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quarta-feira, 4 de maio de 2022

como a solidão faz mal à saúde

 


Saúde mental mais fragilizada, obesidade e problemas cardíacos. Estas são apenas algumas das consequências diretas da solidão.

Por definição, “a solidão é um sentimento subjetivo e relaciona-se com ausência de contacto e de sentimento de pertença ou com a sensação de se estar isolado”, escreve a Direção-Geral da Saúde. A solidão é uma das principais responsáveis pelo isolamento, mas pode também ser uma consequência direta dele mesmo, qual círculo vicioso em que a pessoa se isola por se sentir só e sente-se só porque está isolada.
Por ser um sentimento, a solidão varia muito de pessoa para pessoa e vê-se à mercê de vários fatores, intrínsecos ou extrínsecos, como explica um artigo publicado na Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar em 2018. Mas uma coisa é certa: não olha a géneros, nem tão pouco a idades. E o percurso de vida, sobretudo quando marcado por “experiências negativas nas relações com os outros”, pode ser determinante para uma maior vulnerabilidade à solidão, diz Marta Calado, psicóloga na Clínica da Mente.
São vários os gatilhos que deixam uma pessoa mais vulnerável à solidão e à vontade de se isolar e a psicóloga Ana Valente dá exemplos: “viver sozinho, condições económicas mais frágeis, doenças que condicionam a mobilidade, ser cuidador informal, viuvez, desemprego, o local onde se vive, se está mais junto de outros ou não”. Mas, destaca, a solidão “muitas vezes tem a ver com a nossa saúde psicológica e com a nossa história de vida, que pode contribuir para que estejamos mais sozinhos e isolados e para que haja o desenvolvimento de sentimento de solidão”. 

Apesar de ser associada ao isolamento, a solidão pode afetar uma pessoa até mesmo quando está em casa, junto da sua família, perto dos seus amigos, no seu local de trabalho. Há quem se sinta só mesmo quando tem companhia e a pessoa consegue percebê-lo “quando não se sente integrada, se sente rejeitada”. 

Esta "solidão acompanhada" “é uma das muitas experiências que faz com que o indivíduo ganhe mecanismos de defesa, de proteção e não se exponha tanto aos outros”, no entanto, “sem se aperceber, acaba por levar uma vida mais centrada em objetivos individuais ou restrita a grupos”, até porque a pessoa pode sentir-se só na presença apenas de determinadas pessoas ou grupos e não sempre que está acompanhada, diz Marta Calado. De acordo com a psicóloga, a pessoa pode carecer de um sentimento de pertença em casa junto da família, mas encontrá-lo “na família do coração, que são os amigos que escolheu”.

A psicóloga Ana Valente acrescenta que este sentimento de solidão quando não se está efetivamente sozinho foi notório em tempos de pandemia, sobretudo junto dos mais novos, que “não conseguiram ter sentimentos de pertença, não se conseguiram identificar” com quem dividiam teto.

O sentimento de solidão na presença de outras pessoas causa aquilo a que Marta Calado chama de “conflito interno”, uma “ambiguidade emocional, com impacto psicológico e comportamental”, especialmente quando a solidão é sentida junto de pessoas com que se está constantemente, como pode acontecer em ambiente familiar ou laboral. E qual o resultado disso? “A pessoa distancia-se mais, não fala tanto, não é tão interventiva, tenta ausentar-se dessas situações o mais rapidamente possível para se resguardar na sua bolha”, explica a psicóloga da Clínica da Mente.

Prevenir a solidão e evitar o isolamento

“Cabe a todos nós ter o papel comunitário e dentro da sociedade”, diz Ana Valente. A psicóloga defende que “cuidar dos nossos, sejam família ou vizinhos” ajuda a que quem está só deixe de se sentir (pelo menos tão) só, seja porque está a ser ajudado ou porque está a ajudar. “Todos podemos fazer algo no combate à solidão, até porque isso é muito positivo para o bem estar e saúde mental de quem ajuda”, frisa.

Ana Valente considera ainda que o “autocuidado” deve ser o ponto de partida, incluindo-se nesta tarefa hábitos como “cuidar da saúde física e mental, fazer atividade física e ter uma alimentação saudável”. Mas é também preciso saber filtrar e, sobre isto, a psicóloga fala da importância de “ter algum cuidado e filtrar informação e programas de televisão”, sobretudo os que optam por conteúdos mais dramáticos e que podem levar a estados de tristeza - “faz com que vivamos as dores e sofrimento alheio”, acrescenta Marta Calado.

Um dos segredos para que a pessoa não sinta necessidade de se isolar é “fazer coisas de que gosta e isto é à medida de cada um, pode ser ouvir música, dar uma caminhada, fazer voluntariado, encontrar um papel ativo dentro da comunidade em que a pessoa está inserida”, sendo este último ponto mais vantajoso até para os mais velhos, sobretudo quando se reformam e perdem a rotina habitual e até, em alguns casos, o seu propósito. 

Apesar de as redes sociais serem associadas ao isolamento, em alguns casos podem ser a ferramenta essencial para manter contactos e encurtar distâncias, diminuindo a sensação de solidão - o isolamento físico mantém-se, mas manter ligações com outros, mesmo que digitais, pode ajudar a pessoa a sentir-se menos só. 

Devemos fazer um uso saudável das nossas tecnologias, com costumo dizer, não há bela sem senão, mas [a tecnologia] pode ser um recurso muito positivo no combate à solidão, não ao isolamento mas à solidão. Devemos fomentar os contactos via tecnologias, não devendo ser a única forma de o fazer, mas permitem diminuir sentimentos de solidão”, conclui Ana Valente. @ CNNPortugal

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