimentos que adquirem na escola. “Para termos bons resultados
nesta avaliação as escolas têm que estar preparadas para este tipo de ensino”,
começou por dizer. “Um ensino baseado ‘no antigamente’, nos conhecimentos dos
alunos não dará certamente muitos bons resultados no relatório PISA”.
Sobre o PISA 2022 disse: “A maior parte dos países pioraram o
resultados, mas esta lanterna amarela é também válida para Portugal”.
Apontou ao futuro, recomendando: “É muito importante que o
próximo Governo tenha talvez mais intensidade e mais vontade e mais promoção
nesta questão dos estudos de avaliação externa”.
Joaquim Santos salientou o facto de persistirem problemas de
saúde mental nos alunos em todo o mundo, levantou a questão da utilização de smartphones nas escolas e da transição digital em curso e questionou:
Até onde devemos ir? Até onde devemos ir, por exemplo, nos manuais digitais e
noutros materiais?
Anabela Serrão, vogal do Conselho Diretivo do Instituto de
Avaliação Educativa (IAVE) – instituição que coordena a nível nacional o estudo
do PISA, referiu que desde 2012 na
OCDE já se poderia verificar uma ligeira quebra, contabilizada agora por este
organismo, numa decida de 5 pontos a cada ciclo do estudo.
“Esta é uma tendência que preocupa e muito a OCDE” que quer
perceber qual é a parte desde quebra entre 2018 e 2022 que já vinha acontecendo
e quais as razões e qual é a parte da descida que cabe à pandemia.
De acordo com os
resultados publicados no passado 5 de dezembro, em 2022, Portugal que integra o
PISA desde 2000, caiu em 2022 em todas as matérias em avaliação, registando um
desempenho de 472 pontos em Matemática (-20.6 que em 2018), em Ciências (-7.3)e
477 em Leitura (-15.2).
Recentemente,
o ministro da Educação, João Costa, prestou esclarecimentos
no Parlamento sobre as razões que estão na base da regressão generalizada da
performance dos alunos portugueses no Programa de Avaliação
Internacional dos Alunos e nas Provas de Aferição.
O próximo PISA vai ser em 2025 e a partir daí os ciclos desta avaliação internacional, conforme já acordado com os governos, vão passar a ser de quatro anos. Fonte: Sapo
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