As escolas estão a receber cada vez mais computadores avariados que se vão amontoando em espaços improvisados, porque já estão fora da garantia e faltam técnicos informáticos que os possam arranjar, alertaram diretores.
No
Agrupamento de Escolas Cego do Maio, no Porto, estão armazenados “mais de 70
computadores avariados”, contou à Lusa o diretor Arlindo Ferreira, mostrando
fotografias de dezenas de mochilas amontoadas em prateleiras à espera de uma
solução.
O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares
(ANDE), Manuel Pereira, garantiu que este é um problema nacional: “Todos nós
temos computadores já fora da garantia e há cada vez mais a avariar. Os
computadores são cedidos pelo ministério e, quando não funcionam, os pais
dirigem-se às escolas”.
Manuel Pereira, que é também diretor do Agrupamento General
Serpa Pinto, em Cinfães, estima ter entre “30 a 40 computadores guardados nos
sítios mais caricatos”.
No Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia,
há outras três dezenas, segundo uma estimativa do diretor Filinto Lima, que é
também presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas
Públicas (ANDAEP).
Muitos destes equipamentos já perderam a garantia, sublinharam
os diretores com quem a Lusa falou, lembrando que os primeiros ‘kits’ entregues
aos alunos tinham uma garantia de dois anos, que terminou em 2022 e “os
equipamentos da Fase 2 tinham uma garantia que acabou em abril 2023”, disse
Arlindo Ferreira.
Fora da garantia, o custo do arranjo passa para as famílias que,
muitas vezes, se recusam a pagar. Uma professora contou à Lusa o caso de um
aluno que recebeu um computador e, passados poucos dias, a bateria deixou de
funcionar: “Não foi mau uso e o pai sentiu que não deveria ser ele a pagar, uma
vez que o equipamento deixou de funcionar logo após lhe ter sido entregue”.
O presidente da ANDE, que fez questão de salientar a importância
do projeto de digitalização das escolas, defende que as garantias dos equipamentos
deveriam ser alargadas e as escolas deveriam ter mecanismos que permitissem
resolver rapidamente estes problemas.
À Lusa, a presidente da Associação
Nacional de Professores de Informática (ANPRI) corrobora que há “casos de
portáteis avariados que neste momento já não estão no prazo de validade da
garantia” e que “as escolas aguardam indicações sobre como proceder”.
Arlindo Ferreira garantiu que a
situação já foi reportada ao Ministério da Educação, que prometeu “uma extensão
das garantias, mas até hoje ainda não aconteceu nada”.
Para os diretores, a falta de técnicos informáticos nas escolas também
agrava o problema. Filinto Lima defendeu que a solução deveria passar por ter
“um técnico informático em cada escola, para despistar pequenas avarias e
evitar enviar para arranjo numa empresa”.
Quando os computadores perderam a garantia e as famílias se recusam a pagar
o arranjo, algumas escolas arriscam e abrem os equipamentos na esperança de os
conseguir arranjar, contou à Lusa uma professora.
“A escola não tem técnicos e, muitas vezes, é graças à carolice de uns
professores e funcionários que conseguimos arranjar alguns computadores”,
disse, explicando que evitam enviar para as empresas porque depois “ficam lá
presos, os orçamentos são volumosos e os pais acham que não se justificam”.
“Também existem casos de alguns computadores avariados que foram enviados
para os fornecedores e demoram a ser devolvidos”, acrescentou a presidente da
ANPRI, Fernanda Ledesma.
Questionado pela Lusa sobre a não renovação das garantias caducadas, o
Ministério da Educação referiu apenas que “na medida em que os equipamentos
foram adquiridos em diferentes momentos, a vigência das garantias também é
variável". Fonte: Sapo