A psiquiatra Marta Gonçalves, coordenadora do Centro de Medicina do Sono do Hospital CUF Porto e certificada pela Sociedade Europeia de Investigação em Sono, explica o que se passa no corpo e no cérebro enquanto dormimos, o que pode prejudicá-lo e o que podemos fazer para melhorar a qualidade desse tempo.
Inimigos do bom dormir
O que fazer quando tantos de nós se veem privados do sono, sem respeitar o chamado “8x8x8” (tempo para dormir, trabalhar e fazer outras coisas durante a vigília)? As diferenças individuais contam: há quem se sinta bem a dormir sete a oito horas, outros precisam de menos, ou de mais, “cada um deve dormir o número de horas que o faz sentir melhor”. Quando tal não é possível, compensar o sono perdido é recomendável, como, de resto, sucede com os jovens, ao fim-de-semana.
Estudos mostram que atrasar o início das aulas uma hora no início das aulas produz melhorias significativas no rendimento.
O problema passa, em muitos casos, pelo horário escolar: “Estudos mostram que atrasar o início das aulas uma hora no início das aulas produz melhorias significativas no rendimento.” Esta questão diz sobretudo respeito aqueles cujo ritmo biológico os leva a deitar-se mais tarde e a acordar também mais tarde, mas não é exclusiva dos jovens.
A privação de sono e o mau dormir são uma realidade que, infelizmente, quase todos conhecemos e que se manifesta em problemas de saúde, agravando o risco de “patologias cardiovasculares, diabetes, perturbações depressivas e ansiosas”, além de “provocar alterações no sistema imunológico e hormonais, que contribuem para a obesidade”.
Menos medicação, mais higiene do sono
Respeitar o relógio biológico é uma das melhores coisas que podemos
fazer para debelar problemas neste campo, mas atenção: “O sono não acontece por
encomenda e fazer pressão para que chegue só aumenta a ansiedade e o estado de
alerta.” Ou seja, ir mais cedo para a cama do que é habitual é
contraproducente. Se ele não vem ou se desperta e não volta a adormecer, a
solução passa por “sair do quarto, ler ou ver um filme, pode ser preferível do
que forçar porque se decidiu que tem de ser e não se está a dormir nada”. Como
bem sabe que já passou por isto, “não se adormece quando se está ansioso, ou a
ver as horas durante a noite”, como acontece quando se tem insónia intermédia
(acordar várias vezes durante a noite)”.
Há muita medicação hipnótica para a insónia que não resolve o
problema a longo prazo, é preciso atuar a outros níveis
Evitar estimulantes, como o café e as colas, é um favor que podemos fazer a nós mesmos. Outro, é a prática de exercício físico, “nem que seja uma caminhada diária, porque ajuda muito na redução da ansiedade e do estado de hiperalerta”. E, já agora, cultivar atividades que deem prazer, da dança ao andar de bicicleta, na medida em que “promovem a tão necessária atividade física e ajudam a desligar”.
Quanto ao uso de medicamentos, Marta Gonçalves assume: “Há muita medicação hipnótica para a insónia que não resolve o problema a longo prazo, é preciso atuar a outros níveis”, seja reduzindo na ansiedade por meios naturais ou técnicas cognitivo-comportamentais, ou prescrevendo fármacos antidepressivos em vez dos hipnóticos, quando a insónia tem relação com quadros depressivos. Em síntese, mudar crenças e comportamentos é a via para dormir melhor. @ Sapo
2 comentários:
Artigo muito interessante. A falta de sono é altamente incapacitante e condicionadora de uma vida de qualidade e produtiva.
Verdade!
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