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segunda-feira, 15 de julho de 2024

50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (8)

No âmbito das comemorações dos 50 anos da ESÁS, o CRESCER continua a ouvir várias pessoas envolvidas no crescimento da escola. Desde os fundadores até aos dias de hoje, muitos têm sido os que manifestaram vontade em colaborar. 

Hoje, e para finalizar estas histórias criadas neste ano letivo, chegamos aos anos 90 e quem nos conta as suas experiências de alunos são atuais docentes de Biologia e de Educação Física da casa, Mafalda Torres e Daniel Braga, respetivamente. 

Mafalda Torres, docente de Biologia e Daniel Braga, docente de Educação Física

O CRESCER queria que este fosse um momento de conversa partilhada, até porque o que separa os dois convidados é um ano de vida. Por isso, pertenceram a turmas diferentes, em anos distintos, embora ambos tenham sido alunos de Científico Humanísticos no Secundário da nossa escola. 
E assim foi. Palavra puxa palavra, lá fomos conversando.

Mafalda 1992/93
Mafalda 1997/98
A Mafalda Torres foi aluna da ESÁS desde o seu 7.º ano até ao 12.º. Frequentou a escola desde 1992/93 até 1997/98 (ver fotos).
O Daniel Braga foi aluno da ESÁS, também do 7.º ano até ao 12.º. Mas frequentou a escola desde 1993/94 até 1998/99.

Foi uma conversa de memórias. De memórias partilhadas. Provavelmente, esta foi a conversa mais informal que o CRESCER teve até agora. Talvez porque havia dois convidados, que em comum tinham a experiência de terem sido alunos ESÁS e agora têm em comum serem professores ESÁS. Por isso, muitas vezes as vozes confundiram-se e o CRESCER não as vai distinguir. O leitor sentirá quando forem distintas.

Trabalho desde 2003/04, mas quando aqui cheguei em 2011, para um horário de 6 horas, foi a concretização de um sonho, uma festa. Como dizia o André Villas Boas, para mim, ser professor na ESÁS era “a minha cadeira de sonho”. Fiquei tão feliz que pensei em deixar a outra escola onde me encontrava e ficar apenas nesta. Mas o Professor Ferreira aconselhou-me a não o fazer e só em 2013 consegui o lugar, no Concurso por Mobilidade Interna. Saí, entretanto, mas há cinco anos que estou cá, ao abrigo da Mobilidade por Doença. Em termos de quadros, encontro-me há longos anos como QZP em Leiria. 

(Depois desta conversa, o professor Daniel Braga soube ter-se aproximado um pouco, ficou colocado no QZP de Coimbra, porém, aguarda a sua sorte na colocação ao abrigo da Mobilidade por Doença.)

Mas porquê toda essa felicidade, Daniel?

Porque fui cá aluno entre o 7.º e o 12.º ano, fui muito feliz aqui e sempre sonhei voltar a este lugar.

Como aluno, estudei em Pedrouços e vim para aqui no 7.º ano. Conhecia toda a gente: o Bino, a Esmeralda, as pessoas, o local, isto era a nossa casa, o prolongamento da nossa casa.

Atualmente, mesmo tendo em conta que a escola está diferente, ela conserva muito do que tinha no nosso tempo. E muito do que se vive aqui tem a ver com a Direção. Não há muitas escolas com uma Direção com o espírito humanista que esta tem. Aqui, a Direção trabalha de porta aberta e o nosso Diretor trata-nos por “rapaz” ou “rapariga”. Isso faz toda a diferença. Aqui, as pessoas querem ficar, mesmo com a escola grande como é e com os problemas que sabemos ter, muito por ter atingido a dimensão que tem.

Trabalhei em escolas do centro do Porto, noutras do interior do país, e a diferença é enorme. Não só a realidade dos alunos, como as Direções. Eu tive problemas de saúde (pessoais e na família) e a Direção foi sempre impecável. Tenho uma grande dívida de gratidão.

Daniel Braga, no meio;
a menina, à direita na foto, é a namorada Sandrina
Festa de Carnaval 1999

Quando falo aos pais e EE, como Diretor de Turma, de como foi importante frequentar esta escola, do que nela aprendi, da formação que me deram, e lhes digo que o professor ou a professora X, Y ou Z foram meus professores e ainda cá estão, quero mostrar-lhes que o espírito que me cativou como jovem ainda se mantém.

