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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

"este inverno vai ser uma prova de fogo para a sociedade portuguesa"

Presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública diz que será teste para passar a viver com a covid-19. No Dia do SNS, aponta prioridades ao novo ministro.

A Organização Mundial de Saúde anuncia que o fim da pandemia está à vista, mas que não é altura de baixar a guarda: vacinar grupos vulneráveis antes do inverno, incluindo profissionais de saúde idosos, pode evitar mais mortes, disrupção e incerteza. Gustavo Tato Borges, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, fala das expectativas para os próximos meses e defende cuidados a ter no regresso às aulas, desta vez sem medidas covid-19 nas escolas. Defende que o isolamento de cinco dias deve continuar a ser respeitado, assim como o uso de máscara quando se vai à escola e trabalhar e se esteve em contacto com alguém infetado. Faltam orientações? Falta sobretudo sensibilização depois de um verão em que a guarda baixou no geral, o que a repetir-se nos meses de mais infeções respiratórias pode trazer “dissabores”, diz. Em dia de aniversário do Serviço Nacional de Saúde – criado oficialmente a 15 de setembro de 1979 –, aponta prioridades para o novo ministro da Saúde e fala de problemas estruturais que têm sido pouco discutidos, da falta de meios na Direção Geral da Saúde ao papel da linha SNS24 para lá da pandemia.

As aulas estão a começar sem medidas para a covid-19. O que esperar nas próximas semanas? Vemos por exemplo casos de crianças a testar positivo ainda durante as férias, depois de festas.

Estamos com uma situação epidemiológica muito tranquila em termos de mortalidade e internamentos, portanto nesta fase diria que é normal e aceitável não haver nenhuma medida específica para as escolas, até porque não existe uma medida específica para lado nenhum a não ser para os lares e unidades de saúde, onde à partida estão efetivamente as pessoas mais vulneráveis. É natural e compreensível que o ano letivo comece sem nenhuma medida, mas isso não quer dizer que os pais e os alunos devam negligenciar ou esquecer-se de que esta doença e esta pandemia ainda continuam a existir e que ainda podem trazer algum dissabor.

Parece-lhe que existe essa sensibilização ou que se atingiu um ponto de cansaço em relação à covid-19 e medidas de proteção?

Aquilo que acabamos por sentir, não só nós médicos de saúde pública mas os profissionais de saúde em geral, é que há uma boa parte da população que considera que a covid-19 já não é um problema. Que esta variante é muito ligeira e que não temos de nos preocupar com esta doença. Não é bem assim por isso temos de continuar a passar a informação de que esta é uma doença que pode causar mortes e que por isso precisamos de ter alguns cuidados. É importante que se perceba que não se pretende instalar o alarme ou o pânico, mas que as pessoas estejam atentas a si e aos seus familiares diretos para que possam agir o mais depressa possível. Até à pandemia as doenças respiratórias virais foram sempre encaradas como doenças secundárias, sem grandes problemas.

Defende então que se mantenham os cinco dias de isolamento em caso de teste positivo.

Para já, sim. A partir do momento em que verificarmos que a situação não é tão preocupante, acredito que a DGS a deixe cair porque as doenças que atualmente obrigam a evicção nomeadamente escolar são doenças com impacto sério nas crianças e não acredito que a covid-19 venha a integrar esta lista.

Mas antecipa que essa mudança possa acontecer este inverno?

A menos que haja uma decisão governamental em sentido contrário, penso que este inverno iremos manter as atuais medidas, podendo até aumentá-las se infelizmente houver uma situação de sobrecarga hospitalar e aumento de mortalidade significativa. Penso que este outono/inverno nos permitirá perceber o que fazer daqui para a frente. Janeiro será em princípio o mês do veredicto. @ Sapo

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