Teórico da linguagem, pensador polémico, acaba de publicar "Um guia essencial sobre capitalismo, política e o funcionamento do mundo". Numa entrevista concedida à TSF fala de vacinação, clivagens políticas, Afeganistão e alterações climáticas.
© By Asadr1337 - Own work, CC BY-SA 4.0 |
É um escândalo e também é suicida. Quer dizer, os países ricos praticamente monopolizaram a vacina. Tem havido alguns esforços para distribuí-la aos países que precisam dela desesperadamente. Na África, Ásia, América Latina. O que aconteceu foi que os países ricos não só monopolizaram as vacinas, mas insistem em que as taxas de lucro exorbitantes das empresas farmacêuticas sejam protegidas pelos chamados acordos de livre comércio altamente protecionistas. A Alemanha é um dos piores exemplos. Nesse caso, o que é incomum, pela primeira vez, os Estados Unidos têm um histórico um pouco melhor do que a Europa.
O que está a acontecer não é apenas profundamente imoral, mas também suicida. Até porque todos entendem que quanto mais tempo levar para o resto do mundo ser vacinado, mais tempo há para o vírus se transformar, possivelmente em variantes que serão incontroláveis, que irão, claro, voltar aos próprios países ricos, como foi com a variante Delta. Portanto, é um exemplo de como a ganância e a estupidez superam, não apenas os valores morais elementares, mas até mesmo um sentido de autopreservação.
Prevê alguma mudança fundamental provocada pelo impacto desta pandemia na forma como as sociedades ocidentais se organizam, quer nos EUA quer na UE?
Bem, certamente que as sociedades ocidentais podem ser acusadas. Se olhar ao redor do mundo, verá que há países que lidaram com a pandemia de maneira bastante expedita, principalmente na Ásia e principalmente na Oceânia, Nova Zelândia e Austrália. São sociedades onde há um sentido de compromisso, de que devemos aceitar limitações na nossa liberdade a fim de servir o bem comum. Portanto, vejamos a Europa. No início de 2020, tinha o vírus razoavelmente sob controlo. Alguns países melhores do que outros, a Alemanha estava muito bem, mas não a Itália ou sequer a França. Então, os europeus decidiram que queriam ter as suas férias. Partiram para as praias, para o campo, tiveram as suas férias de um mês. E aí veio um grande pico. Nos países da Ásia e da Oceânia, houve uma restrição forte no início e, em seguida, uma subida com poucos casos. A China tem menos casos por ano do que os EUA num dia. (leia tudo, aqui)
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