Cursos profissionais têm mais emprego e melhores salários, mas não chega para ultrapassar os preconceitos
O "Guia sobre o Ensino Profissional: uma escolha com futuro", da Fundação José Neves quer combater o preconceito sobre o Ensino Profissional. O documento foi apresentado com números de empregabilidade, salários e possíveis novos estudos. Portugal está entre os dez países da UE com menos alunos no Ensino Profissional. Os cursos de informática, hotelaria e restauração, audiovisuais e produção, turismo e lazer ou desporto são os mais procurados.
No início da vida profissional, um jovem com o ensino secundário que tenha optado pelo Ensino Profissional terá maior probabilidade de obter emprego e uma remuneração mais elevada do que quem tenha optado pelo Ensino Científico-humanístico. Mais de metade (51%) daqueles que optaram por esta via de ensino consegue emprego 14 meses após concluir o curso (profissional) e, por fim, 1 em cada 5 desses jovens obtém emprego na empresa onde estagiou.
Estes são algumas das conclusões do estudo “Guia sobre o Ensino Profissional: uma escolha com futuro”, da Fundação José Neves, apresentados esta quarta-feira. O documento dá pistas a quem pretende enveredar por esta via de ensino, apontando vantagens e desvantagens. Ao mesmo tempo procura contrariar o preconceito que paira sobre o Ensino Profissional.
"É importante contrariar o preconceito relacionado com o Ensino Profissional e realçar as mais-valias desta via, que pode revelar-se bastante vantajosa, sobretudo no rápido ingresso no mercado de trabalho e no aspeto salarial no início da carreira, além de dotar o mercado de trabalho de profissionais qualificados com experiência prática", sublinha Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves.
Embora assuma que este percurso requer “uma maior atualização de competências ao longo da vida", defende ser essa uma "realidade cada vez mais transversal no mercado de trabalho independentemente da via que se escolha". O presidente executivo da organização criada pelo fundador da Farfetch sustenta ainda que o Ensino Profissional permite prosseguir igualmente os estudos para o ensino superior.
Neste último ponto, no raio-x à realidade portuguesa, o guia realça que um terço dos jovens que concluíram um curso profissional opta por prosseguir os estudos, 22% destes frequentaram uma licenciatura numa universidade e 23% cursaram uma licenciatura num instituto politécnico. Quase metade (48%) optou por curso Técnico Superior Profissional (TeSP).
O documento refere ainda que no ano letivo 2020/2021, cerca de 40% dos alunos portugueses no ensino secundário estavam matriculados na vertente profissional (33% se apenas forem considerados os cursos profissionais do ensino secundário, correspondendo a 115,135 alunos).
O valor coloca Portugal entre os 10 Estados-membros da União Europeia com menor percentagem de alunos neste tipo de ensino e abaixo da média da UE (49%).
Para contrair os números, a Fundação traça o objetivo de chegar até 2030 aos 55% dos diplomados do ensino secundário pela via profissionalizante, reconhecendo que “uma mão-de-obra mais qualificada, com mais competências cognitivas, analíticas e digitais é fundamental para o desenvolvimento económico do país”. Em 2021, a percentagem era de 37%.
A oferta de cursos profissionais em Portugal, recorda a Fundação José Neves, é "bastante vasta", sendo as áreas de informática, hotelaria e restauração, audiovisuais e produção, turismo e lazer ou desporto, as que “têm mais ofertas formativas”.
Combater o preconceito, vantagens e desvantagens e caminhos a seguir
O preconceito existente e enraizado é o outro lado da moeda do Ensino Profissional, um dado que a FJN considera, no entanto, “enganador”.
Para justificar, socorre-se de um estudo da consultadora McKinsey (2013). Inquiridos mais de 5200 jovens de 8 países, incluindo Portugal, os próprios revelaram o preconceito existente sobre este tipo de ensino. “Em cinco países, os estudantes que concluíram uma licenciatura universitária consideram que a sociedade valoriza mais um curso académico do que cursos profissionais”, no entanto, “80% acreditam que esta via teria, provavelmente, sido mais útil para encontrarem um emprego e 63% referem que teriam preferido optar pelo ensino profissional”, salienta o Guia sobre o Ensino Profissional.
Do lado das empresas, “o preconceito inicial contrasta com as necessidades de recrutamento”, afirma a Fundação. As entidades empregadoras confessam que metade das suas necessidades de recrutamento futuras passa por trabalhadores com formação profissional e, ao mesmo tempo, revelam enfrentar dificuldades em encontrar profissionais com este tipo de ensino, “em particular técnicos de restaurante/bar e eletricistas de instalações”.
O preconceito, revela a FJN, também não é coerente com as vantagens à entrada para o mercado de trabalho que os jovens com o Ensino Profissional apresentam: “maior empregabilidade e salários mais elevados”, face aos que terminaram o ensino secundário pela via científico-humanística.
Porém, estas vantagens podem esbater-se no futuro das carreiras, caso os profissionais não se mantenham atualizados, ressalva o documento. “Para manter relevância no mercado de trabalho, é fundamental a aposta na aprendizagem e na atualização das competências ao longo da vida”. E é nesse sentido que Fundação José Neves disponibiliza um Guia para a vida futura.
“Apesar de os cursos profissionais abrirem portas para o mercado de trabalho, existem muitos outros caminhos para quem pretenda continuar a sua formação e melhorar as suas competências profissionais”, avisa a Fundação. Entre estas saídas estão “alguns cursos do ensino superior, maioritariamente em Institutos Politécnicos”, os quais “preveem concursos especiais de acesso para alunos oriundos dos cursos profissionais”, finaliza. @ Sapo
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