"Faltam tantos", constatou com melancolia um jovem cineasta belga que escolheu a inspiradora Bérgamo para viver e filmar. E recordou os primeiros passeios desconfinados pelo centro histórico. A dor das faltas misturava-se com a estupefacção: nas ruas, nas praças, nos cafés, nas livrarias, nas lojas e nas mercearias. Faltavam tantos, faltavam os velhos. Se agora lhe disserem que Bérgamo tem muitos imunizados para a segunda vaga e que os seus hospitais recebem doentes doutros lados, responderá: "pudera; já não há velhos para morrer".
Vem isto a propósito do comportamento inaceitável dos invencíveis e dos egoístas. Custa ouvir negacionistas ou defensores da redução da despesa com pensões. E não se argumente com imunidades de grupo nem com respostas autocratas para decisões de combate à pandemia: "é impossível, difícil ou exigente". Na democracia não há impossíveis. O que existiu foi desatenção política no ocidente na prevenção de pandemias (com saliência para a relação de Trump com as pandemias e com a OMS). Agora, não há políticas de ressuscitação dos mortos por covid-19 que já são 1,3 milhões no mundo. Resta aprender. Fazer o impossível no longo período que aí vem e com duas certezas: a pandemia terá fim e quando os sinos dobram fazem-no por cada um de nós. @ Correntes
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