Na passada quinta-feira, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) declarou que está em andamento um El Niño – após três anos do padrão climático La Niña, que frequentemente faz baixar ligeiramente as temperaturas globais, o El Niño, mais quente, está de volta.
Segundo os cientistas, o deste ano parece particularmente preocupante – a última vez que foi registado um forte El Niño, em 2016, o mundo registou o seu ano mais quente de sempre. Segundo os meteorologistas, este El Niño, ‘aliado’ ao aquecimento excessivo causado pelas mudanças climáticas, pode trazer ao mundo temperaturas recorde.
“Dependendo da sua força, o El Niño pode causar uma série de impactos, como aumentar o risco de chuvas fortes e períodos de seca em determinados locais do mundo”, garantiu a cientista do clima da NOAA Michelle L’Heureux. “As alterações climáticas podem exacerbar impactos relacionados com o El Niño. Por exemplo, pode provocar novos recordes de temperatura, principalmente em áreas que já estão sob temperaturas acima da média”, acrescentou.
Os especialistas estão também preocupados com o que está a acontecer no oceano: um El Niño significa que as águas do Pacífico Oriental estão mais quentes do que o normal – mesmo antes do início do fenómeno climático, em maio, a temperatura média global da superfície do mar era de cerca de 0,1°C mais alta do que qualquer outra já registada. “Estamos num território sem precedentes”, sustentou Michelle L’Heureux, meteorologista do Centro de Previsão Climática da NOAA.
Um estudo publicado na revista científica ‘Science’ revelou que o El Niño deste ano pode levar a perdas económicas globais de 3.000 mil milhões de dólares, sendo responsável pela redução do PIB conforme o clima extremo dizime a produção agrícola, a produção e ajude a espalhar doenças.
A Austrália alertou nesta semana que o El Niño trará dias mais quentes e secos a um país vulnerável a incêndios florestais ferozes, enquanto o Japão já disse que o El Niño, em formação, foi parcialmente responsável pela primavera mais quente já registada. Os investigadores acreditam que o fenómeno é acompanhado pelo deslocamento de massas de ar pelo globo, provocando alterações do clima em todo o mundo, como os verões excecionalmente quentes na Europa ou as secas em África.
E o que podemos esperar?
O El Niño é um padrão climático natural gerado pelas águas excecionalmente quentes do Pacífico Oriental. Forma-se quando os ventos alísios, que sopram de leste a oeste ao longo do Pacífico equatorial, diminuem ou revertem conforme a pressão do ar muda, embora os cientistas não tenham certeza do que inicia o ciclo. Como os ventos alísios afetam as águas superficiais aquecidas pelo sol, um enfraquecimento faz com que essas águas quentes do Pacífico ocidental voltem para as bacias mais frias do Pacífico central e oriental.
Durante o El Nino de 2015-16 – o evento mais forte já registado –, quase um terço dos corais da Grande Barreira de Coral da Austrália morreu. Este acumular de água quente no Pacífico Oriental também transfere calor para a atmosfera por convecção, gerando tempestades. “Quando o El Niño move aquela água quente, ele move-se onde as tempestades acontecem”, indicou o meteorologista da NOAA, Tom DiLiberto. “Esse é o primeiro dominó atmosférico a cair.”
Essa mudança na atividade das tempestades afeta a corrente de ar de fluxo rápido que move o clima em todo o mundo – chamada corrente de jato subtropical –, empurrando o seu caminho para o sul e endireitando-o num fluxo mais plano que oferece clima semelhante nas mesmas latitudes.
Historicamente, tanto o El Niño quanto o La Niña ocorreram em média a cada dois e sete anos, com o El Niño a durar entre 9 e 12 meses. O La Niña, que ocorre quando as águas estão mais frias no Pacífico Oriental, pode durar de um e três anos. Fonte: Sapo
Sem comentários:
Enviar um comentário