O planeta poderá atingir os 1,5°C de aquecimento acima dos valores da era pré-industrial antes de 2030 se não houver reduções rápidas de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), indica um estudo hoje divulgado.
Publicado
na revista “Nature Climate
Change”, o estudo adverte que, por volta de 2029, sem reduções de
emissões de dióxido de carbono (CO2), há 50% de hipótese de se registar um
aquecimento superior a 1,5°C em relação à época pré-industrial, um valor que
foi estabelecido no Acordo de Paris sobre o clima, como limite que não deve ser
ultrapassado por ter consequências nefastas no planeta e nos seus habitantes.
Conduzido por investigadores da universidade britânica “Imperial
College London”, o estudo faz uma análise atualizada e exaustiva do orçamento
global do carbono, que é uma estimativa da quantidade de emissões de CO2 que
podem ser libertadas mantendo o aquecimento global abaixo de determinados
limites de temperatura.
No documento estima-se que para que haja 50% de hipóteses de
limitar o aquecimento a 1,5°C, restam menos de 250 gigatoneladas de CO2 no
orçamento global de carbono. Se as emissões se mantiverem como em 2022, cerca
de 40 gigatoneladas, o orçamento esgota-se em 2029, levando a um aquecimento
global acima dos 1,5°C.
Para uma hipótese de limitar o aquecimento a 2°C o orçamento é
de aproximadamente 1.200 gigatoneladas, pelo que com as emissões aos níveis
atuais o orçamento esgotar-se-ia em 2046.
Robin Lamboll, investigador do Centro de Política Ambiental da
universidade e principal autor do estudo, afirmou, citado no documento de
divulgação: "A nossa descoberta confirma o que já sabemos - não estamos a
fazer o suficiente para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C”.
Alertando que a margem é agora muito pequena, o investigador frisou que as estimativas apontam para menos de uma década de emissões aos níveis atuais, concluindo: “A falta de progressos na redução das emissões significa que podemos ter cada vez mais a certeza de que a janela para manter o aquecimento a níveis seguros está a fechar-se rapidamente".
No documento nota-se que tem havido muitas incertezas no cálculo do orçamento do carbono devido à influencia de outros fatores e de outras emissões que não só CO2, afirmando-se que o atual estudo usou modelos melhorados e metodologia reforçada, conduzindo a projeções sobre as reações do clima ao zero líquido, quando houver um equilíbrio entre as emissões globais e as emissões eliminadas (neutralidade carbónica).
Os
investigadores dizem que é possível que o clima continue a aquecer devido a
efeitos como a fusão do gelo, a libertação de metano e as alterações na
circulação oceânica.
No entanto, os sumidouros de carbono, como o aumento do
crescimento da vegetação, poderão também absorver grandes quantidades de
dióxido de carbono, conduzindo a um arrefecimento das temperaturas globais
antes de se atingir o zero líquido.
Incertezas que, diz Robin Lamboll, realçam ainda mais a necessidade urgente de redução rápida de emissões. Fonte: Sapo
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