Investigadores europeus, incluindo portugueses, atingiram de forma sustentada um recorde de energia de fusão num teste que visa preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, em construção em França, foi hoje anunciado.
O anúncio foi feito em comunicado conjunto pelo Instituto Superior Técnico (IST) e pelo Eurofusion, consórcio europeu para o desenvolvimento de energia de fusão, do qual faz parte o IST, através do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN).
De acordo com o comunicado, os cientistas e engenheiros obtiveram um "valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão sustentada" no dispositivo de fusão Joint European Torus (JET), o maior do género no mundo, a funcionar no Reino Unido.
Na experiência "relâmpago", que durou cinco segundos, o JET alcançou uma potência média de fusão (energia por segundo) de cerca de 11 megawatts.
O maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), em construção no sul de França, estará preparado para produzir 500 megawatts por períodos de 400 a 600 segundos, devendo começar a funcionar, numa primeira etapa, entre 2026 e 2027.
O Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear participa no ITER com sistemas de detetores que permitem "determinar alguns parâmetros do plasma no interior do dispositivo", como densidade e temperatura, e com "o controlo e a aquisição dos dados" que serão posteriormente analisados, disse à Lusa o presidente do instituto, Bruno Soares Gonçalves.
A experiência cujo resultado foi hoje anunciado aconteceu em finais do ano passado e faz parte de uma campanha de ensaios promovida pelo consórcio europeu Eurofusion e que, segundo Bruno Soares Gonçalves, "ajuda a preparar o ITER" com dados "bastante consistentes".
O envolvimento do IPFN nas experiências com o dispositivo JET está focado na operação e no tratamento de dados.
O comunicado conjunto do IST e do Eurofusion refere que o valor recorde registado na mais recente experiência "é a demonstração mais clara do potencial da fusão nuclear para fornecer energia de baixas emissões de carbono, segura e sustentável", assinalando que "os resultados estão completamente alinhados com as previsões".
O ITER, um projeto mais avançado do que o JET, com desativação prevista para 2025, visa demonstrar a viabilidade científica e tecnológica da energia de fusão. "Mas não transformará essa energia em eletricidade", esclareceu Bruno Soares Gonçalves.
Reunindo como parceiros a União Europeia, a China, o Japão, a Índia, a Coreia do Sul, a Rússia e os Estados Unidos, o ITER, que conta também com a participação de empresas portuguesas, será a "antecâmara" da futura central energética europeia de demonstração de fusão DEMO, em estudo e com a qual se pretende testar a produção de eletricidade de uma forma "limpa e segura".
No comunicado, o IST e o Eurofusion, consórcio que junta milhares de investigadores e técnicos europeus, salientam que a fusão nuclear, "o processo que alimenta estrelas como o Sol, representa uma fonte de eletricidade limpa, quase ilimitada e de longo prazo, usando pequenas quantidades de combustível que podem ser obtidas por todo o globo a partir de materiais baratos." @ Sapo
Sem comentários:
Enviar um comentário