O fotógrafo Adolfo Kaminsky, falsificador de documentos ao serviço da Resistência francesa durante a ocupação nazi e mais tarde dos movimentos anticoloniais, morreu em Paris, aos 97 anos.
Calcula-se que os documentos que Adolfo Kaminsky falsificou em França salvaram mais de três mil famílias judias da morte e da deportação para os complexos de extermínio nazi, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A morte de Kaminsky, na segunda-feira, foi confirmada à agência France Presse pela filha, Sarah Kaminsky, autora do livro "O Falsificador", a biografia do seu pai. O museu de História Edmund Michelet, em Brive-la-Gaillarde, França, anunciou, esta quarta-feira, que vai manter a exposição dedicada ao fotógrafo até ao dia 27 de maio.
Adolfo Kaminsky, nascido em 1925 em Buenos Aires, Argentina, no seio de uma família russa de origem judia, e que se mudou para França no início dos anos 1930, juntou-se à Resistência Francesa, em Paris, com apenas 17 anos.
Depois da Libertação de Paris, em junho de 1944, Adolfo Kaminsky foi recrutado pelos serviços secretos franceses para fabricar documentos falsos aos soldados Aliados, que eram projetados atrás das linhas nazis. Mais tarde dedicou-se à produção de documentos para os sobreviventes judeus dos campos de concentração que embarcavam clandestinamente para a Palestina (1946-1948).
Kaminsky iniciou revolucionários espanhóis antifranquistas e portugueses antifascistas nas técnicas de falsificação, nomeadamente o português José Hipólito dos Santos da LUAR - Liga de Unidade e Ação Revolucionária, e proporcionou identidades falsas aos que lutavam na Guatemala contra o general golpista Castillo Armas, assim como aos opositores contra a ditadura dos Coronéis, na Grécia, a refugiados políticos brasileiros e desertores norte-americanos que se recusaram a combater no Vietname, entre outros.
"Não me arrependo de nenhum combate que travei. Atuei por convicção e em apoio aos povos vítimas da opressão, em nome da liberdade e seguindo o que ditava a minha consciência", disse Kaminsky, no longo diálogo com a filha, reproduzido no livro "O Falsificador", publicado em Portugal em 2020.
Na altura da publicação da biografia, a filha de Adolfo Kaminsky disse à agência Lusa que o pai arriscou a vida quando era procurado pelos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, mas empenhou-se igualmente e de forma clandestina noutros combates, não fazendo distinções entre raças, homens e mulheres, religião ou cor de pele.
"Eu creio que se trata de uma figura profundamente humanista. Nunca se filiou em nenhum partido político, apesar de ter trabalhado muito com comunistas, anarquistas e com gente de esquerda, mas nunca se situou politicamente porque queria ser livre. Ele abraçou uma posição de resistência, que incluía muitas lutas", explicou Sarah Kaminsky, atriz e guionista francesa, frisando que ficou "surpreendida" quando soube toda a verdade sobre o pai, conhecido como o "homem das mil vidas".
As convicções, as lutas, as aventuras e a vida clandestina como resistente são reveladas pelo próprio operacional à filha no livro "O Falsificador", que destaca o caráter humanista do pai durante as convulsões políticas da segunda metade do século XX. @ JN
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