No âmbito das comemorações dos 50 anos da ESÁS, o CRESCER continua a conversar com aqueles que por cá passaram, desde os fundadores até aos atuais alunos, funcionários e professores.
Sra. D. Rosa Barros |
A D. Rosa chegou à escola, em Pedrouços, numa terça-feira, no dia 4 de novembro de 1975.
Como era trabalhar em Pedrouços?
Era bom, mas tinha de preparar mais de 300 almoços por dia, porque eram
duas escolas. Estivemos lá onze anos, só depois é que viemos para aqui.
Essa veia de cozinheira, sempre a teve?
Vim dos Arcos de Valdevez para o Porto para ganhar a vida. Fiz um pouco de
tudo. Fui mulher a dias, fui padeira (ai, que saudades!), trabalhei para um
casal alemão no Porto. Trabalhei nas Antas, numa cafetaria, e lá fiz sucesso
pois pediram-me para fazer uns salgadinhos para os finais da tarde, para os
trabalhadores que ali iam, e eles adoraram.
Entretanto, concorreu para a escola. Como foi?
Soube que havia um concurso para cozinheira da escola e concorri. Fui lá entregar
os documentos na secretaria, mas não podia ser aceite pois só tinha a terceira
classe e exigiam o diploma da quarta classe.
Fiquei muito triste, mas na altura trabalhava a dias em casa de uma senhora, a D. Fátima (uma querida!), que era professora primária, contei-lhe, e ela preparou-me – num mês – para o exame final, na Maia. Trabalhei tanto!!! Até me doíam os olhos de ir para a cama ler, fazer contas, tudo o que precisava de saber. Mas consegui. Ainda fui a tempo de entregar o diploma da 4.ª classe para o concurso de cozinheira. E fiquei.
Entrei em novembro de 1975, mas a cantina só abriu em janeiro de 1976. Entrei eu como cozinheira (ver foto 2) e mais duas ajudantes, a D. Arminda e outra senhora.
foto 2 |
Lá estive onze anos, sempre a trabalhar naquele ritmo, mas depois de mudarmos para aqui (Corim) diminuíram os almoços. Passaram a ser 150 a 200 almoços. A D. Teresa Baía, do SASE, definia a ementa de segunda a sexta-feira. Eu cumpria.
Entrávamos às 8h30m, mas não tínhamos horas de saída. Eu tratava de distribuir o serviço. Umas descascavam batatas, outras cebolas, calculavam-se os quilos de arroz (uma média de 34 Kg/dia), a carne ou o peixe, os legumes, a fruta…. Preparavam-se as mesas e punham-se as canecas de água na mesa. Mais ao fim da manhã para não apanharem o pó vindo do polivalente, que eu cá gosto de tudo limpinho...
Os jovens gostavam de comer na cantina. Quando eu já tinha tudo distribuído dizia-lhes que podiam repetir e os que queriam iam buscar mais.
Com os professores acontecia o mesmo. Eles almoçavam numa mesa em frente ao balcão do self service, o conselho diretivo e outros. E havia muito professores a comer.
E que prato gostava mais de fazer?
O que eu
gostava mais de fazer eram os assados, porque era o que todos mais gostavam. E
rojões. E também de preparar os pratos dos mais pequenitos quando era peixinho.
Tirava-lhes as espinhas para eles comerem sem medo. Por isso, a D. Teresa Baía
dizia que eu era “muito humana”.
Com a
autorização da Direção, dava a sopinha a alguns funcionários que tinham
dificuldade em pagar, bem como a fruta que alguns alunos devolviam.
Em jeito de balanço, gaba-se de nunca ter mandado ninguém para o hospital, de ter sido sempre muita organizada e limpa e de todos a respeitarem muito.
foto 3 |
A D. Rosa é uma mulher de trabalho e de luta. Hoje, com 81 anos, continua a conduzir (tirou a carta com o seu dinheirinho em 1977) e está sempre pronta a ajudar e a colaborar.
A D. Rosa continua a gostar de cozinhar. Apesar de estar cansada, diz que continua a gostar de comer a sua comidinha e que, se pudesse, continuava a fazer os seus rissóis (inigualáveis!).
Quando convidada a recordar os presidentes dos conselhos diretivos, disse só se recordar bem do professor Ferreira e da equipa formada por ele: o professor Carlos Cardoso, a professora Maria Ana Pacheco e a professora Elisabete Almeida.
E como a conversa é como as cerejas, “atrás de uma vem outra”, a D. Rosa recordou que tinha trabalhado em casa dos pais da professora Elisabete, no Porto, era ainda a professora uma menina universitária namoradeira. Namorou e casou com um senhor de nome Fernando Almeida. E a D. Rosa gostava tanto dos nomes deles que deu esses nomes aos filhos: Elisabete e Fernando. Curiosamente, uma homenagem que, se calhar, nem a professora Elisabete conhece.
E que memórias guarda da escola?
Agora, passados estes anos, recorda ainda a professora Elisa Ferreira com saudade, com quem diz falar de vez em quando. Guarda com emoção a estrelinha que a professora Margarida Rebelo lhe ofereceu quando foi embora (ver foto 4) e que fez questão de trazer consigo.
foto 4 |
Para finalizar e quando convidada a dizer o que gostaria ainda de fazer na escola, disse…
Gostaria de
fazer uma ceia de despedida ao professor Ferreira. Se o Doutor Ferreira quiser, eu ainda vou fazer uns aperitivos para consolar a barriga aos mais antigos.
Sra. D. Rosa Barros, o CRESCER agradece a sua disponibilidade e o tempo concedido a esta tão bela conversa, deseja-lhe muita saúde e boa disposição para o tempo presente e para o tempo futuro e espera que continue a guardar no seu coração o amor que a escola lhe dedica.
Joaquim Sampaio 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (1)
Aurora Sereno 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (2)
José Manuel Cunha 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (3)
Rui Barreto Costa 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (4)
Rosa Oliveira 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (5)
Carla Maciel 50 anos ESÁS: "conta-me como foi..."(6)
4 comentários:
Que conversa tão doce!!
Muitos parabéns pelas suas palavras, D. Rosa. Provavelmente não se lembra de mim, mas eu lembro me bem das suas mãos de fada e o carinho que colocava nos pratos que servia.
Muitas felicidades.
Muito obrigada, Sra. D. Rosa, pelo tempo que nos concedeu.
Espero que tenha gostado de ler a nossa conversa e tenha gostado da manhã que a fez voltar à sua ESÁS.
Saiba que para nós, mais provectos, será sempre uma referência da escola.
Um beijinho
Histórias que nos aquecem a alma.
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