Ao contrário do exposto no inquérito anterior, o Segundo Grande Inquérito sobre Sustentabilidade e Alimentação em Portugal revela que “os portugueses valorizam mais as questões ambientais por causa da saúde e estão mais conscientes de problemas como o desperdício alimentar, ou o uso de pesticidas ou de antibióticos nos produtos alimentares”, sublinha a investigadora Luísa Schmidt ao Expresso. A constatação tem por base o estudo – conduzido por uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e coordenado pelas investigadoras Luísa Schmidt e Mónica Truninger – lançado em livro, esta quinta-feira.
Se é certo que o documento evidencia que “em Portugal comemos açúcar, sal e gorduras a mais, e legumes e frutas a menos”, também o é que “estes problemas são agravados pelas desigualdades que caracterizam o tecido social do país”. Mas as coisas começam a mudar e os portugueses têm consciência de como têm andado a comer mal e estão disponíveis para mudar os seus hábitos alimentares. As pessoas com mais escolaridade e de classes sociais mais elevadas, e em particular as mulheres e famílias com filhos pequenos, são as que revelam maior predisposição para a mudança.
MENOS CARNE E MAIS PRODUTOS DE PROXIMIDADE
“Além de revelarem maior predisposição para reduzir o consumo de produtos de origem animal (como carne), os inquiridos revelam dar mais importância à produção de proximidade e às cadeias de consumo curto”, diz Luísa Schmidt. E a esta predisposição acresce a necessidade de valorizar espaços verdes perto de casa, o que foi acentuado pela pandemia de Covid, cuja análise acrescentou um novo capítulo ao livro.
“Os inquiridos também identificam a necessidade de o Estado ter um papel de definidor de políticas públicas para uma alimentação saudável”, acrescenta a socióloga.
Luísa Schmidt esclarece “a pandemia expôs as desigualdades sociais, sobretudo relacionadas com as condições de conforto na habitação e a importância da sua proximidade a espaços verdes”. Também os hábitos de consumo foram alterados pela pandemia, com mais gente a comer em casa, cozinhando ou encomendando “take away”.
Os inquéritos aplicados à população portuguesa procuram analisar as representações e práticas sobre sustentabilidade e alimentação nas suas várias dimensões, tendo em conta os problemas ambientais globais. Os estudos resultam de trabalho do Grupo de Investigação de Ambiente, Território e Sociedade, no âmbito do projeto Observa, e contam com o apoio da Missão Continente. @ Expresso
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