Mafalda 1992/93 |
Mafalda 1997/98 |
Trabalho desde 2003/04, mas quando aqui cheguei em 2011, para um horário de 6 horas, foi a concretização de um sonho, uma festa. Como dizia o André Villas Boas, para mim, ser professor na ESÁS era “a minha cadeira de sonho”. Fiquei tão feliz que pensei em deixar a outra escola onde me encontrava e ficar apenas nesta. Mas o Professor Ferreira aconselhou-me a não o fazer e só em 2013 consegui o lugar, no Concurso por Mobilidade Interna. Saí, entretanto, mas há cinco anos que estou cá, ao abrigo da Mobilidade por Doença. Em termos de quadros, encontro-me há longos anos como QZP em Leiria.
(Depois desta conversa, o professor Daniel Braga soube ter-se aproximado um pouco, ficou colocado no QZP de Coimbra, porém, aguarda a sua sorte na colocação ao abrigo da Mobilidade por Doença.)
Mas porquê toda essa
felicidade, Daniel?
Porque fui cá aluno entre o
7.º e o 12.º ano, fui muito feliz aqui e sempre sonhei voltar a este lugar.
Como aluno, estudei em
Pedrouços e vim para aqui no 7.º ano. Conhecia toda a gente: o Bino, a Esmeralda, as
pessoas, o local, isto era a nossa casa, o prolongamento da nossa casa.
Atualmente, mesmo tendo em conta
que a escola está diferente, ela conserva muito do que tinha no nosso tempo. E
muito do que se vive aqui tem a ver com a Direção. Não há muitas escolas com
uma Direção com o espírito humanista que esta tem. Aqui, a Direção trabalha de
porta aberta e o nosso Diretor trata-nos por “rapaz” ou “rapariga”. Isso faz
toda a diferença. Aqui, as pessoas querem ficar, mesmo com a escola grande como
é e com os problemas que sabemos ter, muito por ter atingido a dimensão que
tem.
Trabalhei em escolas do
centro do Porto, noutras do interior do país, e a diferença é enorme. Não só a
realidade dos alunos, como as Direções. Eu tive problemas de saúde (pessoais e
na família) e a Direção foi sempre impecável. Tenho uma grande dívida de gratidão.
Daniel Braga, no meio; a menina, à direita na foto, é a namorada Sandrina Festa de Carnaval 1999 |
A Mafalda Torres trabalha desde 2002/03, chegou à ESÁS com professora no ano de 2017, mas começa por recordar a ESÁS como aluna.
O que recordas com mais ternura e nostalgia, Mafalda?
Recordo as festas de Natal, do Fim do Ano e as de Carnaval… Era “a escola das festas”. Vinha gente de longe para assistir.
E recordo com muita saudade e carinho o polivalente. "Ah, era tão fixe!" (ambos) Enchia nos intervalos. Ali acontecia tudo. Sentávamo-nos nos bancos ou nos degraus que davam para o palco a conversar, a jogar, a lanchar... Faz muita falta!
Ah, também me lembro da rádio, disse o Daniel. Pertenci à equipa ao longo de um ano, passávamos música nos intervalos, sujeitos a uma playlist previamente decidida em reunião. Agora, os miúdos andam pelos corredores. A cantina não é o polivalente. É muito diferente!
Ah! E também recordo o envolvimento dos professores, disse a Mafalda. Eles participavam em tudo. Faziam os seus números nas festas e divertiam-se. Nós gostávamos de ver.
Sim, o que valorizo mais são os professores, sobretudo a partir do Secundário. Tive muito bons professores, professores excelentes! Muito dedicados e amigos.
E recordaram variadíssimos professores, sempre pelos melhores motivos, e contaram peripécias, boas e até engraçadas.
"o pato" (de peluche), o animal que não podiam ter uma prenda do casal Daniel/Sandrina |
"diploma", uma prenda do 9.º ano de Ana Mafalda Torres |
Eu até cheguei a ir a casa de duas professores: no caso de uma, para acabar um trabalho de grupo, com mais duas colegas; no caso da outra professora, para ajudar a incluir na turma uma aluna que tinha sido mãe.
A propósito de cumplicidade, o CRESCER revela uma história curiosa, com a sua permissão: o professor Daniel Braga começou a namorar com a sua esposa, no 10.º ano, era
ela sua colega de carteira. Mas os pais da namorada não queriam que ela
namorasse para não se desconcentrar do seu objetivo, que era a Medicina. Todos
os professores sabiam que eles namoravam, mas mantiveram o segredo, pois o
Daniel melhorava cada vez mais a sua prestação e a menina não perdia o foco.
Tanto assim é, que o Daniel subiu a sua média e tirou o curso que pretendia, no
FCDEF, e a menina o seu curso de Medicina, no S. João, ambos na UP. O professor
Daniel acha que o namoro ajudou os dois. Ele era muito disperso e aprendeu a
concentrar-se. Ela era muito focada e ficou um pouquinho mais flexível.
Arranjaram ali um ponto de equilíbrio que nenhum professor ousou desconstruir e
revelar.
Agora, a propósito de objetivos, a Mafalda Torres recorda que, desde que se lembra, sempre quis ser professora. E feliz ou
infelizmente (disse, lembrando a precariedade da classe) isso aconteceu.
