O que prejudica os alunos é falta de tempo para preparar aulas atraentes, dinâmicas, é a falta de computadores, projetores e internet operacionais. São salas frias, geladas em pleno inverno.
O que prejudica os alunos, senhor ministro, não são as greves; são os professores desmotivados atulhados em burocracias, projetos sem sentido, criados num gabinete qualquer e que mudam ano após ano. Atas, sínteses, justificações, relatórios, grelhas, planificações, RTP, PCT, relatórios de processos disciplinares, relatórios para a CPCJ e reuniões e mais reuniões, que muitas vezes não levam a lado nenhum. Professores cansados porque fazem dezenas (ou centenas) de quilómetros por dia, isto quando não tiveram de arrendar uma segunda casa e deixaram tudo para trás, que pagam literalmente para trabalhar!Tânia Santos *
O que prejudica os alunos é falta de tempo para preparar aulas atraentes, dinâmicas, é a falta de computadores, projetores e internet operacionais. São os programas desajustados à nova realidade, salas frias, geladas em pleno inverno (porque não há orçamento para o aquecimento, isto quando ele existe), salas onde o vento entra pelas janelas, onde nos cai pingas de água na cabeça e onde, por vezes, temos a companhia de ratos, gaivotas e pombos.
O que prejudica os alunos, senhor ministro, é a falta de assistentes operacionais, técnicos especializados, psicólogos e o excessivo número de alunos por turma. Professores que são falsas necessidades temporárias, que são obrigados a abandonar alunos que já conhecem e conquistaram, assim como bons projetos, não desses imaginados por quem nunca deu uma aula, mas por quem conhece o contexto escolar onde trabalha, isto porque o contrato termina sempre no final do ano letivo… e lá vem outra escola … e lá vamos nós começar tudo de novo.
E o que prejudica a sociedade, senhor ministro, é tentarem acabar com qualidade da escola pública, uma escola que não seleciona, que não escolhe, mas acolhe todos, que tenta dar as mesmas oportunidades e que é o principal motor de desenvolvimento de um país.
Não me posso esquecer de salientar a falta de respeito com que sucessivos governos têm tratado os professores. Que exemplo estão a dar à sociedade? É assim que devemos tratar quem educa, ensina, cuida e muitas vezes abraça as nossas crianças e jovens? Talvez seja por isso que ultimamente não há quem queira ser professor, há centenas de alunos sem professor a pelo menos uma disciplina, e isso não é responsabilidade das greves.
Mas, caríssimo senhor ministro, o que prejudica mesmo os nossos alunos é o facto de no futuro pensarem que não têm o direito de lutar por melhores condições de trabalho, que o direito à greve não é um direito constitucional, de qualquer país democrático e um direito de todos, incluindo daqueles que o ensinaram, estimularam a pensar, que contribuíram para que esteja a ocupar esse lugar. O passado tem memória curta. @ Observador
*Tânia Santos, docente de Português e Espanhol no Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Porto
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