Quem o diz é Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, em entrevista a "Vozes ao Minuto".
Os últimos dois anos têm sido particularmente desafiantes para o setor da saúde em Portugal e, em particular, para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A pandemia de Covid-19 aumentou o fluxo de pacientes com necessidade de assistência hospitalar, o que causou uma sobrecarga sobre todo o sistema de saúde nacional.
Foram, desde então, relatados inúmeros casos de serviços de urgência sem capacidade para admitirem novos doentes e sem conseguirem dar resposta às necessidades de pacientes com outras patologias. Uma realidade que continua por verificar-se nos dias que correm, numa altura que fica marcada por uma agudização da situação de crise registada nas urgências hospitalares.
Dos desafios trazidos pela Covid-19, das respostas políticas à atuação dos profissionais de saúde, das patologias que ficaram para trás na lista de prioridades às que ficam por diagnosticar, da experiência ganha à falta de recursos humanos e ao muito que ainda falta fazer, dos encerramentos e condicionamentos vários à fraca aposta na prevenção, Miguel Guimarães faz o diagnóstico do Serviço Nacional de Saúde.
Alguns destaques da entrevista:
"E, (...) fomos depois, graças ao trabalho verdadeiramente extraordinário dos profissionais de saúde, dando resposta aos desafios que foram sendo colocados."
"O que é que herdamos daqui: uma experiência que devia ser colocada em prática, nomeadamente naquilo que é a nossa capacidade de decisão e de antecipação dos problemas. (...) Era importante que avaliássemos todos os aspetos positivos e negativos da pandemia e tirássemos daqui as devidas ilações para reforçar a nossa resposta na área da saúde."
"A maior preocupação que nós temos, enquanto médicos, não são os doentes que estão nas listas de espera, pois estes nós sabemos quem são e estamos a resolver os seus problemas. O problema são os doentes que não entraram ainda no sistema de saúde. Esses doentes nós não sabemos quem são e podem chegar até nós, mais tarde, com doenças que são mais graves do que aquilo que seriam se fossem diagnosticadas antes. Estamos a pensar, por exemplo, em doenças oncológicas, que se fossem diagnosticadas atempadamente podiam ser curáveis e que, assim, podem já não o ser."
"No SNS, existe claramente (falta de recursos humanos). Não é um problema que vem de hoje, mas sim de há algum tempo atrás. A verdade é que nós temos no SNS falta de médicos, claramente, e de outros profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiros. (...) a verdade é que as urgências de Obstetrícia e de Ginecologia encerram; outras urgências, como as de Pediatria, também fecham; e que nós não cumprimos, numa percentagem excessivamente elevada, os tempos máximos de resposta garantidos, seja para consultas ou para cirurgias."
"É indiscutível que nós temos mais médicos hoje do que tínhamos há dez anos atrás, mas também é evidente que as necessidades dos portugueses são muito maiores hoje do que eram nessa altura. Há cada vez mais doentes com doenças crónicas. A nossa esperança de vida aumentou de forma muito significativa."
"Nós temos um SNS que, teoricamente, se destina aos 10 milhões de portugueses, mas a verdade é que o SNS não está preparado para dar resposta a estes 10 milhões de portugueses. Está preparado para dar resposta a uma parcela dos mesmos e, por isso, é que há cada vez mais pessoas com seguros de saúde. Se incluir a ADSE, entre 40% a 45% dos portugueses já têm um seguro de saúde."
"Nós investimos muito pouco em ações de prevenção. É verdade que temos alguns rastreios, nomeadamente na área oncológica, mas nós devíamos ter muitas mais ações de prevenção para além dos rastreios (...) Mas é uma questão importante, porque isso é que nos permite ter uma população mais saudável, por um lado, e ter uma maior sustentabilidade do SNS, por outro."
Para ler na íntegra, clique em https://www.noticiasaominuto. com/pais/2016127/sns-nao-esta- preparado-para-dar-resposta-a- 10-milhoes-de-portugueses
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