Então, sabia que se sofresse de desgostos amorosos (tão típicos da idade), tal não
poderia interferir na sua vida académica. E assim foi. Concluiu o 12.º ano com
belos resultados e enveredou pelo curso de Biologia, que fez com facilidade.
Um e outro
gostavam tanto da escola que se lembram de os rapazes saltarem o muro, aos fins de semana, para irem
para os campos jogar futebol. As raparigas passavam por entre as grades para conviverem no
recreio. A escola era, para eles, um prolongamento de casa.
E sentiram diferença entre a
escola do tempo de alunos e a escola do tempo de professores?
Sim. Uma coisa estranha foi
a dimensão da escola. Outra foi não haver livros de ponto. Outra, ainda, foi a pouca
diversidade de estilos e os “furos”.
Como assim?
Quando éramos alunos, a
escola não tinha sido ainda intervencionada, era pequena, havia livros de
ponto, e nós, no polivalente, víamos que todos os professores iam à sala de
professores para os irem buscar. Havia lá um bar, conviviam muito e estavam
sempre divertidos. Era quase um sonho vê-los sair dali. Nós também
queríamos esse convívio, essa alegria. Mas agora já não há livros de
ponto, há mais distância entre pavilhões e os professores já não têm de ir
buscar os livros de ponto, pelo que cada um fica na área que lhe é mais
confortável. Já não há aquele convívio!
Outra coisa curiosa era que na época havia uma grande diversidade de pessoas/alunos e todos nos
dávamos bem. Nos anos 90 havia metaleiros, punks, os que vestiam de preto, os
mais “cromos” e até muitas grávidas, mas tudo corria bem. Até quando havia "ameaças de bomba"! Atravessávamos a rua e ficávamos à espera de poder voltar a entrar. (risos)
Ah, e quando chovia? (riram muito) Não
havia aulas de Educação Física, pois não havia pavilhão. Tínhamos "furo" e isso era
bom. Hoje, os miúdos não sabem o que isso é.
Apesar de tudo, e apesar das
diferenças, continua a ser muito bom estar aqui. A informalidade que ainda
existe é boa e a capacidade de gerir esta casa é de excelência.
E agora que a ESÁS faz 50 anos, vive-se um momento muito nostálgico, não?
Sim, pelo menos para mim, é. Quando houve a
reunião de preparação das comemorações dos 50 anos (em janeiro), eu decidi participar porque sou professora nesta escola, mas sobretudo, porque
fui aluna nos idos anos 90. E fui uma aluna que viveu
uma escola realmente feita de afetos e de muitas mãos. Fui
aluna num tempo em que os professores podiam dedicar-se
à escola e aos alunos de uma forma que hoje não nos é possível.
Nessa reunião, falou-se da união existente entre um corpo docente
estável e que, por esse mesmo motivo, podia criar raízes
e projetar sonhos. Hoje, isso não nos é permitido.
As lágrimas assomaram-me aos olhos ao ver alguns dos
meus professores (uns ainda no ativo e outros não) com a mesma garra e a
mesma vontade de participar em mais uma festa da nossa escola.
Provavelmente não estarei cá no próximo ano letivo, mas terei todo
o gosto em participar também nesta comemoração.
Saí da reunião de coração cheio, por vários motivos: porque
senti que o carinho que tenho pelos meus antigos professores é
recíproco; porque reconheci nos presentes o espírito da Escola Secundária
de Águas Santas; porque me senti parte desta escola; porque esta
escola é parte de mim.
E num mar revolto como hoje é o da educação, permanece a
esperança de que tudo não passe de uma tempestade e de que amanhã
o sol volte a brilhar e a Escola renasça com mais
afetos e mais mãos, com um passado e um presente para
o futuro!
(Depois desta conversa, a professora Mafalda Torres soube que sairia da escola, para uma outra que, certamente, ganhará com a sua doçura e profissionalismo.)
Chegados ao fim desta conversa, pedimos aos professores Daniel Braga e Mafalda Torres que deixassem uma mensagem à escola que os viu crescer e que lhes deu colo e que agora lhes dá oportunidade de exercerem a sua atividade profissional. Aqui ficam as mensagens:
“A ESÁS foi, é e sempre será
uma escola de amizade, camaradagem, sonhos e conquistas. Os alunos crescem em
conhecimento, sentimentos e valores e os professores deixam sempre um pouco de
si.” Ana Mafalda Torres
“
Desta vez, confesso que tive alguma dificuldade em escrever este "conta-me...". É que estes dois queridos entrevistados, hoje professores da escola, foram também meus alunos. Vê-los crescer e ouvi-los a falarem da escola com tanto amor e carinho foi deveras envolvente e emocionante. Obrigada, meus queridos "meninos"/colegas! Faço votos para que os valores da ESÁS se mantenham nas vossas vidas e que sejam muito felizes! mc
Joaquim Sampaio 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (1)
Aurora Sereno 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (2)
José Manuel Cunha 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (3)
Rui Barreto Costa 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (4)
Rosa Oliveira 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (5)
Carla Maciel 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..."(6)
1 comentário:
Muito obrigada, Mafalda e Daniel, pelo tempo que nos concederam.
Espero que tenham gostado de ler a nossa conversa e tenham apreciado a manhã que vos fez reviver a vossa/nossa ESÁS.
Sejam muito felizes!
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