Um dos trunfos do
Governo para atrair jovens para o ensino – o regresso dos estágios remunerados
nas escolas – surpreendeu: só vão ser autorizadas a criação de núcleos de
estágio nas regiões onde há escassez de docentes, ou seja, os estudantes teriam
de ir para Lisboa ou para o Algarve, o que causou não só o descontentamento nas
escolas e faculdades de educação, mas também entre o grupo de trabalho que
aconselhou o Ministério da Educação nesta reforma.
Os docentes estagiários terão uma remuneração
de cerca de 1.600 euros mensais brutos para um horário completo. Com este
regime de estágios, “os estudantes usarão a sua remuneração para pagar um
quarto barato e pouco mais, em regiões onde o custo de vida é maior do que o da
cidade onde vivem”, lamentou Alexandro Franco de Sá, coordenador do Conselho de
Formação de Professores na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
A necessidade de se deslocarem para Lisboa ou
Algarve é motivo de preocupação entre os estudantes. “Tenho alunos do primeiro
ano que já me disseram: ‘Se tiver de ir estagiar para Lisboa, não vou.’”,
reconheceu Carlos Teixeira, diretor da Escola Superior de Educação de Bragança.
“Não é um princípio bem pensado. A formação de professores foi condicionada
pela necessidade de suprir a falta de docentes”, apontou o também presidente da
Aripese, associação que reúne várias escolas superiores de educação.
“Para o Ministério da Educação, foi a forma
“de tentar arranjar professores rapidamente e em força, procurando-os por todo
o lado onde possam brotar”, acusou Franco de Sá. “O Governo diz que acabou com
os professores de casa às costas, mas quer substituí-los por estudantes de casa
às costas.”
Não são apenas as escolas a criticar a intenção do Governo: no grupo de trabalho que recomendou a reforma reina a insatisfação sobre a versão final do diploma. “Está imensamente longe do que foi proposto. Este diploma acaba por assegurar uma formação de professores pior do que a tínhamos até aqui”, garantiu a coordenadora Carlinda Leite. Fonte: Sapo
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