Tal como acontece com o consumo compulsivo de álcool ou drogas ilícitas, o uso descontrolado dos ecrãs e internet pode ter efeitos perigosos para a saúde dos dependentes.
“A dopamina é o neurotransmissor que está associado ao prazer”, lê-se no estudo Scroll. Logo existo! elaborado por uma equipa da universidade Lusíada e que vai ser apresentado esta manhã no Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências (ICAD).
Tal como na utilização compulsiva de substâncias como o álcool ou drogas, o cérebro humano está no centro da adição à internet e às redes sociais.
“A dopamina é o neurotransmissor que está associado ao prazer”, lê-se no estudo Scroll. Logo existo! elaborado por uma equipa da universidade Lusíada e que vai ser apresentado esta manhã no Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências (ICAD).
Tal como as drogas, álcool, jogos de azar, sexo, comida e até mesmo o exercício físico, [a dependência da internet e das redes sociais] implicam mudanças nesse neurotransmissor. Tornamo-nos dependentes do intermitente e imprevisível fluxo de dopamina que passa a ser classicamente associado à substância ou comportamento que utilizamos. Este é o enquadramento para a internet”. E, tal como noutras adições, também a privação de acesso à internet, ou redes sociais, pode implicar sintomas de privação. “No caso da internet podemos observar aspetos de tolerância e abstinência com concomitante desconforto físico, principalmente na forma de sintomas semelhantes aos de ansiedade e irritabilidade elevada, quando os pacientes interrompem ou alteram os seus padrões de uso”.
As consequências da adição aos ecrãs e internet podem ser graves. “A investigação sugere que o uso da internet como mecanismo de compensação pode ser semelhante à automedicação, álcool e outras drogas psicoativas”.
O uso generalizado de telemóveis tem vindo a potenciar os problemas de adição aos ecrãs e internet. O Scroll. Logo existo! utiliza diversas fontes para chegar a outras tantas conclusões. O Datareportal é uma delas e dá conta que, em 2022, 8 milhões e 63 mil portugueses usavam a internet, o que corresponde a 85% da população residente no nosso país. Oito milhões e meio de portugueses são utilizadores de redes sociais. O Facebook continua a ser muito popular e é usado por cinco milhões e 95 mil portugueses. Ao mesmo tempo, o estudo da Lusíada aponta que cada português passa, por dia, cerca de oito horas ligado à internet. “Esta tendência confirma a tese da necessidade de estarmos on e, cada vez mais, a internet se assume como elemento básico das nossas necessidades”, lê-se no estudo. “Igualmente, no projeto de investigação denominado O uso das redes sociais e as competências digitais dos portugueses os resultados apontam, também, para uma tendência, cada vez maior, de penetração da internet na vida dos portugueses e, cumulativamente, uma necessidade (em alguns casos obsessão) de estar nas redes sociais”.
Mas, afinal, qual a linha que divide a utilização normal da internet e das redes sociais, da adição a estas ferramentas? “O problema está quando nos tornamos dependentes e não conseguimos controlar os nossos impulsos, sobretudo para fins lúdicos, de diversão, jogos e sexo online. Estes são alguns dos padrões de utilização que nos devem causar alerta”, lê-se, no mesmo estudo.
O Scroll. Logo existo! compara, para uma compreensão mais ampla dos problemas de dependência da internet e dos ecrãs, esta adição com outras. “Podemos dizer que o consumo digital se equipara, numa escala ainda maior, ao consumo de tabaco. Olhemos à nossa volta. Encontramos mais pessoas a fumar cigarros ou a olhar para o ecrã do telemóvel? (...) A utilização de qualquer bem ou serviço de forma descontrolada pode tornar-se um problema. O facto de substâncias como o álcool e outras drogas que alteram o humor criarem uma dependência física e/ou psicológica é bem conhecida (...). Mais recentemente, tem havido um reconhecimento de que o desempenho compulsivo destes comportamentos pode despoletar processos de dependência idênticos aos encontrados nas drogas, álcool e outras substâncias”, lê-se, no estudo da universidade Lusíada. “O uso da internet pode ser um comportamento aditivo que pode gerar um padrão de uso compulsivo que possivelmente leva a um padrão de uso repetitivo e descontrolado”, enfatiza o mesmo estudo.
Hoje em dia a internet tornou-se parte das vidas de (quase) todos. “O uso descontrolado da tecnologia é um sinal dos tempos. Um sinal negativo do quanto estamos absorvidos pelos ecossistemas digitais, em que a internet e as redes sociais encabeçam esta realidade”. E, tal como em outras adições, “o consumo tecnológico atravessa todas as classes sociais, idades e profissões. Progressivamente, as rotinas passam a ser intermediadas pelo click e pelo scroll. O uso do smartphone e do computador deixou de ser ocasional e passou a ser regular. A linha que separa o uso regular do uso patológico ou aditivo tornou-se ténue”, avisa o projeto Scroll. Logo existo!.
Todos os sinais de alarme tocam quando alguns dos entrevistados, neste estudo, referem que “começam a utilizar logo de manhã ao acordar e a conectar-se às redes, bem como antes de dormir”. Fonte: DN
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