Investigador portuense José Bessa descobriu que há equivalência de funções nos genomas não-codificantes do pâncreas do peixe-zebra e do humano, o que permite estudar melhor algumas doenças, como o cancro do pâncreas ou a diabetes.
Investigador José Bessa observa cultura de peixes-zebra no Instituto i3S, no Porto |
Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), liderada pelo cientista, descobriu que existe equivalência de funções nos genomas não-codificantes do pâncreas humano e do peixe-zebra. Publicada na revista Nature Communications, a descoberta posiciona o peixe-zebra como um modelo ideal para compreender melhor algumas doenças humanas, como o cancro do pâncreas ou a diabetes, sobre as quais José Bessa tem focado o seu trabalho de investigação, e que, sabe-se já, resultam em parte de alterações no genoma não-codificante.
peixe-zebra |
A escolha deste animal modelo deve-se à grande semelhança entre o pâncreas do peixe-zebra e o pâncreas humano, aponta o investigador portuense. Humanos e peixes têm um ancestral comum, partilhando muitas sequências genéticas "conservadas" (aquelas que apresentam funções essenciais ) ou semelhantes. Ao nível de genoma não-codificante, no entanto, o que se conhecia é que existia uma grande divergência. Mas a grande descoberta feita agora por José Bessa e pela sua equipa revela que, apesar dessas sequências não-codificantes serem divergentes, elas ainda assim partilham funções semelhantes. Ou seja, sublinha o investigador, "verificámos que existe uma equivalência funcional, o que é extraordinário, porque abre caminho para muitos estudos das doenças do pâncreas e outras que apresentem fatores genéticos".
"Uma das descobertas mais interessantes dos últimos anos, nesta área, é que tanto o cancro pancreático, como a diabetes, têm uma componente hereditária. Há pessoas com probabilidades maiores de desenvolver estas doenças porque na família existe historial da doença. Isso representa que existem alterações genéticas no nosso genoma que fazem com que as pessoas tenham mais propensão para a doença", descreve José Bessa.
Ora, a pergunta que orienta a investigação da sua equipa, e que originou este projeto financiado pelo Conselho Europeu de Investigação em 1,5 milhões de euros, é "onde estão essas alterações genéticas"?
"Têm-se feito estudos de associação genética para identificar marcadores no genoma das pessoas que desenvolveram a doença [seja o diabetes de tipo 2 ou o cancro pancreático] e ver quais as semelhanças genéticas entre elas. E quando se começaram a desenvolver esses estudos para ver quais as regiões onde se verificam as alterações genéticas, verificou-se que se encontram muito frequentemente no genoma não-codificante", explica.
Para José Bessa, "esta publicação é o culminar de vários anos de trabalho em que nos temos centrado, para compreender como o ADN não-codificante controla o funcionamento do pâncreas", mas poderá ter "um impacto muito profundo também no estudo de outras doenças humanas, pois apresentámos uma nova estratégia para identificar elementos reguladores funcionalmente equivalentes, mas não conservados, entre as diferentes espécies". "A prova de princípio é transversal e abre portas a estudar com detalhe o impacto das alterações no genoma não-codificante para diversas doenças com componente genética", refere o cientista. @ DN
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