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terça-feira, 10 de novembro de 2020

o cantinho da ciência: ondas ou partículas?

 

Num campo de ténis as bolas eram lançadas continuamente. Mas algo inusitado estava a acontecer. Quando duas bolas chocavam frontalmente desapareciam num flash de luz. O contrário acontecia quando uma bola mais rápida alcançava outra. Do embate acontecia que se formava uma bola maior, com o dobro do tamanho. Quando o embate era lateral, algo mais estranho acontecia, as bolas passavam uma pela outra como se nada tivesse acontecido.

Na praia norte de Nazaré, na mesma altura, os surfistas estavam desconcertados. Não havia ondas gigantes. Ao contrário, havia uma confusão de ondas de mar. Sempre que uma delas, mesmo que fosse nas suas franjas, encontrava outra, ricocheteava noutra direção aumentando a confusão de ondas no mar, ora indo na direção paralela à costa, ora afastando-se da praia. Com o mar assim, era muito perigoso fazer surf. Até o McNamara , com a prancha debaixo do braço, olhava para o mar e mexia a cabeça em sinal de negação pelo que via.

Lembrava-se bem como era o mar, previsível, com uma onda atrás de outra, deslocando-se no mesmo sentido, para a praia. Era esse comportamento previsível que lhe permitia desafiá-lo em cima da prancha, essa enorme montanha de água prestes a desabar sobre si. Nesses momentos, deslocando-se velozmente sobre as águas revoltas, aproveitando o enorme desnível da superfície da onda, num misto de medo, fugindo do perigo, e alegria devido ao esforço e a previsível vitória, obtinha um êxtase aumentado por saber estar a ser observado, ao longe pelo público que jubilava com o seu feito. Era o justo herói do momento.

Ondas e corpúsculos. Não é necessário ter formação em ciência para as distinguir. Predispomo-nos de diferente modo quando as encaramos.

As ondas espalham-se no espaço. No mar, vemo-las a interferir umas com as outras, ora adicionando-se ora anulando-se. Na praia norte acontece uma interferência construtiva. A mesma onda tem dois percursos diferentes. Um, pela via normal, perpendicular à praia. Outro, no interior do mar, mais longo, encaminhado pelo canhão da Nazaré. Como o percurso deste último é mais longo acaba por encontrar a onda seguinte, adicionando-se uma à outra, resultando as ondas gigantes que conhecemos.

Numa onda não há transporte de matéria. Tal como num estádio, o público só levanta os braços quando os vizinhos de um dos lados, o baixam. No final, estão todos no mesmo sítio. Com partículas, nada disso acontece. Disputam o lugar nas colisões, não se misturam uns com os outros e por isso provocam o ricochete.

Tudo isto é o previsível e o lógico, não é?

Mas, a realidade está sempre a surpreender-nos.

Lá em baixo, na dimensão das partículas atómicas e subatómicas todo este comportamento se mistura, de modo que, para o mesmo objeto, compreendemos o seu comportamento ora como partícula ora como onda.

Por exemplo, os eletrões, tal como no campo de ténis, esse ínfimo corpúsculo, ora tem o comportamento de partícula, quando sabemos por onde passa, ora de onda quando não o sabemos.

                                                                                                                                                                         Sérgio Viana, professor

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