Ao contrário de outras profissões nas quais se procura colmatar a falta de recursos humanos com a contratação de profissionais oriundos de outros países ou o fecho alternado de serviços, na educação este tipo de soluções não é viável, devido à barreira da língua e à necessidade de manter os alunos na escola durante o tempo letivo.
Perante a falta de soluções, só nos resta a alternativa de encarar, com lucidez, a génese do problema. E até podemos tentar encontrar muitas razões para justificar a falta de candidatos à profissão, mas a explicação mais verdadeira é a mais simples: os jovens deixaram de querer ser professores. E a justificação que está na base desta falta de interesse também é básica e radica na falta de atratividade da carreira docente.
Esta falta de atratividade deve-se a razões também já muito elencadas, como os baixos salários, a precariedade, a instabilidade, a falta de progressão na carreira, um modelo de avaliação considerado inadequado, a falta de reconhecimento profissional e, ainda – e não menos importante −, a indisciplina e os problemas sociais que afetam o funcionamento da sala de aula, com um grande desgaste para os docentes.
A este problema da falta de quantidade de professores junta-se um outro não menos impactante. É que, além de não atrair muitos jovens, esta profissão, de um modo geral, não é atrativa para os melhores alunos do ensino secundário. Esses, na verdade, escolhem outras profissões que lhes poderão proporcionar melhores condições de vida e carreiras mais promissoras. E quem poderá criticá-los?
Assim, estamos diante de um paradoxo, que reside no facto de uma profissão considerada tão importante para assegurar a qualidade da formação das gerações futuras não ser atrativa para os candidatos mais habilitados, que preferem escolher outras profissões. Também para esta incongruência não é fácil encontrar uma solução. Mas da resposta a esta questão depende a escola do futuro e a educação dos nossos filhos e netos. Daí que esta questão seja muito séria.
E não vale a pena recorrer a mecanismos que mascaram os problemas sem, contudo, os resolverem. Aumentar o número de vagas nos cursos para professores não é suficiente para as preencher, nem para atrair os melhores candidatos. É necessário mais do que isso. E o que é necessário é tornar a profissão mais atrativa, com tudo o que isso implica. Só que aquilo que é necessário tem, inevitavelmente, um custo, implicando alterações no exercício da profissão e na carreira docente.
Se não houver a capacidade de tornar a profissão docente mais atrativa, quais serão as consequências? Vale a pena pensarmos nisso. Neste momento, pode dizer-se que já vamos tarde para inverter a tendência da falta de professores nas nossas escolas. Mas, se nada fizermos, esta tendência irá certamente agravar-se. E quanto a este outro custo, de valor incalculável, será que estamos dispostos a pagá-lo? Elsa de Barros @ P ímpar
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