A Mafalda Torres trabalha desde 2002/03, chegou à ESÁS com professora no ano de 2017, mas começa por recordar a ESÁS como aluna.

O que recordas com mais ternura e nostalgia, Mafalda?

Recordo as festas de Natal, do Fim do Ano e as de Carnaval… Era “a escola das festas”. Vinha gente de longe para assistir.  

E recordo com muita saudade e carinho o polivalente"Ah, era tão fixe!" (ambos) Enchia nos intervalos. Ali acontecia tudo. Sentávamo-nos nos bancos ou nos degraus que davam para o palco a conversar, a jogar, a lanchar... Faz muita falta! 

Ah, também me lembro da rádio, disse o Daniel. Pertenci à equipa ao longo de um ano, passávamos música nos intervalos, sujeitos a uma playlist previamente decidida em reunião. Agora, os miúdos andam pelos corredores. A cantina não é o polivalente. É muito diferente!

Ah! E também recordo o envolvimento dos professores, disse a Mafalda. Eles participavam em tudo. Faziam os seus números nas festas e divertiam-se. Nós gostávamos de ver.

Sim, o que valorizo mais são os professores, sobretudo a partir do Secundário. Tive muito bons professores, professores excelentes! Muito dedicados e amigos. 

E recordaram variadíssimos professores, sempre pelos melhores motivos, e contaram peripécias, boas e até engraçadas. 

"o pato" (de peluche), o animal que não podiam ter
uma prenda do casal Daniel/Sandrina

"diploma", uma prenda do 9.º ano
de Ana Mafalda Torres
Ficavam connosco nos intervalos, a tirar dúvidas ou a conversar. Faziam-nos festas-surpresa. Organizavam muitas visitas de estudo. Alguns ofereciam uma ou outra “prenda”! (ver foto do "diploma" e do "pato")
Eu até cheguei a ir a casa de duas professores: no caso de uma, para acabar um trabalho de grupo, com mais duas colegas; no caso da outra professora, para ajudar a incluir na turma uma aluna que tinha sido mãe. 
E davam muitas aulas suplementares para nos prepararem para os exames! Eram muito cúmplices.

A propósito de cumplicidade, o CRESCER revela uma história curiosa, com a sua permissão: o professor Daniel Braga começou a namorar com a sua esposa, no 10.º ano, era ela sua colega de carteira. Mas os pais da namorada não queriam que ela namorasse para não se desconcentrar do seu objetivo, que era a Medicina. Todos os professores sabiam que eles namoravam, mas mantiveram o segredo, pois o Daniel melhorava cada vez mais a sua prestação e a menina não perdia o foco. Tanto assim é, que o Daniel subiu a sua média e tirou o curso que pretendia, no FCDEF, e a menina o seu curso de Medicina, no S. João, ambos na UP. O professor Daniel acha que o namoro ajudou os dois. Ele era muito disperso e aprendeu a concentrar-se. Ela era muito focada e ficou um pouquinho mais flexível. Arranjaram ali um ponto de equilíbrio que nenhum professor ousou desconstruir e revelar.

Agora, a propósito de objetivos, a Mafalda Torres recorda que, desde que se lembra, sempre quis ser professora. E feliz ou infelizmente (disse, lembrando a precariedade da classe) isso aconteceu. Então, sabia que se sofresse de desgostos amorosos (tão típicos da idade), tal não poderia interferir na sua vida académica. E assim foi. Concluiu o 12.º ano com belos resultados e enveredou pelo curso de Biologia, que fez com facilidade.

Um e outro gostavam tanto da escola que se lembram de os rapazes saltarem o muro, aos fins de semana, para irem para os campos jogar futebol. As raparigas passavam por entre as grades para conviverem no recreio. A escola era, para eles, um prolongamento de casa.

E sentiram diferença entre a escola do tempo de alunos e a escola do tempo de professores?

Sim. Uma coisa estranha foi a dimensão da escola. Outra foi não haver livros de ponto. Outra, ainda, foi a pouca diversidade de estilos e os “furos”.

Como assim?

Quando éramos alunos, a escola não tinha sido ainda intervencionada, era pequena, havia livros de ponto, e nós, no polivalente, víamos que todos os professores iam à sala de professores para os irem buscar. Havia lá um bar, conviviam muito e estavam sempre divertidos. Era quase um sonho vê-los sair dali. Nós também queríamos esse convívio, essa alegria. Mas agora já não há livros de ponto, há mais distância entre pavilhões e os professores já não têm de ir buscar os livros de ponto, pelo que cada um fica na área que lhe é mais confortável. Já não há aquele convívio!

