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sexta-feira, 12 de abril de 2024

desafio: "onde estava no 25 de abril (de 1974)?" (13)


No ano letivo 1973/74 estava a frequentar o 2.º ano do Ciclo Preparatório numa secção da escola Pires de Lima, que se situava na Rua D. João IV. Nessa altura ia de trólei até ao Bolhão e depois tinha um percurso de 15 minutos a pé até à escola. A conselho da minha mãe, sentava-me no trólei, sempre que podia, no lugar da frente junto ao motorista, para ver melhor a paragem e não me perder... Ainda não tinha 12 anos.

Nessa manhã não houve aulas. Uma funcionária da escola informou-nos que havia um golpe de estado (sabia lá o que isso era!) e que as nossas mães, sempre elas, nos viriam buscar. O tempo foi passando, todas as minhas colegas tinham ido embora com as respetivas mães, e a minha que não chegava! Senti-me abandonada e só me apetecia chorar. Quando finalmente a minha mãe chegou, senti um desejo enorme de a abraçar. Viemos de táxi para casa. Meu pai, que trabalhava em frente a um quartel em Arca de Água, telefonara à minha mãe recomendando que fosse buscar a "nossa menina", e que não saíssemos de casa pois algo se estava a passar, uma vez que o quartel estava de prevenção.

E a televisão não parava de passar imagens. Lembro-me bem dos comunicados do MFA, apelando à serenidade das pessoas, das imagens transmitidas pela televisão do Largo do Carmo, em Lisboa, da rendição de Marcelo Caetano e Américo Tomás desterrados para a Madeira. Lembro-me, também, que tive tanta pena do velhinho... eu até tinha ido, dois anos antes, de batinha branca, lançar-lhe flores, quando ele veio inaugurar uma escola primária. Isto não se fazia ao velhinho!

Mas, a pouco e pouco fui-me apercebendo do que se estava a passar. Na rádio, ouviam-se músicas revolucionárias de cantores de intervenção. Como gostava das músicas que ouvia!!! E as letras das canções começaram a fazer muito sentido. Afinal, não vivíamos num conto de fadas, como eu pensava, muito pelo contrário.

No pós-25 de Abril, havia debates de quatro horas que agarravam os portugueses em casa, às televisões a preto e branco (para quem as tinha) ou dos cafés. Assisti, com entusiasmo, a muitos desses longos debates televisivos e comecei a interessar-me por política. E é curioso que agora, que há muito mais escolarização, há muito menos politização. Parece que se desistiu de politizar os jovens. E que pena tenho disso! Ainda me recordo do debate Mário Soares/Álvaro Cunhal. Para a história desse debate fica a célebre frase de Álvaro Cunhal que, passados 45 anos, continua bem presente: “Olhe que não, doutor, olhe que não”. 

Lembro-me das grandes manifestações que se faziam e de algumas frases que se ouviam, nomeadamente, "O povo unido jamais será vencido!", "O povo é quem mais ordena" e "25 de Abril, sempre!".

Passados 50 anos, estou grata aos militares de Abril e deixo esta frase que li recentemente e que me fez pensar "Plantaram em nós a Liberdade, não a deixemos morrer!"

Helena Coelho (professora de Matemática)

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