Terão as redes sociais impacto no bem-estar psicológico dos adolescentes? Terão estas impacto a nível cerebral? Será esse impacto bom ou mau?
As redes sociais desempenham um importante papel nos dias de hoje e não
há geração que o sinta mais do que a atual geração de adolescentes. Estes, que
cresceram com tablets e smartphones, não vivenciaram um tempo anterior à
internet: são os chamados “nativos digitais”. Em Portugal, redes sociais como o
Instagram, Facebook, Twitter, TikTok e Whatsapp permeiam a rotina diária dos
mais jovens, que as procuram como fonte de entretenimento e de comunicação com
pares.
Tendo em conta a popularidade das redes sociais
entre adolescentes, não é de espantar que pais, educadores e órgãos de
comunicação social expressem a sua preocupação acerca do efeito que estas redes
podem ter no desenvolvimento dos jovens. Terão as redes sociais um impacto no
bem-estar psicológico dos adolescentes? Terão estas um impacto a nível
cerebral? Será esse impacto bom ou mau?
Em
primeiro lugar, é importante reforçar que a adolescência é um estádio de
desenvolvimento caracterizado por um afastamento dos pais e uma aproximação dos
pares. Ser aceite ou rejeitado pelos pares é uma grande preocupação e a
necessidade de pertencer a um grupo é sentida intensamente pelos jovens, que
assim são facilmente influenciados. A nível neurológico, as regiões do cérebro
envolvidas em muitos aspetos da vida social estão em desenvolvimento durante a
adolescência e acredita-se que a influência dos pares – que também ocorre
através do uso de redes sociais – é particularmente potente nesta fase.
Não é
assim de estranhar que a rejeição social online seja experienciada pelos
adolescentes como se fosse uma rejeição face-a-face e os jovens estejam
crescentemente mais sensíveis à possibilidade de serem rejeitados. Se esta
rejeição ocorrer, por sua vez, poderá despoletar sintomas de ansiedade e/ou
depressão.
Por outro
lado, os sentimentos positivos de aceitação social online são reforçados
através do número de gostos, de partilhas, de comentários positivos e de amigos
ou seguidores, apesar das distorções e riscos que tais indicadores carregam. Um
estudo, desenvolvido pelo psiquiatra Christopher Davey, revelou que ser aceite
leva à ativação de partes do cérebro semelhantes às que são ativadas quando se
recebe outro tipo de recompensas (como, por exemplo, dinheiro). Esta maior sensibilidade
à recompensa social, por sua vez, reforça o uso continuado e constante das
redes sociais por adolescentes.
As redes
sociais não só influenciam a forma como os jovens avaliam produtos (por
exemplo, se um influencer avaliar negativamente um produto,
este tem maior probabilidade de ser negativamente avaliado por adolescentes que
o seguem nas redes sociais), mas também a forma como se avaliam a si próprios.
O conceito de um “ideal” de beleza corporal é especialmente prevalente nas
redes sociais, que são com frequência utilizadas pelos jovens. Neste sentido,
ainda que os rapazes sintam essas pressões, as raparigas são os principais
alvos, levando a uma diminuição da sua autoestima e a uma maior insatisfação em
relação ao corpo. A maior suscetibilidade à influência dos pares online
significa também um maior risco de adoção de comportamentos delinquentes ou
perigosos, se estes forem promovidos pelos grupos.
Apesar
do afirmado, é também importante reforçar que a crescente utilização das redes
sociais pelos adolescentes não traz apenas consequências adversas. Para
adolescentes mais tímidos, as redes sociais podem ajudar a construir uma rede
de suporte com pares adaptativos, satisfazendo algumas das suas necessidades de
socialização (embora não as substitua, é certo). Para adolescentes mais
sociáveis, permite-lhes manter contacto contínuo com diversos grupos de amigos.
Para minorias, permite-lhes encontrar a aceitação que não encontram facilmente
na sua vida offline, podendo encontrar pontes de comunicação para encontros
presenciais. Para além disso, da mesma forma que os jovens podem ser
negativamente influenciados pelas redes sociais, estes também podem ser
influenciados positivamente: o contacto com outras culturas e realidades poderá
auxiliar na dissolução de eventuais preconceitos e no desenvolvimento da sua
capacidade de empatia. Tudo dependerá do tipo de grupos com quem os
adolescentes mantêm contacto e do tipo de ideias que são discutidas e
divulgadas nestes. Certamente que também vai depender da orientação e
supervisão parental nesta era digital, mas este é já um outro tema.
O impacto a longo-prazo das redes sociais nos adolescentes ainda está a ser descoberto, mas é evidente que as redes sociais vieram para ficar e que se tornaram no “novo normal”. Se sente que o seus filhos são excessivamente dependentes das redes sociais, ou se sente que estas lhes causam mal-estar, procure ajuda. Não está sozinho(a). @ Sapo
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