Tal como o CRESCER noticiou, os professores da Maia marcharam, na passada sexta-feira, dia 27 de janeiro, da Escola Secundária da Maia até à Câmara da Maia, mostrando, uma vez mais, a sua indignação. Uma sexta-feira gélida, em final de uma jornada de trabalho. Sem prejuízo de aulas.
E nem o frio os demoveu. Tampouco, uma nova ida a Lisboa no dia seguinte. Sábado. Fim-de-semana. Mais uma viagem. 600 km de estrada. A expensas próprias. "Vamos embora que há muito croquete e rissol a fazer e bebidas quentes a preparar."
E no sábado de manhã, só do nosso agrupamento saiu uma camioneta de 70 lugares.
Quem os viu acreditou que estavam bem dispostos e que iam viajar, de novo, juntos. Mas foi a indignação que os moveu e a certeza de que o que reivindicam é justo e, a ser concedido, peca por tardio.
Já em Lisboa, juntaram-se aos que ali também faziam da união uma canção de protesto. Junto do Ministério da Educação foram chegando mais e mais, enquanto as televisões iam referindo "centenas" de professores, depois "milhares", a polícia apontava "80 mil" e os sindicatos "mais de cem mil".
O que é certo é que tanta gente junta provocou espanto. E dificuldade de contabilização. Mas as imagens falaram por si.
A faixa transportada pelo nosso agrupamento foi feita por mãos dedicadas e sensíveis. Consagrava aquilo que a Escola faz: ensina a sonhar, a pensar e a decidir.
E foi movido desse pensamento crítico que o número de professores e cidadãos presentes foi crescendo. Sim, porque a escola faz-se de toda uma mole de gente que "ensina": assistentes operacionais, educadores, psicólogos, técnicos, professores, pais, alunos, famílias.
Era inegável a satisfação de quem fazia parte daquele protesto. Não por verem respondidas as suas reclamações, mas por estarem unidos. À medida que iam caminhando até ao Palácio de Belém, cantavam, proferiam palavras de ordem, empunhavam orgulhosamente cartazes (que cada um, criativamente, tinha concebido) e sentiam-se motivados para fazerem chegar o seu apelo ao Presidente da República.
Os que apenas assistiam não ficaram indiferentes. Ver de perto a quantidade de profissionais das mais diferentes idades e ouvir as suas vozes era comovedor.
Já às portas do Palácio de Belém, as faixas não se esconderam, antes mostravam a mensagem que todos queriam evidenciar. Pelo caminho não faltaram manifestações de apoio dos que os viam caminhar.
"Apraz-me registar a ausência de bandeiras e cartazes sindicais", pôde ouvir-se. "A força das nossas palavras é muito maior do que a das guerrilhas partidárias", disse Maria, professora de Filosofia, colocada no Porto. "Estou muito feliz por este ser, claramente, um movimento das bases", acrescentou. "Na minha escola, nunca tal tinha acontecido: velhos e novos, dos mais diferentes quadrantes políticos, uniram-se a uma só voz.", disse ainda.
Obviamente que o STOP foi o grande responsável por este movimento, sobretudo porque deu voz a TODOS. E foi, por isso, o rastilho que incendiou a luta, justificada pelo cansaço acumulado de tanta injustiça.
O resto, o resto já sabem: foi entregue uma carta aos assessores do Presidente da República com as reivindicações dos professores; André Pestana, entusiasmado, dirigiu-se aos manifestantes e à população exaltando à continuidade da luta; sucederam-se comentários, muitos deles brilhantes, nas várias televisões, jornais e blogues de educação. Destacam-se os de Paulo Guinote, de Santana Castilho e de António Carlos Cortez.
E nada foi demagógico ou populista. Se alguns se inflamaram, foi por entusiasmo de ver a união existente. O que se ouviu foi a voz de quem vive a realidade e quis dizer BASTA. 50 anos depois do 25 de abril, não se pode pactuar com a sistemática indiferença dos governantes sobre os professores. Até porque, segundo os governantes, estas reivindicações são "justas". Então, por essa razão, há que agir. Não se pode ser "fofinho" e concordar e, depois, fazer "orelhas moucas" e referir que não há dinheiro. Não, não se pode. Desde 2008 que vemos os milhões a irem para as mãos dos bancos e da TAP, para indemnizações chorudas a administradores de empresas públicas e, até, para a construção de palcos de utilidade duvidosa (em nada ajustados ao que seria necessário). E nunca há euros para os professores. A prioridade será a equidade dos professores do Continente com os da Madeira e dos Açores, que, muita justamente, já conseguiram a contagem do tempo de serviço congelado. Recordemos que são 6 anos, 6 meses e 23 dias de roubo, um "apagão" na carreira dos professores. Como se não tivessem trabalhado. I-na-cre-di-tá-vel!
A jornada em Lisboa terminou por volta das 18h. Quem não era de Lisboa, regressou às camionetas e lançou-se em nova viagem.
Restou a sensação do dever cumprido. "Sem dúvida que a adversidade une". E como se pôde ouvir neste movimento "professor que ensina a voar não pode rastejar."
Descanso, só mesmo no domingo. E não totalmente, pois esse também será passado na preparação de mais uma semana de aulas e de luta. Sim, de luta, porque ela continua. A greve dos professores por tempo indeterminado, que começou a 9 de dezembro, continua sem fim à vista e os manifestantes, em Lisboa, gritaram bem alto "não nos podem calar".
E acreditar e fazer acreditar que "Enquanto não se aceitar politicamente que os professores e os alunos são o reduto da inocência de uma comunidade"; enquanto não tivermos um governo, um sindicalismo, uma imprensa e uma comunidade dispostas a pôr as mãos no fogo pela educação, nunca deixaremos de ter professores em estado de ebulição e, à sua volta, em berraria ou em surdina, uma turba de gente petulante e tartufa que se resigna e consome, falida, a pagar os proverbiais custos da ignorância."
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