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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

COVID-19: como animais usados para fabricar casacos de pele estão a colocar em causa as vacinas em desenvolvimento

 Usados na indústria de pele animal, os visons estão a tornar-se na mais recente preocupação na Europa por causa do seu papel na transmissão do coronavírus SARS-CoV-2. As vacinas em curso podem não ser eficazes na proteção contra as mutações identificadas em humanos relacionadas com estes animais.

Pelo menos seis países relataram surtos de coronavírus em criações de visons: Holanda, Dinamarca, Espanha, Suécia, Itália e Estados Unidos. Há indícios de que o novo coronavírus esteja a migrar destes mamíferos para seres humanos, através de uma nova variante do vírus (mutação) detetada em doentes na Dinamarca e encontrada previamente naqueles animais na Holanda.
Wim van der Poel, investigador em veterinária da Universidade de Wageningen, afirma que dados genéticos recolhidos na Holanda mostram um caso anterior desta mutação numa criação de visons no início de maio.
"Numa ocasião, observámos um vírus mutante, com uma mutação semelhante (à detetada na Dinamarca) na região codificadora da proteína spike, em visons na Holanda. Acreditava-se que esta variante do vírus não se tinha propagado para humanos e os visons da quinta em questão foram abatidos", disse em entrevista à radiotelevisão britânica BBC.
Um problema para as vacinas
Apesar de vários países na Europa proibirem a produção dos visons para fins relacionados com a indústria têxtil, a Dinamarca é líder neste setor em todo o mundo, tendo como principais importadores a China e Hong Kong. A Holanda é outra grande exportadora.
Após indícios de que humanos contraíram o novo coronavírus a partir de visons infetados, o governo da Dinamarca determinou um abate generalizado destes animais - mais de 17 milhões de espécimes foram sacrificados.
As mutações dos vírus são comuns, mas o que preocupa investigadores de todo o mundo são as mutações que permitem que o vírus passe de animais para humanos.
Há já centenas de casos de infeção em humanos relacionados com a mutação detetada em visons. Tal desconcerta cientistas e decisores públicos porque as alterações foram encontradas precisamente na proteína spike, que o vírus usa para se "ligar" às células humanas. Esta proteína tem sido o alvo fundamental das vacinas em estudo e, por isso, as mutações detetadas poderão pôr em causa a eficácia dos fármacos profiláticos em desenvolvimento.
À BBC, James Wood, da Universidade de Cambridge, recomenda alguma cautela. A criação de visons exige "mais ações de biossegurança (ou suspensão) neste momento".
Dirk Pfeiffer, do Colégio Real de Veterinária de Londres, explica que embora as mutações nos vírus ocorram frequentemente, a questão mais importante é se elas tornam as vacinas em curso ineficazes. "Nesta fase, parece que pode haver problemas com a eficácia da vacina, mas isso ainda não está evidente", adverte, referindo que é necessária uma vigilância efetiva para detetar o surgimento de novas formas do novo agente patogénico.
O Centro Europeu para Prevenção e Controlo de Doenças, uma agência da União Europeia, deverá publicar esta semana uma orientação sobre a disseminação do SARS-CoV-2 em criações de visons. @ Sapo

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