Outra coisa curiosa era que na época havia uma grande diversidade de pessoas/alunos e todos nos dávamos bem. Nos anos 90 havia metaleiros, punks, os que vestiam de preto, os mais “cromos” e até muitas grávidas, mas tudo corria bem. Até quando havia "ameaças de bomba"! Atravessávamos a rua e ficávamos à espera de poder voltar a entrar. (risos)

Ah, e quando chovia? (riram muito) Não havia aulas de Educação Física, pois não havia pavilhão. Tínhamos "furo" e isso era bom. Hoje, os miúdos não sabem o que isso é.

Apesar de tudo, e apesar das diferenças, continua a ser muito bom estar aqui. A informalidade que ainda existe é boa e a capacidade de gerir esta casa é de excelência.

E agora que a ESÁS faz 50 anos, vive-se um momento muito nostálgico, não? 

Sim, pelo menos para mim, é. Quando houve a reunião de preparação das comemorações dos 50 anos (em janeiro), eu decidi participar porque sou professora nesta escola, mas sobretudo, porque fui aluna nos idos anos 90. E fui uma aluna que viveu uma escola realmente feita de afetos e de muitas mãos. Fui aluna num tempo em que os professores podiam dedicar-se à escola e aos alunos de uma forma que hoje não nos é possível.

Nessa reunião, falou-se da união existente entre um corpo docente estável e que, por esse mesmo motivo, podia criar raízes e projetar sonhos. Hoje, isso não nos é permitido.

As lágrimas assomaram-me aos olhos ao ver alguns dos meus professores (uns ainda no ativo e outros não) com a mesma garra e a mesma vontade de participar em mais uma festa da nossa escola. Provavelmente não estarei cá no próximo ano letivo, mas terei todo o gosto em participar também nesta comemoração.

Saí da reunião de coração cheio, por vários motivos: porque senti que o carinho que tenho pelos meus antigos professores é recíproco; porque reconheci nos presentes o espírito da Escola Secundária de Águas Santas; porque me senti parte desta escola; porque esta escola é parte de mim.

E num mar revolto como hoje é o da educação, permanece a esperança de que tudo não passe de uma tempestade e de que amanhã o sol volte a brilhar e a Escola renasça com mais afetos e mais mãos, com um passado e um presente para o futuro!

(Depois desta conversa, a professora Mafalda Torres soube que sairia da escola, para uma outra que, certamente, ganhará com a sua doçura e profissionalismo.)

Chegados ao fim desta conversa, pedimos aos professores Daniel Braga e Mafalda Torres que deixassem uma mensagem à escola que os viu crescer e que lhes deu colo e que agora lhes dá oportunidade de exercerem a sua atividade profissional. Aqui ficam as mensagens:

“A ESÁS foi, é e sempre será uma escola de amizade, camaradagem, sonhos e conquistas. Os alunos crescem em conhecimento, sentimentos e valores e os professores deixam sempre um pouco de si.” Ana Mafalda Torres

A ESÁS não foi para mim mais uma escola, mas A Escola. Aqui fiz amigos para a vida, encontrei o amor da minha vida e tive também professores de excelência, que agora me orgulho de chamar colegas. Verdadeiras referências de competência e de humanidade." Daniel Braga 

Desta vez, confesso que tive alguma dificuldade em escrever este "conta-me...". É que estes dois queridos entrevistados, hoje professores da escola, foram também meus alunos. Vê-los crescer e ouvi-los a falarem da escola com tanto amor e carinho foi deveras envolvente e emocionante. Obrigada, meus queridos "meninos"/colegas! Faço votos para que os valores da ESÁS se mantenham nas vossas vidas e que sejam muito felizes! mc

texto de Manuela Couto, docente de Português
colaboração de Cândido Pereira, diretor de centro de formação maiatrofa

1 comentário:

mc disse...

Muito obrigada, Mafalda e Daniel, pelo tempo que nos concederam.
Espero que tenham gostado de ler a nossa conversa e tenham apreciado a manhã que vos fez reviver a vossa/nossa ESÁS.
Sejam muito felizes!