Num campo de ténis as bolas eram lançadas continuamente. Mas
algo inusitado estava a acontecer. Quando duas bolas chocavam frontalmente
desapareciam num flash de luz. O contrário acontecia quando uma bola mais
rápida alcançava outra. Do embate acontecia que se formava uma bola maior, com
o dobro do tamanho. Quando o embate era lateral, algo mais estranho acontecia,
as bolas passavam uma pela outra como se nada tivesse acontecido.
Na praia norte de Nazaré, na mesma altura, os surfistas
estavam desconcertados. Não havia ondas gigantes. Ao contrário, havia uma
confusão de ondas de mar. Sempre que uma delas, mesmo que fosse nas suas
franjas, encontrava outra, ricocheteava noutra direção aumentando a confusão de
ondas no mar, ora indo na direção paralela à costa, ora afastando-se da praia.
Com o mar assim, era muito perigoso fazer surf. Até o McNamara , com a prancha
debaixo do braço, olhava para o mar e mexia a cabeça em sinal de negação pelo que
via.
Lembrava-se bem como era o mar, previsível, com uma onda
atrás de outra, deslocando-se no mesmo sentido, para a praia. Era esse
comportamento previsível que lhe permitia desafiá-lo em cima da prancha, essa
enorme montanha de água prestes a desabar sobre si. Nesses momentos, deslocando-se
velozmente sobre as águas revoltas, aproveitando o enorme desnível da
superfície da onda, num misto de medo, fugindo do perigo, e alegria devido ao
esforço e a previsível vitória, obtinha um êxtase aumentado por saber estar a
ser observado, ao longe pelo público que jubilava com o seu feito. Era o justo
herói do momento.
Ondas e corpúsculos. Não é necessário ter formação em
ciência para as distinguir. Predispomo-nos de diferente modo quando as
encaramos.
As ondas espalham-se no espaço. No mar, vemo-las a
interferir umas com as outras, ora adicionando-se ora anulando-se. Na praia
norte acontece uma interferência construtiva. A mesma onda tem dois percursos
diferentes. Um, pela via normal, perpendicular à praia. Outro, no interior do
mar, mais longo, encaminhado pelo canhão da Nazaré. Como o percurso deste
último é mais longo acaba por encontrar a onda seguinte, adicionando-se uma à
outra, resultando as ondas gigantes que conhecemos.
Numa onda não há transporte de matéria. Tal como num
estádio, o público só levanta os braços quando os vizinhos de um dos lados, o
baixam. No final, estão todos no mesmo sítio. Com partículas, nada disso
acontece. Disputam o lugar nas colisões, não se misturam uns com os outros e
por isso provocam o ricochete.
Tudo isto é o previsível e o lógico, não é?
Mas, a realidade está sempre a surpreender-nos.
Lá em baixo, na dimensão das partículas atómicas e
subatómicas todo este comportamento se mistura, de modo que, para o mesmo
objeto, compreendemos o seu comportamento ora como partícula ora como onda.
Por exemplo, os eletrões, tal como no campo de ténis, esse ínfimo corpúsculo, ora tem o comportamento de partícula, quando sabemos por onde passa, ora de onda quando não o sabemos.
Sérgio Viana, professor
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