A importância de garantir a validade e de promover a autodeterminação para assegurar a justiça e a precisão da avaliação.
Associado ao conceito de avaliação deve estar o de validade, o qual faz parte do léxico clínico e científico, mas de forma menos consistente no contexto educativo. É relevante que nesse contexto, onde a avaliação é prática comum e essencial, se reconheça a necessidade de que os dados recolhidos com um dado instrumento sejam uma medida precisa daquilo que se pretende avaliar. De igual forma, se deve ter em consideração a validade das adaptações curriculares na avaliação, que pressupõe que não se modifiquem as expectativas em relação à aprendizagem, nem se diminua a exigência da tarefa, mas que se devam eliminar fontes de variação na prestação da/o aluna/o, relacionadas com a sua barreira ou necessidade educativa especial, aumentando assim a acessibilidade e a validade dos resultados.
Fornecer
adaptações nos testes é uma prática repleta de perspetivas polarizadas, que vão
desde aqueles que defendem acerrimamente a sua necessidade e não veem
desvantagens no seu uso, até outros que veem a utilização das adaptações como
algo para beneficiar (aumentar as notas) ou facilitar o processo de avaliação
(diminuir o desconforto e aumentar a motivação) às/aos alunas/os com
dificuldades. No entanto, estes, são os efeitos colaterais, ou um bónus, mas
não o verdadeiro objetivo das adaptações. No caso de dificuldades sensoriais e
motoras é mais consensual e óbvia a necessidade e tipo de adaptações a
implementar, de forma a remover ou reduzir o impacto das suas limitações e
permitir o seu acesso à avaliação das suas competências. No caso da dislexia
surgem controvérsias relacionadas com o próprio diagnóstico, a identificação
das necessidades destas/es estudantes, bem como na seleção das adaptações, sem
que se coloque em causa a sua validade.
As adaptações
nos testes podem classificar-se em cinco categorias: (1) espaço – local onde é
realizado, p. ex. sala à parte, (2) apresentação – forma como é apresentado o
teste à/ao aluna/o, p. ex. oral ou por escrito, através de braille ou leitura
orientada, (3) calendarização e duração - p. ex. horário, tempo suplementar ou
pausas (4) resposta - forma como a/o aluna/o transmite a resposta, p. ex, oral,
escrito, transcrição da resposta, utilização de processador de texto, (5)
cotação e classificação – forma como é atribuída a cotação, p. ex. despenalização
de erros. Cada uma destas adaptações deve ser analisada e selecionada
criteriosamente.
A utilização
de adaptações nos testes deve ser uma prática baseada na investigação, como uma
obrigação ética, para garantir que sejam feitas escolhas informadas e baseadas
em conhecimentos científicos e profissionais. Só será possível que se
torne inequívoca e inquestionável a justiça das adaptações na avaliação, quando
a prática na tomada de decisão e implementação das adaptações for realizada
tendo sempre em consideração o conceito de validade. Em complemento, deve haver
ainda o cuidado de auscultar os próprios consumidores das adaptações, as/os
estudantes, sendo fundamental compreender se a adaptação fomentou o sentimento
de pertença ao grupo, como se sentiu quando usou a adaptação, nomeadamente se
sentiu que foi útil. Com este envolvimento da/o aluna/o, estamos não só a
potenciar a sua capacidade de autodeterminação, como a aumentar a validade das
adaptações, pois a perspetiva das/os alunas/os também a influencia.
Adaptações
na avaliação são um facilitismo? NÃO! São justas? Se forem corretamente
implementadas, as adaptações permitem um mundo mais humano, equitativo e justo.
Um artigo de Leonor Chaveiro Duarte Ribeiro, Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação e Doutorada em Estudos da Criança, especialização em Dificuldades de Aprendizagem. @ Sapo
Sem comentários:
Enviar um comentário