“Pode-se pensar na imunoterapia como um pró-fármaco”, referiu Susan Kaech, coautora sénior do artigo e diretora do Centro NOMIS de Imunologia e Patogénese Microbiana, em declarações à revista ‘Newsweek0. “Usa o sistema imunológico adaptativo do seu corpo para combater o tumor.”
Em relação à quimioterapia tradicional, a imunoterapia tem vários
benefícios importantes. “É um kit de ferramentas versátil e altamente
diversificado”, referiu Kaech. “Embora certamente haja efeitos colaterais, a
imunoterapia é, em geral, menos tóxica em comparação à quimioterapia e mais
fácil de ser tratada pelo paciente. A diferença mais importante, porém, é que,
como a imunoterapia provoca uma resposta imune adaptativa ao tumor, os
pacientes podem desenvolver uma memória imunológica de longo prazo para tumores
recorrentes.”
No entanto, a imunoterapia não funciona para todos. “A imunoterapia pode
ser muito eficaz mas geralmente só funciona numa minoria de pessoas. Não está
claro quais são as razões para isso”, referiu Payam Gammage, professor sénior e
especialista em oncogenética mitocondrial na Universidade de Glasgow, na
Escócia. “É uma área realmente interessante e muitas pessoas estão a tentar
encontrar maneiras diferentes de fazer a imunoterapia funcionar em mais
pessoas.”
Um indicador para saber se um paciente vai responder à imunoterapia é o
estado de suas mitocôndrias – as centrais de produção de energia da célula. “Se
se pegar nos pacientes e estratificá-los de acordo com o facto de terem ou não
deficiências mitocondriais no tumor, essa é uma maneira muito poderosa de
prever quem responderá ou não à imunoterapia”, indicou Gammage..
“As mitocôndrias desempenham um papel multifacetado no cancro, ao contrário
do que apontavam algumas ideias iniciais de que são desligadas e redundantes
para o desenvolvimento do cancro”, avançou Tom MacVicar, especialista em
reprogramação mitocondrial no cancro da Universidade de Glasgow. “Por exemplo,
impulsionam a biossíntese de macromoléculas (como gorduras e os blocos de
construção do ADN) que são essenciais para o crescimento e proliferação de
células cancerosas. São também importantes para a sobrevivência das células
cancerígenas em microambientes adversos e em resposta à terapêutica anticancro.
Regulam o equilíbrio interno das células, vias de morte celular, vias inflamatórias,
entre outras.”
No novo estudo, pretendeu-se “entender melhor como os tumores adquirem o
estado metabólico que lhes dá uma vantagem de crescimento, bem como a
capacidade de escapar do sistema imunológico”, referiu Kaech. No entanto, o que
encontraram foi totalmente inesperado. “A principal descoberta do nosso artigo
foi acidental”, referiu a especialista. Os cientistas reconectaram as
mitocôndrias para restringir o fluxo de energia através do seu maquinário
molecular interno, o que resultou no acumular de um metabólito chamado
succinato.
Aumentando a concentração de succinato na célula, os investigadores
conseguiram aumentar a expressão de certos genes envolvidos na conversa cruzada
com o sistema imunitário. Assim, conforme as células do sistema imunológico
‘patrulham’ os nossos corpos, exibem uma série de moléculas na sua superfície
que atuam como uma espécie de identificação molecular para indicar que estão
saudáveis. Assim, o succinato permite que haja mais amostras feitas no interior
da célula, o que torna mais provável a deteção pelo sistema imunológico de
alguma mutação duvidosa numa célula. Ou seja, torna mais difícil para as
células tumorais escaparem ao sistema imunológico.
“Essas mudanças subtis basicamente transformam o tumor em algo que pode ser reconhecido pelo sistema imunológico”, lembrou Kaech, “o que pode ter um grande impacto no campo da imunoterapia”. Embora seja necessário mais trabalho para traduzir estas descobertas na prática clínica, a descoberta ofereceu um novo e excitante caminho para futuras soluções de tratamento. Fonte: Sapo
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