Perto de 8 mil de
professores, ao abrigo da chamada vinculação dinâmica, vincularam no ano
passado e este ano estão obrigados a concorrer a todo o País. Perante esta
realidade, há já centenas de docentes nesta situação que admitem deixar a
profissão caso sejam obrigados a concorrer à totalidade do País, porque não
entendem o porquê de voltar a dar aulas a centenas de quilómetros de casa.
São os casos de Tatiana e Liliana. A primeira é professora desde 2003 e tem dois filhos menores, mas é obrigada a fazer 160 quilómetros diariamente. “Está fora de questão ir para mais longe. Se for o caso, peço exoneração”, afirma. Já Liliana, professora há 21 anos, diz que se ficar longe, desiste. “Como contratada, já ficava perto. Haverá outras coisas para fazer. Já não tenho 20 anos e tenho três filhos pequenos e pais doentes, que nem médico de família têm, a precisar do meu apoio”, lamenta.
Já Cristiana que é de
Espinho, reside em Portimão depois de se ter mudado para a região do Algarve,
precisamente para evitar andar de um lado para o outro, todos os anos. Agora,
colocada em Lagoa, a professora de Inglês teme voltar a ficar colocada a centenas
de quilómetros de casa.
“Tenho um filho de
três anos. Adiei a maternidade, precisamente à espera de alguma estabilidade
profissional que me impedisse de o deixar para trás ou de ter de andar com ele
às costas. Se não ficar no Algarve, o que vou fazer é rescindir”, lamenta ao mesmo
canal.
Nestes casos, se os
professores que aderiram à vinculação dinâmica concorrerem, ficarem colocados e
não aceitarem o horário, ficam impedidos de concorrer pelo menos durante dois
anos. Apenas podem concorrer a ofertas de escola.
A professora, que se
admite “muito arrependida”, como outros, de ter aderido à vinculação explica
que o concurso em março e abril “vai ser muito diferente”. “Por exemplo, um
professor vincula em Lisboa, na esperança de aproximar através da mobilidade à
sua área de residência, que é Aveiro. Está a dar aulas em Aveiro, mas tem de
concorrer ao seu QZP que é Lisboa. A professora que estava a dar aulas no lugar
dele em Lisboa é obrigada a ir embora e vai parar ao Algarve. Uma professora
que estava no Algarve tem de sair para essa ficar e vai parar a Beja… Se a que
ficou no Algarve rescindir, não há volta atrás… A que está em Beja, não pode
voltar para o Algarve, porque nem sequer foi avisada que a colega rescindiu… o
lugar será preenchido por um contratado ou por uma contratação de escola. Vamos
andar a roubar lugares uns aos outros”, denuncia.
Cristina Mota, do
movimento cívico de professores Missão Escola Pública, alerta que a penalização
dos docentes que recusarem horários deve ser revista, apontando que irá
resultar num aumento do número de horários por preencher.
O movimento denuncia
que a vinculação dinâmica foi “uma ratoeira”, já que o número de vagas lançados
em alguns quadros de zona pedagógica (QZP), onde normalmente não havia vagas,
neste concurso tinham número significativo de lugares. “Tudo indica que aquelas
vagas eram fictícias e que serviram de engodo para os colegas concorrerem,
convictos de que, se havia vaga, mesmo que tivessem de concorrer este ano ao
país inteiro, ficariam sempre naquele QZP ou ali perto. E é isso que causa
indignação”
Marta Ribeiro, de 40
anos é professora de Inglês há 17 anos, diz não se arrepender de ter aderido à
vinculação dinâmica, mas lamenta que não lhe tenha trazido a estabilidade que
esperava, uma vez que já deu aulas no Algarve, Alentejo e Lisboa.
“Querem obrigar
pessoas com estabilidade familiar a percorrer o país inteiro. Deixamos de ter a
casa as costas e passamos a ter a família às costas”, lamenta. Perante a
realidade de ter que concorrer a todo o País no próximo ano letivo, já definiu
um limite: se ficar a mais de 60 quilómetros de casa e das filhas menores, diz
que vai deixar o ensino.
“Já vários professores pediram a exoneração este ano. Não é um problema futuro. É um problema de hoje”, avisa a professora, alertando que a lista de professores em falta irá continuar a crescer. Fonte: Sapo
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