No ano letivo 1973/74 estava a frequentar o 2.º
ano do Ciclo Preparatório numa secção da escola Pires de Lima, que se situava
na Rua D. João IV. Nessa altura ia de trólei até ao Bolhão e depois tinha um
percurso de 15 minutos a pé até à escola. A conselho da minha mãe, sentava-me no
trólei, sempre que podia, no lugar da frente junto ao motorista, para ver
melhor a paragem e não me perder... Ainda não tinha 12 anos.
Nessa manhã não houve aulas. Uma funcionária
da escola informou-nos que havia um golpe de estado (sabia lá o que isso
era!) e que as nossas mães, sempre elas, nos viriam buscar. O tempo foi
passando, todas as minhas colegas tinham ido embora com as respetivas mães, e a
minha que não chegava! Senti-me abandonada e só me apetecia chorar. Quando
finalmente a minha mãe chegou, senti um desejo enorme de a abraçar. Viemos de
táxi para casa. Meu pai, que trabalhava em frente a um quartel em Arca de Água,
telefonara à minha mãe recomendando que fosse buscar a "nossa
menina", e que não saíssemos de casa pois algo se estava a passar, uma vez
que o quartel estava de prevenção.
E a televisão não parava de passar imagens.
Lembro-me bem dos comunicados do MFA, apelando à serenidade das pessoas, das
imagens transmitidas pela televisão do Largo do Carmo, em Lisboa, da rendição
de Marcelo Caetano e Américo Tomás desterrados para a Madeira. Lembro-me,
também, que tive tanta pena do velhinho... eu até tinha ido, dois anos antes,
de batinha branca, lançar-lhe flores, quando ele veio inaugurar uma escola
primária. Isto não se fazia ao velhinho!
Mas, a pouco e pouco fui-me apercebendo do que
se estava a passar. Na rádio, ouviam-se músicas revolucionárias de cantores de
intervenção. Como gostava das músicas que ouvia!!! E as letras das canções começaram a fazer muito sentido. Afinal, não vivíamos num conto de fadas, como
eu pensava, muito pelo contrário.No pós-25 de Abril, havia debates de quatro
horas que agarravam os portugueses em casa, às televisões a preto e branco
(para quem as tinha) ou dos cafés. Assisti, com entusiasmo, a muitos desses
longos debates televisivos e comecei a interessar-me por política. E é curioso
que agora, que há muito mais escolarização, há muito menos politização. Parece
que se desistiu de politizar os jovens. E que pena tenho disso! Ainda me
recordo do debate Mário Soares/Álvaro Cunhal. Para a história desse debate fica
a célebre frase de Álvaro Cunhal que, passados 45 anos, continua bem presente:
“Olhe que não, doutor, olhe que não”.
Lembro-me das grandes manifestações que se
faziam e de algumas frases que se ouviam, nomeadamente, "O povo unido
jamais será vencido!", "O povo é quem mais ordena" e "25 de
Abril, sempre!".
Passados 50 anos, estou grata aos militares de
Abril e deixo esta frase que li recentemente e que me fez pensar "Plantaram em nós a Liberdade, não a deixemos morrer!"
Helena Coelho (professora de Matemática)
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